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Saturday, May 07, 2016

Os mais desprezíveis maus-caracteres do planeta!






































Golpe constitucional
por Denis Lerrer Rosenfield

A prudência recomenda a desconfiança. Encenações, mentiras, desmentidos e desmentidos de desmentidos se tornaram o cotidiano dos brasileiros, aflitos com a falta de moralidade reinante na cena pública. O atual governo nem se ruboriza mais com o que faz, tendo desaparecido qualquer resquício de coerência entre o que é dito e o que é feito. O que vale num dia cessa de valer em outro. Não há a menor preocupação com o cumprimento da palavra e a retidão no comportamento. Neste contexto, como situar a discussão sobre um eventual terceiro mandato de Lula, seja sob a forma da pura e simples reeleição (acompanhada ou não de um plebiscito), seja sob a de um “novo” mandato de cinco anos, em que a partida estaria zerada?

Lula está em plena campanha pelo PAC, inaugurando obras inexistentes e criando símbolos, como se assim pudesse passar à opinião pública a idéia de que algo está sendo feito. O que, porém, está sendo feito senão a campanha de si mesmo, a campanha de alguém empenhado num processo eleitoral de promoção de si mesmo?

Não se pode creditar a Lula a virtude da coerência ou o cumprimento da palavra. A palavra só serve como instrumento retórico, de convencimento do “povo”. Eis por que acreditar num líder carismático como Lula é prova de ingenuidade. Ele diz uma coisa e outra sem o menor compromisso com a verdade.

Legítima é, pois, a pergunta: o que faz ele com seus discursos? Desde a sua eleição, jamais abandonou uma postura eleitoral, algumas vezes criticando o governo, como se não fosse o responsável por ele. O que fala é o seu comportamento. O seu fazer é o de alguém que tem um projeto pessoal de poder, pronto a tudo se as condições políticas lhe forem favoráveis. Lula não permanece em Brasília, na rotina própria de um presidente, mas faz campanha em todo o País, recolhendo os frutos de sua popularidade e criando condições para que esta suba ainda mais. Os seus altos índices mostram que o seu “fazer” produz bons resultados. Ele pode dizer pessoalmente que não quer a reeleição, mas, se o “povo” quiser, aí, sim, a coisa seria diferente.

O que está em processo, podendo ou não ser bem-sucedido, é o que poderíamos denominar “golpe constitucional”. Golpe porque se trata de uma mudança abrupta das regras do jogo, feita por um líder carismático que se aproveita de sua alta popularidade e de seu forte apoio em sindicatos (comprados) e movimentos sociais (por ele financiados), visando a alterar completamente os princípios da democracia representativa. Constitucional porque seguiria procedimentos constitucionalmente estabelecidos, aparentemente obedecendo à ordem da legalidade. A aparência de golpe desaparece, haja vista que as formalidades democráticas são mantidas, prescindindo do uso das armas. Trata-se, na verdade, de uma subversão da democracia por meios democráticos.

Uma das condições de um processo desse tipo reside num líder cujo perfil carismático o coloque acima das refregas partidárias e dos conflitos sociais. É precisamente o caso de Lula, que faz um discurso que agrada a empresários e outro, a movimentos sociais, aparentemente dando satisfação a ambos. No que diz respeito a alianças partidárias, elas lhe servem para mostrar que se situa acima do seu jogo. A divisão entre partidos ditos de esquerda e de direita tampouco é observada, pois coexistem em sua base de apoio o PP e o PCdoB, por exemplo. Sob esta ótica, os que se opõem a ele só podem ser “conspiradores”, como se estivessem cometendo um crime de lesa-majestade.

Um líder carismático deve ter uma ampla base social de sustentação. O recente veto à fiscalização pelo Tribunal de Contas da União dos novos recursos concedidos às centrais sindicais mostra toda a sua preocupação em contentar essa sua base. Primeiro, ele lhes concede uma forma específica de financiamento, propiciando-lhes um amplo espectro de atuação. Segundo, esses recursos são de livre utilização, não sendo objeto de nenhuma fiscalização. Desta maneira, os sindicatos estão cada vez mais amarrados ao próprio aparelho de Estado, fazendo parte dele. Os antigos discursos do sindicalista pela autonomia sindical e pelo fim da obrigatoriedade da contribuição sindical são simplesmente “esquecidos”. A meta agora é que todos se tornem igualmente pelegos, instrumentos do seu próprio poder.

Os movimentos sociais cumprem essa mesma função de controle de uma ampla massa de manobra, podendo ser requisitada a qualquer momento. Poderia ser, por exemplo, requisitada para uma ampla mobilização nacional por um plebiscito visando a uma reforma constitucional que permita a introdução da reeleição para um terceiro mandato. O recente episódio de financiamento do MST com verbas do Ministério da Educação é apenas a ponta de um imenso iceberg, que envolve outros Ministérios, como o de Desenvolvimento Agrário e o de Desenvolvimento Social. Os movimentos sociais são financiados pelo governo, que conta com esse grande trunfo. Podem, assim, invadir qualquer propriedade privada, prejudicar o agronegócio, ocupar rodovias e estradas de ferro. Ademais, estão com as mãos livres para agirem segundo as suas conveniências, pois a lei não é a eles aplicada. A impunidade é total.

Dentro desse projeto, é fundamental contar com uma ampla base social, sobretudo de desempregados ou empregados temporariamente, pois estes não são alcançados pelos sindicatos ou o são, imperfeitamente, pelos movimentos sociais. Eis a função cumprida pelo Bolsa-Família, que alavanca a alta popularidade do presidente entre os mais desfavorecidos, que vêem os recursos recebidos como uma forma de sobrevivência. Se seus alimentos são fornecidos pelo presidente, sua vida dele depende. Não convém menosprezar o poder de mobilização que pode estar aqui embutido, e a mobilização eleitoral seria um dos seus fatores.

Todo o cuidado é pouco!


