Thursday, January 21, 2010

Para bom entendedor, meia palavra basta.
Ou seja: A ONU não tem nenhuma serventia!
















































GEOPOLÍTICA NO HAITI
por José Nivaldo Cordeiro

Se existe o horror na terra, algo parecido com o fim do mundo, está no Haiti. Nenhuma alma pode deixar de lamentar e prantear o que está acontecendo naquela ilha do Caribe. Em nenhum lugar a frase bíblica se aplica melhor: os vivos terão inveja dos mortos. Ao lado da pobreza crônica, histórica, tivemos agora a destruição física. A infra-estrutura desapareceu com o terremoto, a linha se suprimento foi interrompida, a fome e a sede, como raras vezes uma sociedade padeceu, ali se instalaram. O governo desapareceu. O futuro desapareceu. Só resta aos que sobreviveram contar com a caridade internacional.

Mesmo essa caridade, que chegou, não está isenta de interesses. Vários artigos, como o do Le Monde reproduzido pela Folha de S. Paulo, (v. AQUI ) mostram que a ação pronta norte-americana, necessária e humanitária e, sob todos os aspectos, digna de aplausos, precisa ser compreendida dentro do duelo em que a maior das soberanias nacionais, os EUA, está em confronto direto com aqueles que desejam implantar o projeto de governo mundial e usam a ONU como escada para alcançar esses objetivos. Até a data do terremoto o Haiti estava sob jurisdição da ONU, na qual o Brasil desempenha, a mando do Lula, o papel de administrador e de polícia. A chegada unilateral e espetacular dos EUA surpreendeu e serviu para expor a fonte do poder real. A ONU não tem músculos sequer para mandar no Haiti.

A situação daquele pequeno país não é de emergência militar, mas humanitária. O recurso militar serve apenas para garantir a ordem e exibir o poder de quem o tem. Não há inimigos a combater ali, exceto os infortúnios, agora agravados com o terremoto (ou os terremotos, vez que vários vieram na seqüência). A ação dos EUA mostrou que aquele país tem recursos, capacidade de mobilização pronta e vontade política de fazer a coisa certa no prazo exíguo, coisas que faltaram aos burocratas da ONU. Nenhum dos apoiadores da Força de Paz lá instalada tinha quaisquer desses requisitos. O Brasil, coitado, tem Forças Armadas sucateadas e jamais teria como mandar um porta-aviões carregado para servir de unidade supridora de bens ao povo vitimado. Nem tinha um gigantesco navio-hospital para, no prazo de 48 horas, zarpar pronto para entrar em ação. Nem dinheiro. E, menos ainda, vontade política para realizar empreitada de tamanha envergadura. Afinal, como diz a canção, o Haiti também é aqui e sequer temos como enfrentar as nossas próprias mazelas com os parcos recursos de que dispomos.

O fracasso da ONU é rotundo e o Brasil, por apoiar suas aventuras imperiais canhestras, acabou por se envolver com um problema maior do que poderia resolver. Vimos o comando brasileiro perder o controle, que agora está com quem de direito, com quem paga a conta e pode lá enviar quantos soldados for preciso. Não deixou de ser uma prova humilhante. A perda do aeroporto foi a mais emblemática confissão de fracasso.

Acredito que a mobilização norte-americana foi generosa e unilateral. Tudo dentro da tradição daquele povo bendito, que sempre está disposto ajudar alhures, na paz e na guerra, onde precisar. Não faltaram análises de observadores mal intencionados, dizendo que o cálculo de Barack Obama foi eleitoral, que pretende impedir o agravamento da imigração, que é a oportunidade de colocar em prática um grande exercício de enfrentamento de grandes catástrofes. Se há um elemento de realidade em cada uma dessas motivações, basta lembrar que mais importante que o Haiti é o México, o que não impediu a construção de um muro fronteiriço contra a emigração ilegal. Situações diferentes, soluções diversas. Vi a motivação humanitária sobrepor-se a todas as outras.

A brincadeira amadora da ONU acabou e os profissionais de verdade chegaram ao cenário de operações. A experiência provou que os delirantes revolucionários encastelados na ONU estão muito longe de pôr a operar a sua Cosmópolis.


José Nivaldo Cordeiro: "Quem sou eu? Sou cristão, liberal e democrata. Abomino todas as formas de tiranias e de coletivismos. Acredito que a Verdade veio com a Revelação e que a vida é uma totalidade, não podendo ser cindida em departamentos estanques. Abomino qualquer intervenção do Estado na vida das pessoas e na economia, além do imprescindível para manter a ordem pública. Acredito que a liberdade é um bem que se conquista cotidianamente, pelo esforço individual, e que os seus inimigos estão sempre a postos para destruí-la. Preservá-la é manter-se vigilante e sempre disposto a lutar, a combater o bom combate. Acredito que riqueza e prosperidade só podem vir mediante o esforço individual de trabalhar. Fora disso, é sair do bom caminho, é mergulhar na escuridão da mentira e das falsas promessas".



José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP e editor do site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado". E-mail: nivaldocordeiro@yahoo.com.br


Publicado no site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado".
Quarta-feira, 20 de janeiro de 2010.




Existe apenas um poder, que é o "poder militar".
Os outros poderes fazem rir e deixam rir.
































Atuação dos Estados Unidos no Haiti é uma questão de liderança
por Corine Lesnes, correspondente em Washington para o "Le Monde".

