Thursday, May 10, 2007

O Papa Benedict XVI no Brasil. E sem subterfúgios.

Obs.: “Campanha do Agasalho”. Temperatura em São Paulo na chegada do Papa: 10 graus.





































O que não suportam na Igreja Católica? A liberdade e a consciência.
por Reinaldo Azevedo

Comento a saudação de Bento 16. Excelentes palavras. Quem viu teve tempo de perceber que o português do cardeal Ratzinger é melhor do que o de Lula, hehe. Coisa própria de quem estuda, de quem se dedica, de quem tem claro que a sabedoria se adquire com esforço. Vejam só: nem Bento 16 acha que faz download do divino. Não é o caso de Lula, naturalmente, que sempre fala sobre tudo com a certeza de quem mergulha no pote da ancestralidade a cada juízo que expressa. Diferenças de temperamento e de vaidade. Ratzinger pode envergar as vestes da humildade.

O discurso diz bem mais do que parece, em sua simplicidade. Além da já aludida condenação ao aborto e à eutanásia, há a defesa clara dos valores da família. Não. A Igreja Católica não vai abrir mão de nenhum dos seus postulados morais porque eles não são valores instrumentais. Muito pelo contrário: a crítica leiga não se cansa de apontar que os católicos não fazem o que o papa recomenda, e esta seria uma das razões da fuga de fiéis, o que é bobagem, mas não vou tratar disso agora. Então por que ele não muda? Porque se trata de aspectos de uma doutrina, que não se vão vendendo, aos poucos, aos pedaços, na pia da modernidade. A Igreja sabe como sobreviver, não se preocupem.

Li, hoje, um tantinho espantado, um texto do colunista Marcelo Coelho, da Folha. É uma tentativa de tratar o Papa com ironia, embora leve, como é de seu estilo. Conclui que é até positivo que a hierarquia católica seja tão supostamente obtusa nas suas proibições porque isso descola a massa de fiéis de seu líder, o que não deixa, segundo Coelho, de ser positivo. Isso, parece, nos livraria de fundamentalismos de massa. Trata-se de um juízo, claro, de quem acha que a Igreja, em si, não é lá grande coisa. Mas o que me intrigou no seu artigo foi outra coisa. E só trato do assunto porque ele não é o único a expressar tal inconformismo.

Escreve ele: “Sou dos muitos que não se conformam com o conservadorismo do Vaticano em questões de sexo, saúde e vida familiar. Condenar o divórcio e o uso de preservativos, para citar casos mais extremos de intransigência, parece-me não só uma agressão ao bom senso, mas quase uma futilidade hoje em dia. É como se os padres insistissem em andar de batina pelas ruas, ou fizessem questão de que ninguém coma carne na Semana Santa. Pontos como esses foram abandonados da pauta eclesiástica. Por que não flexibilizar um pouco o resto também? Nestes últimos dias, contudo, fui mudando de opinião. Pode ser que a rigidez do papa nessas questões termine até trazendo algum efeito positivo. Pelo menos, a julgar pelo que acontece no Brasil.”

Por que será que Coelho, que não é católico, e outros tantos, aqui e alhures, não se incomodam com as restrições impostas pelo islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo ou outro orientalismo qualquer? Ao contrário até: por que será que as imposições das outras crenças devem ser acatadas como variantes culturais, a desafiar a nossa inteligência e tolerância? Por que será que a Igreja Católica é alvo de tanto interesse, e todos acham que têm algo a dizer sobre suas interdições? A resposta é óbvia: porque ela, de muitas maneiras, é a criadora do Ocidente e, com efeito, foi também poder temporal durante muito tempo. Assim, todos se sentem mais ou menos no direito de dizer o que a Igreja “deve” fazer. O curioso é que costumam dizer o que ela “deve” fazer para justamente deixar de ser Igreja. Trata-se de um paradoxo formidável.

Coelho tem a humildade intelectual daqueles que acham que podem ser benevolentes com o Papa, assim como um gerente de restaurante, com o olhar entre piedoso e entediado, tolera um cão vadio à espera dos restos. Acaba reconhecendo que o Papa desempenha também um “papel positivo”. Bento 16 ficará muito grato por este pedaço de pelanca que Coelho lhe joga do balcão. Segundo o articulista, a “clamorosa inatualidade” do conservadorismo de Bento 16 “serve para atrair, como um ímã, todas as pequenas aparas de ferro que ainda nos prendiam a um mundo de obscurantismo e repressão.” Coelho se deixou fascinar pela idéia de que o Papa é uma espécie, assim, de Cristo redivivo, pós-moderno, um cordeiro que, em vez de tirar os pecados do mundo, os chama todos para si. É uma besteira monumental. Mas isso é o de menos. Eu só não sabia que a Igreja Católica ou o cristianismo eram as fontes contemporâneas do obscurantismo e da repressão.

