ENTRE A LEI E A BARBÁRIE
por Gilberto Barbosa Figueiredo
"Aquele que, num principado, não reconhece os males na origem não é verdadeiramente sábio, e esta qualidade é concedida a poucos". (Maquiavel)
Tenho batido em uma tecla, repetidamente, desde que assumi a presidência do Clube Militar – o grave perigo a que se expõe o Brasil com o sistemático desrespeito à lei, que temos acompanhado, nos últimos tempos, por segmentos cada vez mais numerosos de nossa sociedade. Mesmo correndo o risco de me tornar repetitivo, sinto-me compelido a voltar ao tema.
Muito se tem falado através da imprensa, e com justificável orgulho, de nossas recentes conquistas democráticas. Ocorre que a democracia não nasce espontaneamente, como dádiva concedida a um povo. É, ao contrário, conquista amealhada no dia-a-dia, através, principalmente, de sua prática honesta e constante. Tem de figurar nos diplomas legais, por certo, mas, acima de tudo, tem de estar na consciência dos cidadãos. E um dos primeiros pressupostos para que exista em plenitude é a formação de um senso generalizado de respeito à lei. Isso, infelizmente, não tem sido uma das preocupações prioritárias entre os habitantes de nosso País. Três aspectos, hoje, chamam a atenção no endêmico pouco caso com a lei, que se instalou entre os brasileiros: nosso próprio comportamento, procurando “jeitinhos” para burlar responsabilidades e obrigações; o procedimento aético de considerável parcela das autoridades constituídas – aquelas que deveriam ser exemplos de conduta ilibada – perpassando todos os Poderes da República; a absoluta e absurda liberdade de ação dos chamados “movimentos sociais”, para a prática de crimes.
Quanto ao primeiro aspecto, há a considerar o proceder um tanto egoísta do brasileiro. É o primeiro a criticar o governo ou o parlamentar acusado de ter recebido o “mensalão”, mas não tem a menor dor de consciência em valer-se de uma “esperteza” para conseguir alguma vantagem pessoal. Para tanto, acha normal praticar pequenos delitos, como estacionar o carro em cima da calçada, comprar um certificado ou tentar subornar um agente da administração pública. Falta o rigor consigo mesmo, que os militares aprendem a cultivar desde os bancos escolares. Seria ótimo que o cidadão pensasse como Calvin Coolidge, quando disse: “uma pessoa ao lado da lei é maioria”.
Já, no que diz respeito ao comportamento de algumas autoridades, pouco há a acrescentar ao que exaustivamente tem sido publicado em jornais, revistas e outros meios de comunicação. No lugar de exemplos, temos presenciado as mais deploráveis manifestações de descaso com o bem comum. As autoridades que tinham, por obrigação funcional, velar pela obediência aos preceitos legais, não têm o menor acanhamento em buscar ganhos pessoais, ao arrepio da ética. E o que se vê é governo comprando parlamentares, parlamentares envolvidos em esquemas escabrosos; a imprensa tem publicado, até, casos de tribunais vendendo sentenças. Enfim a corrupção, lamentavelmente, incrustada nos três Poderes.
A mais escandalosa, a mais inacreditável prática constante de atos ao arrepio dos direitos constitucionais é praticada pelos autodenominados movimentos sociais. É a exacerbação do pouco caso com a lei. E tudo mais incompreensível fica ao constatarmos que os fatos são consentidos pelos governantes, no mínimo por omissão. Isso quando o poder público não chega até a incentivá-los e financiá-los. Não é crível que em um país civilizado sejam admitidos impunemente atos como invasões de propriedades alheias, até as produtivas, depredação de bens, públicos ou privados, seqüestros de pessoas, interdição de rodovias, para citar apenas alguns dos delitos que nos acostumamos a ver estampados na imprensa, atribuídos aos ditos sem terra. Resta, ainda, a ação absolutamente irresponsável de seus líderes, estimulando esses atos ilegais, pregando abertamente o crime.
Todo esse conjunto de atividades ilícitas seria, por si só, extremamente grave. Mas, para nossa estupefação, a coisa não para por aí. Há muito, o MST e suas lideranças acrescentaram, publicamente, outras demandas à da reforma agrária que, inicialmente, mascarava suas reais intenções. E começou a se tornar notório um organismo espúrio, mas bem estruturado e financiado com recursos abundantes. Vinculado, segundo repetidas denúncias, a outras entidades guerrilheiras de países sul-americanos. Disposto a pregar a subversão da ordem em nosso próprio território.