Com seu presidente aparecendo com tanta frequência nas telas, os americanos poderiam acreditar que a catástrofe havia acontecido em seu solo. Nos três dias que se seguiram ao terremoto no Haiti, o presidente Barack Obama fez diversas declarações na Casa Branca, enviou 10 mil soldados, um porta-aviões munido de 19 helicópteros, e desbloqueou US$ 100 milhões. A Marinha foi convocada a fazer milagres. O navio-hospital Comfort, um mastodonte equipado com doze salas de operações, nunca havia sido preparado tão rapidamente. Em menos de 48 horas, levantou âncora para Porto Príncipe, onde deveria chegar na quarta-feira (20).

Barack Obama logo assumiu o controle de tudo – quase que instintivamente, poderiam dizer. Ainda que ele tenha designado como coordenador o novo diretor da Agência Americana para o Desenvolvimento USAID, Rajiv Shah, um jovem médico de origem indiana, foi ele que declarou a situação "prioritária", a ponto de merecer manter em Washington os secretários da Defesa e das Relações Exteriores, esperados na Austrália para uma cúpula dedicada ao Afeganistão e à luta antiterrorista.

Obama também enviou a Porto Príncipe um de seus colaboradores mais próximos, Dennis McDonough, para coordenar a comunicação. É verdade que os apresentadores dos telejornais da noite também desembarcaram no Haiti (em que avião?, perguntariam alguns).

Reação instantânea bem vista nos Estados Unidos

A administração Obama se antecipou ao chamado? Teria ela se precipitado indevidamente? Certamente essa é a opinião daqueles – franceses, italianos, brasileiros – cujos aviões de socorro se viram desviados para os outros aeroportos da região por americanos que acreditavam estar fazendo a coisa certa, mas que nenhuma autoridade superior havia ordenado.

Na edição de segunda-feira (19) do jornal "USA Today", os especialistas da Força Aérea dos EUA contaram como haviam procedido ao desembarcarem no aeroporto 24 horas após o terremoto. Foi um caos. A torre de controle estava quebrada. "Fomos falar com os pilotos e dissemos: ei, somos controladores de combate da aeronáutica. Estamos assumindo o controle do aeroporto", contou o sargento Chris Grove.

Dito e feito. Os americanos sabem que foram criticados por terem evacuado seus compatriotas como prioridade, e por terem privilegiado os voos militares em detrimento dos socorros: em outras palavras, a segurança em vez da ajuda humanitária. Mas tudo entrou nos eixos, eles afirmam. Os voos do Exército americano agora estão programados para a noite.

Quanto aos outros aviões, as prioridades são estabelecidas "pelo governo haitiano". E a secretária de Estado, Hillary Clinton, durante sua visita assinou um acordo com o presidente René Préval regularizando a tomada de controle do aeroporto. A conversa aconteceu no hangar "tomado" pelo sargento Chris Grove e depois transformado em QG americano.

Para os americanos, o Haiti é tanto uma exigência humanitária quanto uma exigência de segurança nacional. Cada vez que acontece um tumulto relacionado ao Caribe, especialmente com Cuba, eles temem um êxodo que mandaria centenas de milhares de refugiados para a Flórida, situada a somente 1.200 quilômetros.

Para justificar seu comprometimento em favor do Haiti, Barack Obama também acrescentou uma exigência moral em nome da "humanidade comum" compartilhada por todos os povos da Terra. Para a imagem que os americanos fazem de si mesmos, e para aquela que seus vizinhos têm deles, é necessário ajudar o salvamento do Haiti, disse ele. É uma questão de liderança.

Mesmo que as duas situações não tenham nada a ver, o paralelo com o furacão Katrina foi abordado, em sua vantagem – e para a grande satisfação da Casa Branca. A reação instantânea do presidente – meia hora depois de saber do terremoto, ele já publicava um comunicado – foi bem vista nos Estados Unidos, com algumas exceções.

A crítica mais ácida foi a de Rush Limbaugh, apresentador ultradireitista de rádio, que o acusou de adular a comunidade afro-americana, em um momento em que ela se sente abandonada por seu presidente "pós-racial".

Longa história muitas vezes turbulenta

O Haiti mantém uma longa história – e muitas vezes turbulenta – com os Estados Unidos desde a primeira campanha de julho de 1915, decidida por Woodrow Wilson, precursor das intervenções armadas conduzidas em nome da promoção da democracia (a ocupação durou 19 anos).

Os Estados Unidos "voltaram" em 1994, quando Bill Clinton resolveu restabelecer no poder o padre Jean-Bertrand Aristide, vítima de um golpe de Estado. E depois em 2004, para expulsar o mesmo Aristide, que se tornara um ditador sanguinário. Todas as vezes o exército americano serviu de elemento avançado de uma força multinacional da ONU.

Tomada por uma ambição de fazer o "bem", a administração Obama desta vez promete um compromisso a longo prazo para acabar com um mal crônico. Em um momento em que duas guerras estão esgotando seus recursos, é difícil acusar os americanos de estarem comandando uma nova "ocupação" qualquer.

Se a ONU tivesse enviado controladores aéreos a Porto Príncipe no dia seguinte ao terremoto, o sargento Chris Grove não estaria tumultuando os céus do Haiti.

Tradução: Lana Lim


Publicado no jornal "Folha de S. Paulo".
Quarta-feira, 20 de janeiro de 2010.




Lula o "capoeirista" (calção branco), enfrentando o "gente branca de olhos azuis" (calção preto).





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