Denis Lérrer Rosenfield, nasceu em 21 de novembro de 1950 em Porto Alegre. Fez seus estudos de graduação em filosofia na Universidade Nacional Autônoma do México e seus estudos de pós-graduação na França, tendo obtido o grau máximo de “Doutor de Estado” pela Universidade de Paris I Panthéon Sorbonne em 1982. É atualmente Professor Titular de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Pesquisador I-A do CNPq. Autor de vários livros e artigos em português, francês e espanhol, além de professor visitante na França, Alemanha, Argentina e Estados Unidos. Também é articulista dos jornais Estado de São Paulo e O Globo, colaborador da Folha de São Paulo e editor da revista Filosofia Política. Atua também como consultor de análise política para empresas, grupos financeiros, associações empresariais e partidos políticos.
E-Mail: denisrosenfield@terra.com.br


Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo".
Segunda-feira, 14 de abril de 2008.



Raposa/Serra do Sol - Aos ministros do Supremo – Reinaldo Azevedo

Friday, August 12, 2011

Um "megaloblasto" no MD (Ministério da Derrota). A fardinha de
"bostivariano" já está pronta e a continência é com a "sinistra".





E POR QUE NÃO UM GENERAL NO CONCÍLIO DO VATICANO?
por Vania L. Cintra

No convite para as solenidades militares em comemoração ao dia 25 de agosto, aniversário de Caxias, a realizarem-se nas dependências de um certo Quartel do Exército, as palavras "dia" e "soldado" foram impressas com letra minúscula. O Oficial que comigo comentou isso não se demonstrava exatamente surpreso. Talvez eu também já não devesse me espantar. Porque estou acompanhando, e, isso sim me deixa estupefata, a "importante" discussão que se abriu entre os Oficiais militares das três Armas nobres, discussão orquestrada, como sempre pelos "grandes" jornalistas especialistas em fofocas e em tudo mais e mais um pouco, a respeito de qual político seria pior ou melhor que o já escolhido pela Presidência para ocupar o Ministério da Defesa.

Trocou-se um seis por uma meia-dúzia. E daí? Com a ("auto" ou não) defenestração de Nelson Jobim do Ministério da Defesa, para que, exatamente, deveriam os militares estar discutindo o nome do civil que o poderia substituir? Moreira Franco, Aldo, Amorim, Genoíno... uma mulher... (e por que não uma mulher? Juro que cheguei a imaginar que Dona Rousseff aproveitaria a oportunidade e indicaria mais uma dona-de-casa que bem administrasse um orçamento doméstico...) discutir esses e outros tantos nomes a troco de quê? Por quê? Porque quanto pior for melhor será? Para quem? Era só o que nos faltava!

Alguns ainda exclamam, ao saber da indicação de Amorim: é o fim! Não, isso não é o fim simplesmente porque o fim já ocorreu bem antes, faz tempo, um bocado de tempo já. Tudo se quebrou ao ser considerado "obsoleto" e foi jogado em um depósito de ferro velho, onde cada peça foi sendo carcomida pela oxidação em um longo período de mau tempo que ainda estamos atravessando. Só que ninguém percebeu, nem viu, nem ouviu. E todo mundo foi empurrando os cacos que sobraram aqui e ali para debaixo do tapete para que ninguém, mesmo, percebesse. Tudo o que agora ocorre é apenas decorrência do fim de tudo. E para, dessa cacaria toda, tentar montar alguma coisa que preste ou que nos seja útil seria preciso usar, mais que muita graxa, muita "solda", se aqui me permitem um trocadilho absolutamente sem graça.

Se aquela discussão a respeito do nome do civil melhor ou pior aos interesses militares (e quais são os interesses militares?) ficasse borbulhando apenas no caldeirão em que se cozinha a "carreira" já dada nos militares por jornalistas e políticos "de carreira", ainda dava para entender. Isso tudo agita os ânimos, parece até que está acontecendo alguma coisa que deva ser noticiada e discutida com estardalhaço. Mas essa discussão boboca contagiou muitos militares, inclusive os mais sérios, capacitados e conseqüentes. E vem apenas mais oferecendo argumentos e mais solidificando o discurso dos civis que vêem os militares como se vissem vampiros ao meio-dia – os que querem caracterizá-los como incivilizados e imbecis – mas também serve a alguns militares cretinos e incompetentes – que existem, sim, não duvidem! – que bem sabem, apesar de serem cretinos, que são incompetentes, e, por isso mesmo, não se respeitam, não respeitam suas carreiras e sua missão, não respeitam a sua própria inteligência porque não a encontram, nem reconhecem ou respeitam a inteligência de militar algum, e só querem mesmo é faturar seus proventos ao fim do mês ou talvez uma viagenzinha aqui ou ali a pretexto de "aperfeiçoarem-se" (razão por que a Reunião do Alto Comando dedicou recentemente espaço a esse importante item em sua pauta). Estão nas FFAA por "expediente", arrumaram uma "boquinha" durante um tempo, até sua merecida "aposentadoria".

A idéia da criação do Ministério da Defesa, dadas as circunstâncias sob as quais vicejou em nosso País, é, por si mesma, o triunfo dos "políticos" – quando não somente a submissão irrefletida aos ditames supranacionais – e impôs-se em processo que, por si mesmo, desmoralizou as FFAA, desmoralizando e, por fim, extinguindo o EMFA em suas funções, e liquidando a idéia de uma Política do Estado ao implodir os Ministérios militares. Temos agora Políticas de Governo, e nada mais. Mesmo assim, por ser um cargo definido como superior ao dos Comandantes das Armas, não poderá haver qualquer civil melhor ou pior que qualquer outro civil que possa assumir o cargo de Ministro da Defesa. Porque não há argumento capaz de explicar por que cargas d'água deva um civil – e somente um civil – ocupar esse cargo.

