Tuesday, August 25, 2009

Políticos brasileiros: Só pendurando-os no "varal"!






























Aprendemos de cabeça para baixo
por Arnaldo Jabor
Nunca nossos vícios ficaram tão visíveis

Os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Temos assistido, como nunca antes, a um show de verdades através do chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. O Brasil está evoluindo em marcha a ré! Nessas últimas semanas, só tivemos des-acontecimentos. O senador Mercadante ia sair da liderança do PT, irrevogavelmente.

Depois, oscilou, seu mestre deu-lhe um esculacho e ele voltou atrás. Marcha a ré.

Des-aconteceu.

A Dilma também. Ela "não" se encontrou com a Lina Vieira, não. Querem nos convencer que a Lina é maluca e resolveu inventar tudo aquilo para prejudicar a ministra. Ninguém se lembra que essa polêmica do "fui não fui" é útil para camuflar o fato de que a expulsão de Lina aconteceu somente por causa do questionamento à Petrobras...

Tudo marcha a ré. Tudo some. As fitas de VT do Planalto se apagaram. Ninguém existe mais nas fitas. Os atos secretos voltam pouco a pouco e deixam de sê-lo. O nosso Sarney foi absolvido de tudo; as 11 acusações foram arquivadas pelo mordomo-suplente – des-aconteceram, sumiram na descarga do Conselho de Ética. Sarney, o Comandante do Atraso, disse que não se sente culpado de nada. Está certo – seus servos decretaram que nada, houve. Nossa frágil república esta sumindo.

As tramoias e as patranhas de hoje são deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira.

Está em andamento uma "revolução dentro da corrupção", tudo na cara da população, com o fito de nos acostumar ao horror.

Com a dissolução do PT, que hoje é o verdadeiro partido da "direita", com o derretimento do PSDB, o destino do país vai ser a maçaroca informe do PMDB (Oba! Vem aí o tesouro da legislação do pré-sal, a ser entregue a seus malandros-chefes, que já devem estar babando).

No entanto, justiça ao narcisismo deslumbrado de Lula, com seu projeto de si mesmo: nunca nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo.

E aí, nossa única esperança: talvez estejamos aprendemos sobre a dura verdade nacional nesse rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: uma visão do cabelo do Wellington, a cara dura de seres como o Almeida Lima, o rosto feliz do Renan e Jucá, ensinam-nos muito. Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos! Já sabemos que a corrupção no país não é um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas.

Aprendemos a mecânica da sordidez: a técnica de roubar o Estado para fazer pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, orgasmos entre empreiteiras e políticos. Querem nos acostumar a isso, mas, pode ser, (oh Deus!) que isso seja bom: perdermos o autoengano, a fé. Estamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.

Até que enfim nossa crise endêmica está sujamente clara, em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, tão fecundas como um adubo sagrado, belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza e candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a bilontragem nas cumbucas, nos esgotos da alma..Que emocionante esse sarapatel entre o público e o privado: os súbitos aumentos de patrimônio, fazendas imaginárias, açougues fantasmas, netinhas e netinhos, filhinhos ladrões, a ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, mandingas, despachos, as galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as diarreias secretas, as flatulências fétidas no Senado, diante das evidências de crime, os arrotos nervosos, os vômitos, tudo compondo o grande painel da nacionalidade.

Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que, enquanto houver 20 mil cargos de confiança no país, haverá canalhas, enquanto houver estatais com caixa preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse Código Penal, nunca haverá progresso. Já sabemos que, enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados e que enquanto não chegarem ao fim as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver.

Já sabemos que mais de R$5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas.

A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas, e mais: os que foram desonrados no Congresso voltaram fortes e mandam no Legislativo. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.

Só nos resta a praga. Isso. Meu desejo é maldizer, como já fiz aqui várias vezes.

Portanto, malditos sejais, ó mentirosos, negadores, defraudadores, vigaristas, trampistas, intrujões, chupistas, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas pútridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente, que vossas mentiras, marandubas, fraudes, lérias e aldravices se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, que entrem por vossos rabos e fundilhos e lá depositem venenosos ovos que vos depauperem em diarreias torrenciais.

Que a peste negra vos devore a alma, políticos canalhas, que vossos cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos vingadores vos exterminem para sempre! No entanto, além das maldições, sou um otimista inveterado; fico procurando algo de bom nessa bosta toda! Talvez essa vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos. A esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno.

Através desse escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos ser!


Arnaldo Jabor, carioca nascido em 1940, é cineasta e jornalista, também já foi técnico de som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens. Na década de 90, por força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional, Jabor foi obrigado a procurar novos rumos e encontrou no jornalismo o seu ganha-pão. Estreou como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde levou para a TV Globo, no Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil e na Rádio CBN. O estilo irônico e mordaz com que comenta os fatos da atualidade brasileira foi decisivo para o seu grande sucesso junto ao público. Arnaldo Jabor também é colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”, além de escrever regularmente para diversos outros jornais do Brasil.
E-mail: a.j.producao@uol.com.br


Publicado no jornal "O Globo".
Terça-feira, 25 de agosto de 2009.




DIA DO SOLDADO??? QUEM SABE, DAQUI A UNS QUINZE OU VINTE ANOS...




1 comment:

Cachorro Louco said...

Bootlead :Magnífico .Não ha o que comentar ,jabor disse exatamente tudo,mas tudo mesmo sobre o estado em que se encontra o país.Magnífico mesmo.Abraços

 
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