Para ele, o Papa e — na sua associação de idéias — o Cristo não são os cordeiros de Deus que tiram os pecados do mundo, mas os bodes expiatórios que pagam pelas culpas coletivas. Bem, ele lide lá com as suas ignorâncias, assim como deploro as minhas. Mas qual é o “obsurantismo e repressão” da moderna Igreja Católica? Falar aos seus? Apelar à consciência de cada homem? Censurar o pecado, mas acolher o pecador? Pregar a dignidade humana, seja a de homens, mulheres, crianças, enfermos? Fazer a defesa intransigente do princípio da vida? Defender radicalmente esses postulados tendo claro, sempre, que fala aos católicos?

No fim das contas, sei bem o que não suportam na Igreja Católica: é o primado da liberdade. É a afirmação tácita de que você é livre para escolher o seu destino, o seu caminho. E que toda escolha acarreta conseqüências. Isso a que chamam constantemente “culpa”, que vem associado à Igreja, eu costuma chamar de consciência. Não é fácil ser católico. O culto à religião propriamente talvez seja hoje, como sempre foi, obra de uma minoria abnegada. Para a maioria, a religião permanece como um norte ético. Eu mesmo não me digo católico sem uma ponta de constrangimento. Porque não me acho bom o bastante pra isso.

Mas sei que o mundo é bem melhor com a Igreja Católica. E saúdo a palavra de seu primeiro pastor. Onde quer que a instituição esteja hoje presente, se não foi tomada pela heresia — outra constante de sua história —, está levando uma mensagem de paz, de esperança, de aposta na vida. De fato, isso parece ser uma coisa insuportável. Sob certo ponto de vista, ninguém deveria ter a ousadia de querer ser tão bom.

Se há coisa que jamais faltou ao demônio — eu o tomo aqui como uma metáfora — é o culto à desconfiança. Se um dia tiverem tempo e oportunidade, leiam Les Cahiers de Monsieur Ouine — ou simplesmente Monsieur Ouine, do escritor católico francês, que morou no Brasil, Georges Bernanos. “Ouine” é uma soma de “Oui” (sim) e “Non” – que tem em francês a variante gramatical “ne” (não). O demônio é justamente a indistinção entre o Mal e o Bem, ou é o Mal que é Bem, ou o Bem que é Mal. É, em suma, a empulhação disso que chamam por aí de “dialética” — quando querem convencê-lo a abrir mão de seus princípios para o seu próprio bem.

É a tentação do deserto.


Reinaldo Azevedo é jornalista, guia cultural, assessor de imprensa e blogueiro. Foi editor-chefe da revista Primeira Leitura, colunista da revista Bravo! e também editor do jornal Folha de S. Paulo. Escreve freqüentemente sobre política nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, hoje é colunista da revista Veja. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e em Jornalismo pela Universidade Metodista, foi professor de literatura e redação dos colégios Quarup, Singular e do curso Anglo.





Publicado no "
Blog Reinaldo Azevedo".
Quarta-feira, 09 de maio de 2007, 19h03.

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3 comments:

Anonymous said...

Imaginei então uma situação interessante. Alguém inventa uma máquina do tempo. E vai testar. Escolhe uma data aleatória - 1989, por exemplo - e aperta um botão. A máquina traz para o presente ninguém menos que Luis Inácio Lula da Silva. Aquele de vinte anos atrás. Lula chega meio zonzo:

- O que é isso, companheiro?

Sem entender o que acontece, Lula é recebido com carinho, toma uma água, senta-se num sofá e recupera o fôlego.

- Onde eu tô?

- No futuro, Presidente. Colocamos em prática a Teoria da Relatividade!

- Futuro? Logo agora que vou ganhar do Collor, pô! Me manda de volta pro passado! Zé Dirceu! Zé? Cadê o Zé?

- Calma, Lula. Aproveite para dar uma olhada no seu futuro. Você é o presidente da República!

- Eu ganhei?

- Não daquela vez. Mas ganhou em 2002. E foi reeleito em 2006!

- Reeleito? Eu? Deixa eu ver, deixa eu ver!!!

E então Lula senta-se diante de um televisor de plasma. Maravilhado, assiste a um documentário sobre os últimos 20 anos do Brasil. Um sorriso escapa quando a eleição de 2002 é apresentada.

- Pô, fiquei bonito! Ué. Aquela ali abraçada comigo não é a Marta Suplicy?

- Não, Presidente, é a Marisa Letícia.

- Olha! Eu e o Papa! E aquele ali, quem é?

- É George Bush, o Presidente dos Estados Unidos!