Muito menos terá cabimento o argumento de que teria havido um "acordo" tácito entre civis e militares no sentido de que a Defesa não deveria ser entregue a um Ministro militar porque este "privilegiaria o uso da força", nem a um diplomata porque este privilegiaria "a recusa, por princípio, do mesmo uso da força". Só quem não tenha a mais mínima noção do que seja e de a que serve a Diplomacia, nem tenha noção da história diplomática, não só a nossa como a de todos os Estados, no mundo inteiro, poderia supor existir, sugerir ou fazer tal acordo em qualquer tempo e lugar. Tal "acordo" não vale sequer como hipótese. Além de que, por esse raciocínio, qualquer civil, tivesse a formação que tivesse, desde que não a de um diplomata, estaria em condições de "resolver" os problemas de Defesa. E a discussão de seu nome seria inútil, uma vez que dependeria apenas da preferência pessoal do Governante (que alguns afirmam ser "soberano"), nada mais, entre os que pudessem ser "mais cuidadosos com as palavras".

Armas e Diplomacia não são instrumentos de Mercado, em que só valem a barganha e a capacidade de barganhar – Armas e Diplomacia são instrumentos de Estado. Ou andam juntas, lado a lado, harmoniosamente, buscando os mesmos objetivos – os de Estado – pelos mesmos meios, ou seus Ministérios, o das Relações Exteriores e, hoje, o chamado da Defesa, serão não mais que possibilidades a que títulos honoríficos e pequenos poderes sejam conferidos a indivíduos quaisquer em um Estado que não tenha qualquer expectativa de impor-se e impor seus interesses entre os demais Estados Nacionais. Em um Estado de faz-de-conta. Porque um Estado não é exatamente uma barraca instalada em feira-livre.

Essa discussão a respeito dos nomes dos melhores ou piores fulanos a ocupar o Ministério da Defesa não será importante, pois, nem mesmo inócua será – vem-nos sendo, desde que foi permitida, sempre muito nociva. Porque esses nomes se nos oferecem a partir de um crisol que apenas contém materiais inadequados a produzir qualquer liga forte. A fumaça poluída que dessa discussão se levanta mais avilta os militares, mais os desarticula, mais alimenta o processo de transformá-los em "entulho autoritário", portanto, em algo que nos é, de fato, desnecessário, e não nos leva a lugar algum. Se quisermos ter uma idéia do que vem a ser essa brincadeira de Ministério da Defesa nas mãos de juristas, filósofos, pacifistas, versejadores ou o que os valha e não quisermos usar a expressão "raposa cuidando do galinheiro" por considerarmos chula, bastará imaginar, raciocinando com um modelo ao revés, a confusão que se faria caso um General fosse designado pelo Papa a ocupar uma cadeira no Concílio do Vaticano e a decidir, entre Bispos e Cardeais, quais providências deveriam ser tomadas no sentido de promover a paz definitiva entre cristãos e não-cristãos. Nem se fantasiando de São Pedro esse General convenceria os fiéis à Santa Madre ou o resto do mundo de que ele era um iluminado e, ali, estava no lugar adequado. Muito menos os convenceria de que o Vaticano não estivesse pensando em desferir uma nova "cruzada contra os infiéis". E procurando se armar. No entanto, que tremendo sucesso fez Jobim na passarela desfilando com seu modelito camuflado...! Como? Por quê?

Imagino que não esteja exatamente falando sozinha no deserto, porque não me é possível imaginar que não mais haja nas FFAA um único General, um único Almirante, um único Brigadeiro capacitado a assumir o nosso Ministério da Defesa, que não haja um único sujeito minimamente lúcido e probo na Ativa, no pico da hierarquia, que saiba o que é contornar os obstáculos da pequena política, comandar batalhas diárias enfrentando todo tipo de adversidades, e ter que dar a cara a tapa frente à tropa quando porventura erre em suas táticas e lhe cause danos ou baixas desnecessárias; nem me é possível conceber que não haja pelo menos meia-tropa que não consiga compreender que o cargo de Comando desse Ministério é um cargo vital ao Estado, que deve escapar das futricas dos salões dos Governos, portanto, não pode ser entregue a um qualquer civil "de carreira". Não nos basta resumir idéias afirmando que "ideologia, não!" Ideologia sim! Pois negando-se à população nacional o direito e o dever de pensar em valores nacionais, de projetar o que deve o Brasil fazer estando em confronto com seus pares, este nosso País só encolhe, manifestando já sérias tendências a desaparecer ao ser devorado por si mesmo. E que é isso senão ideologia? Se acaso uma ideologia for motivo de vergonha para alguém, esse alguém que assuma uma outra, pois, a qualquer mortal, é impossível reconhecer-se e reconhecer o ambiente que o cerca sem recurso a qualquer ideologia. Aliás, creio mesmo que nem um anjo ou um super-homem conseguiria fazer isso. E os Oficiais Superiores estudaram tanto, afinal, para quê? Para concorrer a prebendas, assumir cargos, em empresas públicas ou em órgãos-chave de quaisquer Ministérios, tal como é o DNIT, que civis não estivessem à altura de assumir, e para agradecer à Presidência a oportunidade de arriscar-se a se queimar ou a mais queimar a Corporação e mesmo a Instituição, uma vez que, nesses cargos, deverão submeter-se aos interesses e aos caprichos governamentais? Ou para oferecer seus serviços à empresa privada?

A população nacional tem muito o que exigir de um Oficial militar, sempre teve, e pode e deve exigir – afinal é ela quem paga por seu preparo profissional – mas não pode exigir o que hoje lhe vem sendo exigido: que se submeta aos "políticos". Exige-o porque é ignorante, porque crê no que lhe dizem os "líderes" de curta e torta ambição. E enquanto a discussão de qual o melhor ou o pior nome civil para o Ministério da Defesa continuar a ser levantada a cada queda de um Ministro que se impõe sobre os militares, com toda a descontinuidade de planos, projetos e prazos que a sua substituição acarreta, visto que nenhum desses Ministros é oriundo do Corpo diretamente neles interessado, ela apenas visa a sufocar, a matar asfixiada e a soterrar uma outra discussão que, essa, sim, é fundamental – a que deveria estar rolando acaloradamente a respeito da capacitação específica para a pasta.

