O Carandiru aéreo
por Josias de Souza
A queda do avião da Gol causou mais mortes (154) que os 111 do Carandiru. Mas, ao contrário do que aconteceu no presídio paulista, a responsabilidade por este crime fica diluída nas dobras de um poder público imensamente ineficiente.
Primeiro, culpou-se os pilotos do Legacy, que eram estrangeiros, ainda por cima norte-americanos, os suspeitos usuais em qualquer problema que ocorra na América Latina, tenham ou não qualquer tipo de culpa.
Depois, o foco passou para os controladores de vôo. Digamos que tenham de fato errado. São culpados? Ou culpada é uma administração que forçou-os a trabalhar fora das normas e padrões internacionalmente aceitos? Fala-se de controladores que "pilotavam" 20 aviões simultaneamente, quando o limite normal é 14.
É preciso uma defensora do consumidor como Maria Inês Dolci, na Folha de ontem, para apontar o dedo para o verdadeiro culpado: "O desvio das verbas para segurança aérea, a partir de 2003, já sob o domínio do "nunca ninguém jamais". Refiro-me aos R$ 286,5 milhões efetivamente empregados no programa de proteção ao vôo até agora, dos R$ 531,7 milhões previstos para este ano".
Posto de outra forma, o governo gastou a metade do que deveria gastar para proteger a vida dos passageiros de aviões. Não consta, por exemplo, que tenha gastado só a metade do que deveria gastar para pagar os credores da dívida pública.
Natural: a vida humana, neste governo como em anteriores, vale menos que a bolsa. O pior é que, se se encontrou a caixa-preta do avião da Gol, a caixa-preta que é a forma de operar do governo no Brasil continua escondida. É preciso um Carandiru aéreo para que fiquemos sabendo que, cada vez que um avião voa pelos céus do Brasil, seus passageiros correm risco de vida.
Josias de Souza, nascido em 1962, é jornalista desde 1984. Trabalha na Folha de S.Paulo há 20 anos. Nesse período, ocupou diferentes funções, de repórter a Secretário de Redação do jornal. Hoje, é colunista da Folha. Publicou em 1994 o livro "A História Real" (Editora Ática), em co-autoria com Gilberto Dimenstein. O trabalho revela os bastidores da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2001, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de "Os Papéis Secretos do Exército".
por Josias de Souza
A queda do avião da Gol causou mais mortes (154) que os 111 do Carandiru. Mas, ao contrário do que aconteceu no presídio paulista, a responsabilidade por este crime fica diluída nas dobras de um poder público imensamente ineficiente.
Primeiro, culpou-se os pilotos do Legacy, que eram estrangeiros, ainda por cima norte-americanos, os suspeitos usuais em qualquer problema que ocorra na América Latina, tenham ou não qualquer tipo de culpa.
Depois, o foco passou para os controladores de vôo. Digamos que tenham de fato errado. São culpados? Ou culpada é uma administração que forçou-os a trabalhar fora das normas e padrões internacionalmente aceitos? Fala-se de controladores que "pilotavam" 20 aviões simultaneamente, quando o limite normal é 14.
É preciso uma defensora do consumidor como Maria Inês Dolci, na Folha de ontem, para apontar o dedo para o verdadeiro culpado: "O desvio das verbas para segurança aérea, a partir de 2003, já sob o domínio do "nunca ninguém jamais". Refiro-me aos R$ 286,5 milhões efetivamente empregados no programa de proteção ao vôo até agora, dos R$ 531,7 milhões previstos para este ano".
Posto de outra forma, o governo gastou a metade do que deveria gastar para proteger a vida dos passageiros de aviões. Não consta, por exemplo, que tenha gastado só a metade do que deveria gastar para pagar os credores da dívida pública.
Natural: a vida humana, neste governo como em anteriores, vale menos que a bolsa. O pior é que, se se encontrou a caixa-preta do avião da Gol, a caixa-preta que é a forma de operar do governo no Brasil continua escondida. É preciso um Carandiru aéreo para que fiquemos sabendo que, cada vez que um avião voa pelos céus do Brasil, seus passageiros correm risco de vida.
Publicado no blog "Josias de Souza".
Sábado, 04 de novembro de 2006.
CAOS PARA TODOS
por Walter Carrilho
A crise nos aeroportos é uma prova de que a democracia tem sempre uma forma de equalizar as coisas. Se não dá para melhorar para todo mundo, então que seja uma merda para todos. O que está acontecendo na aviação é a mesma trolha que aconteceu com o transporte urbano. Começa assim mesmo: o sistema oficial não dá conta, então surgem os clandestinos. Em breve veremos Constellations e DC3s voando baixo de porta aberta com cobradores batendo na lataria: “São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Manaus, aceita passe! Vambora gente!”
Não teremos mordomias como aeromoças que serão futuras modelos da Playboy. Muito menos as refeições de bordo. Mas teremos aqueles infalíveis vendedores ambulantes prestando um serviço aos viajantes: “Senhores passageiros, desculpem incomodar, eu podia estar roubando, mas estou aqui trabalhando. Eu tenho aqui as sensacionais barrinhas de cereal da Nestlé nos deliciosos sabores...” Teremos sindicatos de aviadores clandestinos, alguns assassinatos de líderes do setor...
Será a glória! Nas estradas, nas ruas, nos portos e nos céus, um único padrão nacional de transporte: a mesma bela merda!
Publicado no blog Walter Carrilho - Jornalismo Boçal.
Sexta-Feira, 03 de novembro de 2006.
por Walter Carrilho
A crise nos aeroportos é uma prova de que a democracia tem sempre uma forma de equalizar as coisas. Se não dá para melhorar para todo mundo, então que seja uma merda para todos. O que está acontecendo na aviação é a mesma trolha que aconteceu com o transporte urbano. Começa assim mesmo: o sistema oficial não dá conta, então surgem os clandestinos. Em breve veremos Constellations e DC3s voando baixo de porta aberta com cobradores batendo na lataria: “São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Manaus, aceita passe! Vambora gente!”
Não teremos mordomias como aeromoças que serão futuras modelos da Playboy. Muito menos as refeições de bordo. Mas teremos aqueles infalíveis vendedores ambulantes prestando um serviço aos viajantes: “Senhores passageiros, desculpem incomodar, eu podia estar roubando, mas estou aqui trabalhando. Eu tenho aqui as sensacionais barrinhas de cereal da Nestlé nos deliciosos sabores...” Teremos sindicatos de aviadores clandestinos, alguns assassinatos de líderes do setor...
Será a glória! Nas estradas, nas ruas, nos portos e nos céus, um único padrão nacional de transporte: a mesma bela merda!
Publicado no blog Walter Carrilho - Jornalismo Boçal.
Sexta-Feira, 03 de novembro de 2006.
http://bootlead.blogspot.com
Controladores
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