- Arriégua! Êpa! Mas aquele ali abraçado comigo não é o Sarney? Com a Roseana? E o que é que o Collor tá fazendo abraçado comigo? O que é isso? Tá de sacanagem?

- Não, presidente. Esse é o futuro!

- AAAAhhhhhh! Olha lá o Quércia me abraçando! O Jader Barbalho! Cadê o Genoíno? Cadê o Zé Dirceu?

- O senhor cortou relações com eles.

- Meus amigos? Me separei deles e fiquei amigo do Quércia?

- Pois é...

- E aqueles ali? Não são banqueiros? Com aqueles sorrisos pra mim?

- Estão agradecendo, Presidente. Os bancos nunca tiveram um resultado tão bom como em seu governo.

- Bancos? Os bancos? Você tá de sacanagem. Sacanagem!

- Calma, Presidente. O povo está gostando, reelegeram o senhor com mais de cinqüenta milhões de votos!

- Mas não pode! Cadê os proletários? Só tô vendo nego da elite ali.
Olha o Vicentinho de gravata! E o Jacques Wagner também! Mas que merda é essa?

- É o futuro, Presidente.

- E o Walter Mercado? Tá fazendo o quê ali?

- Aquela é a Marta Suplicy, Presidente.

- Ah, não. Não quero! Não quero! Não quero aquele meu terninho. Não quero aquele cabelinho. Não quero aquela barbinha. Desliga isso aí!

- Mas Presidente, esse é o futuro. O senhor vai conseguir tudo aquilo que queria.

- Não e não. Essa tal de teoria da relatividade é um perigo.

- Perigo?!

- É. As amizades ficam relativas. A moral fica relativa. As convicções ficam relativas. Tudo fica relativo.

- Bem-vindo a 2007, Presidente.

Anonymous said...

Aborto.

Posição: Ricardo Antonio Filgueiras

Falar em aborto é o mesmo falarmos em diretos e suas responsabilidade é na VERDADE uma polemica que surge no auge do debate, qual é o caminho da verdade e o que poderemos seguir para o verdadeiro direito da mulher ou do casal ter o filho ou retira-lo do útero, será que alguém tem o direito de intervir no corpo (alheio), a IGREJA ela procura dar o equilibro para as nações do mundo procurarem um caminho religioso para que possa trazer as respostas que toda sociedade espera, os religiosos dizem que são contra o aborto e contra os meios convencionais que possuímos isto quer dizer, se a sociedade expandir as praticas oferecendo a liberdade de utilização da camisinha ou outros métodos a não ser a tabela é errado, na verdade a IGREJA ela faz o seu dever de não banalizar, os métodos atuais que conhecemos que evite a gravidez é lógico que é valido mais o aborto ser livre estarão tomando uma posição irresponsável.

Nós do povo olhamos para as atitudes de modo erradamente sobre a liberdade mais se olharmos para dentro de nossa família começaremos a ter um entendimento mais amplo, colocamos dessa maneira, você tem um casal de filhos o homem você solta no mundo mais de forma controlada e diz para ele use camisinha este é o ponto verdadeiro, e para a sua filha você diz olha lá o que você vai fazer com o seu namorado, ou por ai, ou então não vai se entregar há qualquer um e não vamos falar mais sobre este assunto, esta é a posição normalmente que os pais tomam, hoje em dia existe pais mais liberais e acolhe o relacionamento sexual de seus filhos dentro da sua casa, isto é certo ou errado dependendo da educação que cada um que teve poderá ser certo como poderá ser errado.

A namorada do seu filho engravida ou a sua filha, qual será a sua posição para eles, os mesmos são jovens e não querem casar ou não querem ter o filho para assumir eles não estão preparados e o que fazer, abortar ou lutar para que eles o tenham, ou você PAI e MÃE intervem na vida deles ou dela ou dele dizendo eu cuidarei do teu filho que tu tiveres esta é uma posição que muitos já se viram no momento e alguns já tomaram esta posição nesta pratica de intervenção e ela é a correta, sim DEUS vê o AMOR pelos seus, não é como o ESTADO que não intervem com medidas educativa e sociais na prevenção dos que hoje muitos se apresentam de forma carente em todo aspecto da vida e no nascimento de uma criança não os ampara nem a mulher nem o casal que esta na gravidez em processo sendo gerada a VIDA que logo a frente ira vim ao mundo eles pais são jovens e tiveram um relaxamento sem pensar que causou o fato da gravidez inesperada, se eles os pais ou os (avós) não apóiam no sentido do acolhimento da (criança) o ESTADO então tem o dever de interferi no sentido humano.

Anonymous said...

O patriotismo da petralhada, merece que dediquemos elles uma belíssima canção, com harmonia, letra e arranjos invejáveis

 
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