Por outro lado, enquanto a discussão sobre essa capacitação específica para o cargo de responsável pela Defesa e Segurança do Estado não se fizer, enquanto os Oficiais militares não exigirem que "seu" Ministério se volte apenas às Armas e ao que as Armas devem e podem fazer, que é cuidar realmente da Defesa do Estado e de sua Segurança (mas alguém mais lá ainda sabe que vem a ser isso?), sem se preocupar com alegorias, sambas-enredos ou com demonstrar jogo de cintura aos turistas, enquanto permitirmos, todos nós, que esse Ministério seja apenas mais um entre as dezenas e dezenas de Ministérios civis criados de acordo com o movimento das marés e sirva apenas para que quem for indicado Ministro adicione títulos indevidos ao seu currículo pessoal e intransferível, para absorver burocratas de outros Ministérios, que estejam sem função e sejam colocados à disposição, ou para que estudantezinhos deslumbrados e desinformados usem suas bolsas de estudo e componham suas tesezinhas de Mestrado ou Doutorado conforme as "novas regras do novo mundo globalizado" determinam, ninguém respeitará o Dia do Soldado. Simplesmente porque, embora no mundo inteiro os Soldados estejam fazendo o que Soldados devem fazer, contando com o respeito e o apoio da população consciente de quem é, em nosso País não se vêem mais Soldados a respeitar, e os que se fantasiam de Soldados e se colocam à porta das Catedrais da Esplanada dos Ministérios em Brasília mendigando alguma atenção continuarão sendo vistos por todos, aqui e no mundo inteiro, inclusive por eles próprios, como, literalmente, um zero à esquerda.

E o Brasil continuará marchando unido, em acelerado, para trás. Mesmo que ninguém perceba.


Vania Leal Cintra é socióloga, Bacharelada e Licenciada Plena pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP, especializada em Docência no Ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP, possui Mestrado em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo – USP e Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Vania também é editora do site "MINHA TRINCHEIRA". E-mail: minhatrincheira@uol.com.br





Publicado no site "MINHA TRINCHEIRA".
Sábado, 06 de agosto de 2011.





MERGULHADOS NO VÍCIO – Gen Valmir Fonseca Azevedo Pereira












Friday, July 29, 2011

Se Amy Winehouse fosse um país, ela se chamaria Brasil.




MERGULHADOS NO VÍCIO
por Valmir Fonseca Azevedo Pereira

A recente prematura e dramática morte da cantora Amy foi um estridente grito de alerta para o nosso nojento vício, e mostrou como o consumo desvairado de entorpecentes pode inebriar, e proporcionar instantes de incontido prazer e deleites orgásticos pontuais, mas levar à ruina, à degradação, à morte moral e à putrefação ainda em vida.

Diante do infausto, impõe-se redobrados cuidados. Se não pararmos, ainda sucumbiremos disso. E nossas futuras gerações, também.

Nós e milhões de brasileiros estamos nos últimos degraus da decadência humana. Fomos escravizados por prazeres passageiros e palavras enganosas.

Os traficantes sabem como somos dependentes, acostumados a injetar nas veias doses letais dos mais variados estupefacientes, e nem ligamos.

Acorda, incauto Brasil!

Há décadas, embriagados pelos alucinógenos e entorpecidos pela mágica dos populistas, passamos a ingerir pequenas doses que se tornaram cavalares e a viver em outras galáxias, e ficamos viciados em qualquer droga que nos ofereçam.

Por falta de opções, fomos degradando, aviltando, e hoje temos que aguentar a droga da metamorfose ambulante, a droga da guerrilheira, a droga do congresso, as arrepiantes decisões do judiciário e os abusos dos estupradores da moral. Tudo, sem um ai.

Assim, não há veia que aguente. Em suma, somos viciados em porcarias.

Por quanto tempo será possível sobreviver a tanta intoxicação? Percebem-se os efeitos colaterais do entorpecimento, a perda do bom-senso, a falta de honestidade, de dignidade, a falência da indignação e o descaso com todo o tipo de devassidão.

Sim, somos viciados e, sem nenhuma ou pouca possibilidade de recuperação. É triste, mas é a pura verdade. Enlouquecidos pelo vício, nada mais importa, nem que a mula manque, o que eles querem é nos rosetar.

Reviramos os olhinhos à simples menção “de nunca na história desse País...”, deliramos com as propagandas, nos apegamos às mentiras, pois se o governo anunciou na mídia, passou a ser verdade. Diariamente, somos brindados com novas conquistas, repetitivas inaugurações, com novos feitos. O céu é o limite.

Mas quem se preocupa se forem falsos, superestimados, e que bradem que este é o Brasil de todos? O da propaganda sim, o real não.

E não nos perguntem o que o desgoverno fará por nós, mas o que faremos por ele. E nós, em uníssono e, totalmente chapados, responderemos felizes, “pagaremos os mais altos impostos do planeta, aplaudiremos promessas e viveremos na doce ilusão, de que afinal de contas, como Deus é petista, tudo vai dar certo”.

Vivemos na ilusão dos discursos (até as pregações de Jesus Cristo sofreram recentes reparos), dos foguetórios, engolimos o PAC com sofreguidão, entramos na orgia dos estádios, preferimos templos do esporte bretão às escolas, às universidades, nos alucinamos com corrupções, sonhamos com uma viagem alucinante no trem-bala, estamos, desde já, gastando as riquezas do pré-sal, e a cada manhã, como dose de psicotrópico matinal, aguardamos o escândalo nosso de cada dia.

Inapelavelmente drogados, numa alucinação de dar medo, vemos o ex adentrar na ESG para mais um espasmo de populismo. É terrível, é tétrico, pois o gajo, no nosso delírio, é aplaudido de pé, como o Stédile.

Sim, é melhor acordar antes que o pesadelo se torne realidade (já é).


Valmir Fonseca Azevedo Pereira é General-de-Brigada do "Exército de Caxias".