As pregações ao desrespeito à lei e à ordem, antes camufladas, agora surgem às escâncaras, haja vista a bazófia de um de seus líderes em uma das muitas arruaças, ao afirmar que a luta contra os proprietários de terra é fácil, pois conta com 23 milhões da “luta camponesa”, contra 27 mil fazendeiros em todo o país.
Nossas conquistas democráticas precisam e devem ser preservadas. Afinal, não foi sem muitos sacrifícios, através da história, que alcançamos nossa atual estabilidade política. E, para tanto, exigirmos o respeito à lei parece um bom começo.
Não resta dúvida de que é hora de reagirmos, utilizando todos os meios de que possamos dispor, as conversas com amigos, as cartas aos jornais, a internet, mas, principalmente, as urnas, afinal, como nos afirmou Renan*: “o que faz com que os homens formem um povo é a lembrança das grandes coisas que fizeram juntos e a vontade de realizarem outras”. Hora também de tomarmos consciência de que nosso próprio comportamento faz diferença. Que a lei é para todos, inclusive para nós mesmos. É uma cruzada que, embora difícil, vale a pena ser iniciada. É algo que merece nossa mais profunda reflexão. Mesmo porque, com qualquer outra alternativa estaremos correndo o risco de cair na “Lei da Selva”.
por Gilberto Barbosa Figueiredo
"Aquele que, num principado, não reconhece os males na origem não é verdadeiramente sábio, e esta qualidade é concedida a poucos". (Maquiavel)
Tenho batido em uma tecla, repetidamente, desde que assumi a presidência do Clube Militar – o grave perigo a que se expõe o Brasil com o sistemático desrespeito à lei, que temos acompanhado, nos últimos tempos, por segmentos cada vez mais numerosos de nossa sociedade. Mesmo correndo o risco de me tornar repetitivo, sinto-me compelido a voltar ao tema.
Muito se tem falado através da imprensa, e com justificável orgulho, de nossas recentes conquistas democráticas. Ocorre que a democracia não nasce espontaneamente, como dádiva concedida a um povo. É, ao contrário, conquista amealhada no dia-a-dia, através, principalmente, de sua prática honesta e constante. Tem de figurar nos diplomas legais, por certo, mas, acima de tudo, tem de estar na consciência dos cidadãos. E um dos primeiros pressupostos para que exista em plenitude é a formação de um senso generalizado de respeito à lei. Isso, infelizmente, não tem sido uma das preocupações prioritárias entre os habitantes de nosso País. Três aspectos, hoje, chamam a atenção no endêmico pouco caso com a lei, que se instalou entre os brasileiros: nosso próprio comportamento, procurando “jeitinhos” para burlar responsabilidades e obrigações; o procedimento aético de considerável parcela das autoridades constituídas – aquelas que deveriam ser exemplos de conduta ilibada – perpassando todos os Poderes da República; a absoluta e absurda liberdade de ação dos chamados “movimentos sociais”, para a prática de crimes.
Quanto ao primeiro aspecto, há a considerar o proceder um tanto egoísta do brasileiro. É o primeiro a criticar o governo ou o parlamentar acusado de ter recebido o “mensalão”, mas não tem a menor dor de consciência em valer-se de uma “esperteza” para conseguir alguma vantagem pessoal. Para tanto, acha normal praticar pequenos delitos, como estacionar o carro em cima da calçada, comprar um certificado ou tentar subornar um agente da administração pública. Falta o rigor consigo mesmo, que os militares aprendem a cultivar desde os bancos escolares. Seria ótimo que o cidadão pensasse como Calvin Coolidge, quando disse: “uma pessoa ao lado da lei é maioria”.
Já, no que diz respeito ao comportamento de algumas autoridades, pouco há a acrescentar ao que exaustivamente tem sido publicado em jornais, revistas e outros meios de comunicação. No lugar de exemplos, temos presenciado as mais deploráveis manifestações de descaso com o bem comum. As autoridades que tinham, por obrigação funcional, velar pela obediência aos preceitos legais, não têm o menor acanhamento em buscar ganhos pessoais, ao arrepio da ética. E o que se vê é governo comprando parlamentares, parlamentares envolvidos em esquemas escabrosos; a imprensa tem publicado, até, casos de tribunais vendendo sentenças. Enfim a corrupção, lamentavelmente, incrustada nos três Poderes.
