Wednesday, November 21, 2007

PT: A síndrome fascista!










































A IRRESISTÍVEL SEDUÇÃO DO TERCEIRO MANDATO
por Arnaldo Jabor

Um país é como uma pessoa. Tem traumas infantis, tiques nervosos, tem doenças genéticas e até venéreas. Há pessoas expansivas, transparentes, ingênuas. Há pessoas dissimuladas, que disfarçam bem suas perversões. Um país pega os cacoetes de seus políticos que, por sua vez, usam os cacoetes antigos do país e isso vai numa corrente viciosa, fazendo a história andar, tortamente, através de acasos, de acidentes de percurso, de neuroses tradicionais, muito além de "relações de produção" ou de "blocos históricos".

Lula sabe usar muito bem nossa ignorância política, fingindo até participar dela, logo ele, um Maquiavel do ABC, como acabou de fazer na defesa de Chávez, o fascista da Venezuela, misturando ditadura com parlamentarismo, de propósito, para confundir a "massa".

O governo Lula tem a destreza de usar toda nossa deficiência mental, os vícios antigos que a Colônia nos legou, para seu proveito. A ignorância do povão analfabeto e a desinformação confusa da classe média são seus principais instrumentos de poder. Somos um povo que reclama, mas sem massa crítica, com rasa formação política.

A estranha ideologia do lulo-sindicalismo está corrompendo o Legislativo e a opinião pública sem mexer, claro, na superestrutura financeira do País – Lula agindo como um Napoleão III do sertão. Ele se coloca como que "acima" da política, essa coisa "menor", pairando num "bonapartismo molenga" que trabalha na desmoralização da democracia representativa. Isso é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos aliados (nunca a voracidade corrupta do Atraso foi tão grande como agora) e uma preparação para um lento "chavismo light".

Como sabemos, o PMDB é a cara do Brasil. O Brasil é um PMDB. E nesse mar, com seus partidinhos periféricos, Lula navega em direção ao terceiro mandato.

A "grande aliança", que abençoa todos os vícios do Parlamento, teve um efeito desmobilizador das oposições. Quanto mais vergonhoso o Parlamento, melhor para ele. Lula lucra com episódios como o de Renan no Senado.

Não é que a oposição (O vago PSDB e o pálido DEM?) foi destruída por um ataque direto. Não. Ela está sendo desossada, engolida por uma maré venenosa de alianças corruptas, de conformismo, de obediência, de oportunismos atendidos. A oposição sumiu como uma pedra que afunda no meio de um terreno que apodrece em volta.

O lulo-sindicalismo cria aos poucos uma moleza na sociedade civil que, como não há crise econômica, vai perdendo a clareza de opiniões. É o chamado "efeito desalento": a sensação de que tudo é "assim mesmo no Brasil", que não adianta reclamar nem denunciar nada. Todo o espírito reformista que houve no período FHC (sabotado pelo PT implacavelmente), e mesmo o ar de militância popular que o primeiro Lula ainda tinha, tudo virou uma sopa morna de "fracassomania" que está deprimindo o País, de volta aos velhos tempos do "isto não tem mais jeito". O governo Lula nos anestesia politicamente. Assistimos, por exemplo, impotentes, à recauchutagem de todo o esquema de corrupção do Ministério das Minas e Energia, do escândalo Gautama (lembram?), pois o PMDB não pode ficar fora de um orçamento de 260 bilhões de reais para os próximos dois anos. Esperam passar um tempo e voltam todos.

Outra descoberta do lulo-sindicalismo é o "efeito da confusão proposital de informações". Como é difícil a leitura da complexidade administrativa do País, nada se explicita para a população. Na crise aérea tem sido assim, na listagem real das obras do governo, de projetos administrativos. A idéia de reformar, essencial no País, é jogada para ???córner, e os portos, estradas, gargalos, burocracia, tudo fica intocado, dissimulado pelo marketing, com ministros anunciando obras nem começadas (transposição do Rio São Francisco, por exemplo), nada sendo feito, mas tudo sendo anunciado, pois descobriram, maravilhados, que mesmo sem sair coisa alguma do papel, basta a divulgação. Listem-me, por favor, obras concretas do governo, além do Bolsa-Cabresto. Onde está o PAC? Como não há crise econômica, a pasmaceira política da população tem uma sensação de "normalidade".

O governo Lula tem o álibi de ser um governo "do povo". Assim ele pensa, assim pensam os empregados públicos na máquina, assim pensam os intelectuais dualistas. O discurso oficial ideológico é um sarapatel de idéias. É uma cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo leninista, que cruzou com o germe do sindicalismo oportunista, com o stafilococus do populismo pós-getulista, formando um novo tipo de micróbio que, com a baixa imunidade da democracia representativa, se espalha de forma letal.

Em cima desse álibi, tudo pode ser justificado: o "mensalão" foi chato, mas "os fins justificavam os meios, pois assim funciona o sistema burguês", a morte dos prefeitos foi "inevitável" para o bem do Partido, as alianças mais sujas são um "mal necessário" e vejo até uma certa volúpia revolucionária (quase sexual) em se aliar com o oposto do que se proclama, volúpia visível por exemplo, com Lula e Edir Macedo unidos e o súbito ardor indignado de Lula defendendo Chávez contra o "rei", pois o rei teria conotações de ancien regime, ecos franquistas, apesar do infinito progresso e felicidade da Espanha atual.

Creio que neste discurso de Lula se inicia uma nova etapa, em direção a uma provável tentativa de terceiro mandato, apesar de todas as denegações que, como sabemos, são o avesso da afirmação de um desejo. Claro que Lula não é o psicopata da Venezuela, mas dá para ver indícios de que as frestas da democracia serão usadas para, aos poucos, com jeitinho brasileiro, se atingir a continuidade. O PMDB está aí para isso. É difícil acreditar que o DNA dos sindicalistas se modifique e abra mão da estabilidade nos nichos onde se infiltraram. Sem oposição visível, é difícil imaginar que Lula resista a essa tentação. Ainda há três anos.



Arnaldo Jabor, carioca nascido em 1940, é cineasta e jornalista, também já foi técnico de som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens. Na década de 90, por força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional, Jabor foi obrigado a procurar novos rumos e encontrou no jornalismo o seu ganha-pão. Estreou como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde levou para a TV Globo, no Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil e na Rádio CBN. O estilo irônico e mordaz com que comenta os fatos da atualidade brasileira foi decisivo para o seu grande sucesso junto ao público. Arnaldo Jabor também é colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”, além de escrever regularmente para diversos outros jornais do Brasil.




Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo".
Terça-feira, 20 de novembro de 2007.


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