Publicado no site "TERNUMA – Grupo Terrorismo Nunca Mais" – (Artigos).
Sexta-feira, 29 de julho de 2011.










Falência moral da democracia brasileira – Ricardo Vélez Rodriguez





Tuesday, July 19, 2011

O paradoxo da democracia são as pessoas que votam em loucos, em populistas,
em corruptos e, para piorar ainda mais, por meio de urnas eletrônicas adulteradas.





Falência moral da democracia brasileira
por Ricardo Vélez Rodriguez

A sociedade brasileira está em crise. Não sabemos, como povo organizado, qual é o nosso padrão de comportamento. Nas últimas décadas estivemos preocupados com outras coisas, que encheram a nossa agenda, ao ensejo da saída do último ciclo autoritário para a construção da Nova República. Não foi resolvida, no entanto, a questão da moral social, que daria embasamento às instituições. Acontece que sem equacionar essa questão tudo o mais fica no ar: Constituição, Códigos de Direito Civil e Penal, funcionamento adequado dos poderes públicos, pacto federativo, respeito às leis, organização e funcionamento dos partidos políticos, fundamento das práticas econômicas em rotinas de transparência que dariam ensejo ao que Alain Peyrefitte denominava "sociedade de confiança", governabilidade, etc.

Definamos o que se entende por moral: como frisa mestre Antônio Paim no seu Tratado de Ética, ela consiste num "conjunto de normas de conduta adotado como absolutamente válido por uma comunidade humana numa época determinada". A moral tem uma dupla dimensão, individual e social. A primeira se identifica com o que Immanuel Kant denominava "imperativo categórico da consciência". A segunda consiste na definição do mínimo comportamental que uma sociedade exige dos seus indivíduos para que se torne possível a vida em comunidade. A moral social pode ser de dois tipos: Vertical, quando um grupo de indivíduos impõe ao restante o padrão de comportamento; social, quando o padrão de comportamento é adotado por consenso da comunidade. A moral social consensual constitui, no mundo contemporâneo, o fundamento axiológico da vida democrática.

No plano da moral social, no entanto, herdamos modelos verticais que não se ajustam aos ideais democráticos. Os arquétipos de moral social sedimentados na História quadrissecular da Nação brasileira ressentem-se do vício do estatismo e da verticalidade que ele implica. É evidentemente vertical o modelo de moral social herdado da Contrarreforma; nele os indivíduos deveriam agir, em sociedade, seguindo à risca os ditames provenientes da Igreja mancomunada com o trono, no esquema de absolutismo católico ensejado pelos Áustrias na Península Ibérica, ao longo dos séculos 16 e 17. De outro lado, o modelo imposto pelo despotismo iluminista de Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, no século 18, não mudou radicalmente as coisas, pois pecava por manter a verticalidade da formulação do código de moral social, ao ensejo da "aritmética política" que passou a vigorar, ao redor dos seguintes princípios: Compete ao Estado empresário, alicerçado na ciência aplicada, garantir a riqueza da Nação. É da alçada do Estado fixar a normas que consolidam a moralidade pública e privada.

O cidadão, em razão de tais princípios, ficava desonerado das incumbências de produzir a riqueza e de se comprometer com a definição da moral social, que nas democracias modernas terminou sendo configurada de forma consensual pelas respectivas sociedades. Tudo se resolveria mediante a tutela do Estado modernizador sobre os cidadãos, considerados como simples peças da engrenagem a ser gerida pelo governo. O ciclo imperial, com a preocupação da elite em prol da constituição e do aperfeiçoamento da representação, mantendo a unidade nacional contra os separatismos caudilhescos, num contexto presidido pelos ideais liberais, foi abruptamente rompido pelo advento da República positivista. Frustraram-se assim, talvez de forma definitiva, a aparição e o amadurecimento de um modelo ético de moral social consensual.

Ora, a partir do arquétipo pombalino firmaram-se os modelos de moral social vertical que têm presidido a nossa caminhada ao longo dos dois últimos séculos, de mãos dadas com a cultura patrimonialista, que sempre entendeu o Estado como bem a ser privatizado por clãs e patotas, desde a República iluminista apregoada por frei Caneca, no início do século 19, à luz da denominada "geometria política", passando pela "ditadura científica" positivista, que se tornou forte ao ensejo do Castilhismo, no Rio Grande do Sul, nas três primeiras décadas do século passado, passando pelo modelo getuliano de "equacionamento técnico dos problemas" (elaborado pela segunda geração castilhista, com Getúlio Vargas e Lindolfo Collor como cérebros dessa empreitada, e cooptando, como estamento privilegiado, as Forças Armadas). A última etapa dessa caminhada estatizante foi o modelo tecnocrático efetivado pelo ciclo militar, à sombra da "engenharia" política do general Golbery do Couto e Silva.

Com o advento da Nova República tentou-se retomar a questão da representação política como meio para configurar, no País, a formulação de uma moral social consensual. No entanto, o fracasso da reforma política que levaria ao amadurecimento da representação terminou dando ensejo, no ciclo lulista e na atual quadra do pós-lulismo, à consolidação de modelo vertical de moral social formulado no contexto do que se denomina "ética totalitária", segundo a qual os fins justificam os meios. A cooptação de aliados pelo Executivo hipertrofiado, no seio de uma consciência despida de freios morais, terminou dando ensejo à atual quadra desconfortável de corrupção generalizada, que ameaça gravemente a estabilidade econômica, duramente conquistada nas gestões social-democratas de Fernando Henrique Cardoso.

O Brasil perde o seu rumo, num mundo agressivo e cada vez mais interdependente, assombrado pela ética totalitária petista, aliada, na síndrome lulista do "herói sem nenhum caráter", a desprezíveis formas de populismo irresponsável, que elevou como ideal o princípio macunaímico de levar vantagem em tudo, num sórdido cenário de desfaçatez e incultura. Tudo presidido pela maré estatizante que se apropria da riqueza da Nação para favorecer a nova casta sindical e burocrática que emerge ameaçadora, excludente e voraz.