A mais escandalosa, a mais inacreditável prática constante de atos ao arrepio dos direitos constitucionais é praticada pelos autodenominados movimentos sociais. É a exacerbação do pouco caso com a lei. E tudo mais incompreensível fica ao constatarmos que os fatos são consentidos pelos governantes, no mínimo por omissão. Isso quando o poder público não chega até a incentivá-los e financiá-los. Não é crível que em um país civilizado sejam admitidos impunemente atos como invasões de propriedades alheias, até as produtivas, depredação de bens, públicos ou privados, seqüestros de pessoas, interdição de rodovias, para citar apenas alguns dos delitos que nos acostumamos a ver estampados na imprensa, atribuídos aos ditos sem terra. Resta, ainda, a ação absolutamente irresponsável de seus líderes, estimulando esses atos ilegais, pregando abertamente o crime.
Todo esse conjunto de atividades ilícitas seria, por si só, extremamente grave. Mas, para nossa estupefação, a coisa não para por aí. Há muito, o MST e suas lideranças acrescentaram, publicamente, outras demandas à da reforma agrária que, inicialmente, mascarava suas reais intenções. E começou a se tornar notório um organismo espúrio, mas bem estruturado e financiado com recursos abundantes. Vinculado, segundo repetidas denúncias, a outras entidades guerrilheiras de países sul-americanos. Disposto a pregar a subversão da ordem em nosso próprio território.
As pregações ao desrespeito à lei e à ordem, antes camufladas, agora surgem às escâncaras, haja vista a bazófia de um de seus líderes em uma das muitas arruaças, ao afirmar que a luta contra os proprietários de terra é fácil, pois conta com 23 milhões da “luta camponesa”, contra 27 mil fazendeiros em todo o país.
Nossas conquistas democráticas precisam e devem ser preservadas. Afinal, não foi sem muitos sacrifícios, através da história, que alcançamos nossa atual estabilidade política. E, para tanto, exigirmos o respeito à lei parece um bom começo.
Não resta dúvida de que é hora de reagirmos, utilizando todos os meios de que possamos dispor, as conversas com amigos, as cartas aos jornais, a internet, mas, principalmente, as urnas, afinal, como nos afirmou Renan*: “o que faz com que os homens formem um povo é a lembrança das grandes coisas que fizeram juntos e a vontade de realizarem outras”. Hora também de tomarmos consciência de que nosso próprio comportamento faz diferença. Que a lei é para todos, inclusive para nós mesmos. É uma cruzada que, embora difícil, vale a pena ser iniciada. É algo que merece nossa mais profunda reflexão. Mesmo porque, com qualquer outra alternativa estaremos correndo o risco de cair na “Lei da Selva”.
Gilberto Barbosa de Figueiredo é General do Exército Brasileiro, da Arma de Cavalaria, nasceu em Porto Alegre-RS, em 10/10/1938. Formou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras em 1959, possui os seguintes cursos militares: Escola de Equitação do Exército, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e Escola Superior de Guerra. Na área civil é formado em Administração de Empresas. Foi Assessor Parlamentar do Ministério do Exército, Assistente-Secretário do Ministro do Exército e Chefe da 5a. Seção do Comando Militar do Leste. Atuou como instrutor da Escola de Equitação do Exército, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Cumpriu missão no exterior junto à Missão Brasileira de Instrução no Paraguai. Como Oficial-General foi Chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, Comandante Militar do Oeste, Vice-Chefe do Departamento de Material Bélico e Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército.Integrou o Alto Comando do Exército de novembro de 2000 a Março de 2003.Passou para a Reserva em 31 de março de 2003. Foi eleito Presidente do Clube Militar em 2006.
Publicado no site do Clube Militar .
Outubro de 2006.
* Renan a qual o autor se refere é Ernest Renan, escritor francês (1823/1892) é claro que não é aquele "renan" amigo do lula, sarney e outras figuras sombrias. (N.R.)
http://bootlead.blogspot.com
Exército
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