Friday, April 13, 2007

Pode um comunista ser anti-lulista???





































Mais para triste
por Fausto Wolff

Certas coisas são de um amadorismo tão esdrúxulo que fazem o crítico querer se retirar nos primeiros cinco minutos do show. Foi o que aconteceu com os controladores de vôo. Antes tão arrogantes e, de repente, humildes a ponto de pedirem perdão publicamente. Parece novela mexicana. A coisa foi tão falsa desde o início e tão obviamente atendia a interesses políticos e não humanos que pensarei duas vezes antes de entrar numa embalagem de 50 toneladas que flutua como passarinho. Desde o princípio, controladores, governo e militares pareciam três ratos cegos com incrível capacidade letal que só eles não viam. Quem tem a vida de outros nas mãos não pode estar preocupado com salários e melhores condições de trabalho. Isso vale também para pilotos, cirurgiões, engenheiros, motoristas de táxi, ônibus, helicóptero, policiais etc. Isso seria normal se, vivendo, aprendêssemos a amar a vida e aos nossos semelhantes, em vez de já aceitarmos no berço o medo como Senhor.

Músicos da Broadway e, por tabela, do mundo inteiro se preocupam com a possibilidade de serem substituídos por instrumentos eletrônicos. Têm razão, pois, ao contrário da máquina, os músicos humanos podem se superar a cada performance. Você pode fazer uso do progresso fora do seu cérebro. Utilize-o mesmo sem saber como funciona e ele progride com extrema rapidez. Sou um dos últimos jornalistas linotipistas, uma profissão que a eletrônica botou no lixo. Como tenho certeza, porém, de que o homem é inviável e jamais inventará uma semente, guardo a minha Olivetti portátil, que escreve e imprime ao mesmo tempo.

Pobre brasileirinho. Faz mais de ano que a CPI dos Correios pediu o indiciamento de 124 criaturas bípedes implumes, a maioria parlamentares ricos e ladrões. Foram gastos milhões de reais nossos para cassar duas figurinhas fáceis: Zé Dirceu e Roberto Jefferson, que deitam e rolam nas respectivas agremiações. Nada mudou, o esquema continua instalado e todos sabem disso. O problema agora é nosso, leitor. Devemos permitir que gastem milhões de dólares para podermos chamar alguns safados de ladrões? De pouco adiantará, pois os culpados têm orgulho de suas ações e são vistos como heróis pelos filhos. Podemos obrigar o Judiciário a botar os elementos na cadeia? Não. Nem eles estão interessados e nem têm força política para tanto. O único modo de apanhar esses roedores é à la Capone, via imposto de renda.

Parece que a Bolsa Família do sr. Luiz Silva vai ser adotada pelo prefeito Blomberg, de Nova York, onde, em certas zonas do Harlem, Bronx e Brooklyn, meninas pré-adolescentes praticam felácio por US$ 5 para comprar crack. A fim de manter o vício, um modesto drogado precisa de US$ 200 diários antes de morrer de modo nada elegante num beco sujo. Quem distribuiu a droga - dezenas de anos atrás, para acabar com o partido Pantera Negra - foi o FBI. Viciado não tem emprego. Ou se prostitui, ou rouba. É claro, falo de uma minoria, mas tão atuante quanto a que age nas nossas favelas.

O programa americano começa em setembro e será eleitoral, pois Blomberg quer fazer o substituto. Famílias serão selecionadas aleatoriamente (sic) a cada inspeção. As quantias para cada uma variarão de acordo com o nível de pobreza e com as tarefas domésticas previamente acertadas. As famílias contempladas terão de ter pelo menos um filho na escola. Entre as tarefas a serem cumpridas, há a freqüência dos pais às reuniões e a dos filhos a dentistas e médicos. O aluno ganha US$ 25 para ir à aula, US$ 50 para ir ao dentista e US$ 350 se revelar grande talento numa prova. O resultado final será a soma das tarefas realizadas.

Harlem, Bronx e parte do Brooklyn são dominados por traficantes, como nas favelas. O sustento do vício é caro. As diferenças: lá, a iniciativa é em três bairros da cidade; lá, os prefeitos não recebem suas bolsas particulares para fazer campanha sem arriscarem cadeia. Finalmente, lá, a Bolsa Família não constitui um dos dois programas do governo de um país continental para manter os mesmos indivíduos no poder. O outro programa é o Mensalão - não importa o nome que tenha. Se o plano de Blomberg der certo na matriz é porque já foram arrecadados US$ 52 milhões - fora impostos - entre o comércio e a indústria e esse pessoal quer ver para onde vai seu dinheiro. Não acredito em caridade, pois onde há caridade há culpa e roubo. Logo, logo, não se falará em Bolsa Família em Nova York e aqui ela continuará sendo o único programa do governo. Deve haver alguma lógica cruel nisso tudo que eu não consigo entender.



Fausto Wolff é o pseudônimo de Faustin von Wolffenbüttel, um jornalista e escritor brasileiro, nascido em Santo Ângelo (RS), em 1940. Fausto começou a trabalhar aos 14 anos de idade como repórter policial e contínuo do jornal Diário de Porto Alegre. De família humilde, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 18 anos. Publicou mais de 30 livros de ficção, entre eles o de poemas “Gaiteiro Velho” e o romance “À Mão Esquerda”, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti, em 1995. Foi um dos editores do periódico esquerdista “O Pasquim”, foi também um dos fundadores da hoje extinta revista Bundas, além de diretor de teatro e cinema e professor de literatura nas universidades de Copenhague e Nápoles. Fausto Wolff sempre foi comunista e “marxista” assumido .



Publicado no
JB Online.
Sexta-feira, 13 de abril de 2007.





1 comment:

Anonymous said...

POD CAST DO DIOGO MAINARDI

http://veja.abril.com.br/idade/podcasts/mainardi/


a bandalheira do pt, campeia solta , corre a céu aberto como um esgotão inesgotável!


ATÉ QUANDO?

ONDE ESTÁ AQUILO QUE ERA ROXO,sob as calças, das 3 cores das FFAA, pois agora deve estar vermelho de vergonha... prá nada tem serventia.

 
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