Ricardo Vélez Rodriguez nasceu em Bogotá (Colômbia) em 15 de novembro de 1943, naturalizado brasileiro em 1997 é Doutor em Filosofia, Professor Associado e Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas "Paulino Soares de Sousa", da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: rive2001@gmail.com











Publicado no jornal " O Estado de S. Paulo " – (Opinião).
Terça-feira, 19 de julho de 2011.





AH, SE FOSSEMOS DO PT – Gen Valmir Fonseca Azevedo Pereira






Tuesday, July 12, 2011

O MORFÉTICO ENEADÁCTILO É O GENE ESTRUTURAL DO PT!





AH, SE FOSSEMOS DO PT
por Valmir Fonseca Azevedo Pereira

Estaríamos inebriados com tantos sucessos.

É o emprego garantido. Se sindicalista, é juntar a fome com a vontade de comer. Se perder a eleição, não se preocupe, temos uma vaguinha para você. É a gloria, o sucesso, sem qualquer mérito, mas quem está preocupado com isso?

Os idiotas abrem as portas para nós atravancarmos e atravancamos. Pequenos percalços, alguns até incentivados por nós, tonteiam a fajuta oposição e obnubilam a visão dos mais críticos.

O MST prossegue impune como entidade sem registro, mas aquinhoada com recursos governamentais, mais adestrado, mais agressivo, conforme os planos.

Reforçamos as dicotomias sociais e recrudescemos as diferenças. Negros, índios, quilombolas, pervertidos sexuais, estudantes, beneficiados com bolsas, maconheiros e bandidos presos ou ainda livres nos adoram.

Pagamos auxilio - reclusão para quem vai preso, mas não para as vítimas. Os defensores dos direitos humanos entram em orgasmo com esta e outras medidas, que consideram compensadoras de seus esforços do tudo pelo social.

Inventamos as cotas, alimentamos raivas, adubamos ódios e fortalecemos as nossas posições. Sem esforço, acuamos a milicada.

Desarmamos todos os homens honestos. Só falta proibir a cusparada em nós, que breve será enquadrada em crime hediondo.

Somos batutas em criar Seminários, Debates e Referendos, que inundamos de cumpanheiros que sufocam os contrários.

Metemos a mão em tudo, como nada fazem, vamos em frente.

Apadrinhamos o trem – bala contra tudo e contra todos. Soltamos o Battisti, entregamos os exilados cubanos, expulsamos os plantadores de Roraima e abençoamos como família a juntada de dois homens, de duas mulheres, meras amostras de como e de quanto podemos. Decretamos que é proibido beber um copo de cerveja se for dirigir, apesar de já existirem rígidas regras de controle através dos bafômetros, nunca dantes aplicadas. Para os trouxas um tremendo sinal de que o governo está preocupado com a moral e os bons costumes.

Sublimamos o politicamente correto. Mas, matreiramente, decidimos o que é politicamente correto, logo... chamamos de afro - descendentes negros retintos, de incompreendidos sexuais as mais asquerosas bichonas e, carinhosamente, de aloprados a um bando de malfeitores.

Estamos de olho na comunidade maconheira, por isso acenamos a nossa simpatia para a descriminação do produto, é o voto certo da galera.

Na educação o lema é deseducando que se vai ao longe. Nas Escolas, nas Universidades estamos formando novos quadros, jovens cheios de ideias, combativos, dispostos a tudo, inclusive, colher cana em Cuba.


Nos livros, um patrulhamento infame, até Monteiro Lobato foi escrachado. Incentivamos a incerteza sexual das criancinhas. Os desnorteados serão uma presa fácil para cooptação.

Nas artes, viva a sodomia, pois quanto mais promiscuidade melhor.

Nossa gestão de tirar dinheiro de muitos, segurar uma parte para nós e repartir o resto para a comunidade pobre é elogiada mundo a fora. Incentivamos a poupança sabendo que ela rende menos do que a inflação. Patrocinamos com polpudos aportes as ONGs co - irmãs.

O PAC 1 vai de mal a pior, e até criamos o PAC 2, mas o que importa é inaugurar o teleférico das comunidades no Rio de Janeiro. Isto dá IBOPE.

Banalizamos a pratica da negociação malandra, quando nós e os nossos comparsas ganhamos, só a viúva é quem perde, e ninguém reclama.

Aprovamos o Regime Diferenciado de Contratações (viva a Copa), que muito breve deverá ser extensivo às obras do PAC, metemos a mão na Vale do Rio Doce, o BNDES é o nosso caixa dois, elegemos a poste de alta tensão, a Petrobras é do PT e os sindicatos não prestam contas a ninguém.

Enfim, culpamos a sociedade por todas as mazelas, diferenças sociais, atrasos e demais óbices da Nação, por isso, por sua incúria, ela deve pagar com pesados impostos. Daí é só cobrar que a sociedade culpada, paga sem chiar.

Assim, em menos de uma década subvertemos as mente e as consciências. Não há do que reclamar, melhor estraga.

Em cada rincão, temos massas de manobra para com violência sublinhar nossas posições. A Idelli de leão de chácara foi travestida em Miss Simpatia. Mas é disso que povo gosta.

Por tudo, e fácil entender porque nos ufanamos de ser petistas.

Querem mais?


Valmir Fonseca Azevedo Pereira é General-de-Brigada do "Exército de Caxias".









Publicado no site "TERNUMA – Grupo Terrorismo Nunca Mais" – (Artigos).
Segunda-feira, 11 de julho de 2011.





Desonestidade é cultura – João Ubaldo Ribeiro






Sunday, June 26, 2011

BRASILEIROS: DEFORMADOS MORAIS CRÔNICOS !





Desonestidade é cultura
por João Ubaldo Ribeiro

Sempre se tem cuidado com generalizações, para não atingir os que não se enquadram nelas. Às vezes o sujeito odeia indiscriminadamente toda uma categoria, mas, ao falar nela e, principalmente, ao escrever, abre lugar para as exceções, os "não-são-todos" e ressalvas hipócritas sortidas. Outros recorrem a gracinhas, como na frase do antigamente famoso escritor Pitigrilli, segundo a qual "as únicas mulheres sérias são minha mãe e a mãe do leitor". No caso presente, decidi que as generalizações feitas hoje excluem todos os leitores, a não ser, evidentemente, os que desejem incluir-se - longe de mim contribuir para aumentar nossa tão falada legião de excluídos.

Antigamente, era muito comum ler ensaios e artigos escritos por brasileiros em que nós éramos tratados na terceira pessoa: o brasileiro é assim ou assado, gosta disso e não gosta daquilo. Em relação a maus hábitos então, a terceira pessoa era a única empregada. O autor do artigo escrevia como se ele mesmo não fizesse parte do povo cuja conduta lamentava. Até mesmo nas conversas de botequim, durante as habituais análises da conjuntura nacional, o comum era (ainda é um pouco, acho que o boteco é mais conservador que a academia) o brasileiro ser descrito como uma espécie de ser à parte, um fenômeno do qual éramos apenas espectadores ou vítimas. Eu não. Talvez, há muito tempo, eu tenha escrito dessa forma, mas devo ter logo compreendido sua falsidade e passei a me ver como parte da realidade criticada. Individualmente, posso não fazer muitas coisas que outros fazem, mas não serei arrogante ou pretensioso, vendo os brasileiros como "eles". Não são "eles", somos nós.

Creio que, feita a exceção dos leitores e esclarecido que estou falando em nós e não em inexistentes "eles", posso expor a opinião de que fica cada vez mais difícil não reconhecer, vamos e venhamos, que somos um povo desonesto. Não conheço as estatísticas de países comparáveis ao nosso e, além disso, nossas estatísticas são muito pouco dignas de confiança. Mas não estou preparando uma tese de mestrado sobre o problema e não tenho obrigação metodológica nenhuma, a não ser a de não falsear intencionalmente os fatos a que aludo e que vem das informações e impressões a que praticamente todos nós estamos expostos.

Claro, choverão explicações para a desonestidade que vemos, principalmente nos tempos que atravessamos, em que a impressão que se tem é de que ninguém é mais culpado ou responsável por nada. Há sempre fatores exógenos que determinaram uma ação desonesta ou delituosa. E, de fato, se é assim, não se pode fazer nada quanto à má conduta, a não ser dedicar todo o tempo a combater suas "causas". Essas causas são todas discutíveis e mais ainda o determinismo de quem as invoca, que praticamente exclui a responsabilidade individual. E, causa ou não causa, não se pode deixar de observar como, além de desonestos, ficamos cínicos e apáticos. Contanto que algo não nos atinja diretamente, pior para quem foi atingido.

Ninguém se espanta ou discute, quando se fala que determinado político é ladrão. Já nos acostumamos, faz parte de nossa realidade, não tem jeito. Alguns desses ladrões são até simpáticos e tratados de uma forma que não vemos como cúmplice, mas como, talvez, brasileiramente afetuosa. Votamos nele e perdoamos alegremente seus pecados, pois, afinal, ele rouba, mas tem suas qualidades. E quem não rouba? Por que todo mundo já se acostumou a que, depois de uma carreira política de uns dez anos, todos estão mais gordinhos e com o patrimônio às vezes consideravelmente ampliado? Como é que isso acontece rotineiramente com prefeitos, vereadores, deputados, senadores, governadores, ministros e quem mais ocupe cargo público?

Os políticos, já dissemos eu e outros, não são marcianos, não vieram de outra galáxia. São como nós, têm a mesma história comum, vieram, enfim, do mesmo lugar que os outros brasileiros. Por conseguinte, somos nós. Assim como o policial safado que toma dinheiro para não multar - safado ele que toma, safados nós, que damos. Assim como o parlamentar que, ao empossar-se, cobre-se de privilégios nababescos, sem comparação a país algum.

Em todos os órgãos públicos, ao que parece aos olhos já entorpecidos dos que leem ou assistem às notícias, se desencavam, todo dia, escândalos de corrupção, prevaricação, desvio de verbas, estelionato, tráfico de influência, negligência criminosa e o que mais se possa imaginar de trambique ou falcatrua. E em seguida assistimos à ridícula, com perdão da má palavra, microprisão até de "suspeitos" confessos ou flagrados. A esse ritual da microprisão (ou nanoprisão, talvez, considerando a duração de algumas delas) segue-se o ritual de soltura, até mesmo de "suspeitos" confessos ou flagrados. E que fim levam esses inquéritos e processos ninguém sabe, até porque tanto abundam que sufocam a memória e desafiam a enumeração.

Manda a experiência achar que não levam fim nenhum, fica tudo por isso mesmo, porque faz parte do padrão com que nos domesticaram (taí, povo domesticado, gostei, somos também um povo muito bem domesticado) saber que poderoso nenhum vai em cana. E é claro que, por mais que negue isso com lindas manifestações de intenção e garantias de sigilo (como se aqui, de contas bancárias de caseiros a declarações de imposto de renda, algo do interesse de quem pode ficasse mesmo sigiloso), essa ideia de esconder os preços das obras da Copa tem toda a pinta de que é mais uma armação para meter a mão em mais dinheiro, com mais tranquilidade. Ou seja, é para roubar mesmo e não há o que fazer, tanto assim que não fazemos. Acho que é uma questão cultural, nós somos desse jeito mesmo, ladravazes por formação e tradição.


João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica, Bahia, em 23 de janeiro de 1941. Iniciou no jornalismo trabalhando como repórter no Jornal da Bahia e, tempos depois, tornou-se editor-chefe do Jornal A Tribuna da Bahia. Com seu livro, Sargento Getúlio, de 1971, ganhou o Prêmio Jabuti. Morou nos EUA, em Portugal e na Alemanha. Participou de adaptações de textos seus e de terceiros para televisão e cinema e foi premiado e homenageado em várias partes do mundo. Atualmente assina textos semanais nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. É um dos mais importantes escritores brasileiros contemporâneos, autor de clássicos como Viva o Povo Brasileiro, que já superou a marca dos 120 mil exemplares vendidos e é membro da Academia Brasileira de Letras. Escreveu mais de 15 livros, traduzidos em 16 países.



Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo" – (Cultura).
Domingo, 23 de junho de 2011.





CAPISCI MALEDETTO ? – Bootlead







Monday, December 20, 2010

"Militares Brasileiros", mas pode chamar de "bundões".
Dá no mesmo!





Cueca blindada para quem precisa
por Jorge Serrão

O Exército Britânico investirá US$ 9 milhões (cerca de R$ 16 milhões) na compra de 45 mil pares de cuecas blindadas para proteger suas tropas no Afeganistão. Parecidas com shorts de ciclismo e feitas com um material balístico especial produzido a partir de seda e tecidos sintéticos, o cuecão vai proteger os militares de ferimentos na área pélvica, causados pelas bombas do Talibã nas estradas.

Um cuecão assim, com o devido reforço traseiro, cairia bem para as Forças Armadas Brasileiras, na conjuntura atual. Aliás, haja cueca. Nossos militares são constantes vítimas de bombas de efeito ideológico. E devem preparar a blindagem para aquilo que está previsto na END (Estratégia Nacional de Defesa). Explodirá, em breve, a bomba da reengenharia no Exército, Marinha e Aeronáutica. Quem não for compulsoriamente para a reserva, no enxugamento da estrutura burocrática, que se prepare.

Já vazou há muito tempo – a ostensivamente negada – intenção de renovar os quadros das três Forças – principalmente o EB – com "profissionais" menos identificados com aqueles ideais ante e pós-1964. Com apoio descarado dos melancias (verde oliva por fora e vermelhos por dentro) que formam a Tropa de Elite Petralha -, a intenção dos estrategistas da Defesa é promover um grande "caroneamento".

Oficiais das turmas de 1973 a 1980 seriam convidados a "pedir para sair". Seriam "promovidos" indo para a reserva. Subiriam um posto acima no contracheque. Seria uma espécie de cala-bolso. Os novos oficiais – identificados com a Nova Ordem Petralha – ganhariam promoção na ativa. Os que adoram a vida militar ainda teriam uma outra opção. Seriam convidados a aderir à Força Nacional de Segurança. Claro, com vantagens salariais para deixar o EB, a Armada ou a FAB. Assim, as três Forças seriam cuidadosamente enfraquecidas. Sem Defesa. Nem adianta cuecão blindado!

O esquema de reengenharia das FFAA é para anteontem. Por isso, o Genérico Nelson Jobim resolveu pedir à futura chefona-em-comando que deixe nos cargos os atuais chefes militares: Enzo Peri, do Exército; Júlio Soares de Moura Neto, da Marinha; e Juniti Saito, da Aeronáutica. Os três liderarão o enxugamento. Cumprida a missão dolorosa, acabam premiados com algum cargão em empresa estatal de economia mista. E passam a espada para militares ainda mais identificados que eles com o dilmalulopetismo.

Para cuidar dos bilionários negócios de reaparelhamento das três Forças, os milicos não precisam se preocupar. O PMDB já chamou o Moreira – que o velho slogan eleitoral jurava que era "Franco, Seguro e Capaz". Se a marketagem é real, só Deus sabe. Só não restam dúvidas de que o futuro Secretário de Assuntos Estratégicos é o maior aliado das empreiteiras que comandarão o reequipamento das Legiões. Jobim terá de trabalhar com o Moreira. Imposição do Michel Temer. Mesmo contrariando a Dilma.

Enquanto a reengenharia não atinge as Legiões, tudo fica pior que antes nos quartéis do Abrantes. As Forças Armadas tomam cada vez mais pancadas ideológicas. Perdem, de goleada, a guerra assimétrica promovida pelos vencedores do confronto pós-dita-dura. Tornam-se alvos fáceis dos pretensos defensores dos Direitos Humanos. Vide a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos – apoiada pela Comissão de Anistia daqui – que deseja punição para os acusados de tortura durante o governo dos presidentes militares.

Quer mais? Enquanto os quartéis faltam recursos até para comprar comida para a tropa, sobra grana para outras inutilidades. O chefão $talinácio liberou a primeira parcela de R$ 30 milhões de um total de R$ 44,6 milhões de indenização à União Nacional dos Estudantes (UNE) como reparação pelos danos causados à entidade durante a ditadura militar (1964-1985). Os R$ 14,6 milhões restantes entrarão no Orçamento de 2011. Dilma vai mandar pagar.



Sorte da petralhada que os militares de hoje se parecem com aquele gauchão da piadinha homofóbica. O valentão não tolera que passem a mão em seu traseiro. A não ser que a dedada tenha duração mínima de meia hora. Assim, fica tudo como dantes na poupança do Abrantes. Para os covardes que aceitam perder a guerra assimétrica, nem cuecão blindado salva.

Ainda bem que é assim. Custaria mais caro à Nação se Moreira e Jobim precisassem encomendar o protetor milionário para tantos bundões que defecam no sagrado juramento à Bandeira do Brasil.


Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast "Alerta Total". Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.








Publicado no blog "Alerta Total".
Domingo, 19 de dezembro de 2010.






Falta de respeito – Olavo de Carvalho








Friday, December 10, 2010

Mui respeitosamente...





"Beijódromo" é um estímulo à transformação da universidade em espaço lúdico-erótico onde um governo de vigaristas possa obter ganhos publicitários junto à população estudantil.

Falta de respeito
por Olavo de Carvalho

Por que devemos consentir em continuar chamando de "Sua Excelência, o Senhor Ministro da Educação" um semianalfabeto que não sabe sequer soletrar a palavra "cabeçalho"? Por que devemos continuar adornando com o título de "Sua Excelência, o Senhor Ministro da Defesa" um civil bocó que se fantasia de general sem nem saber que com isso comete ilegalidade? Por que devemos honrar sob a denominação de "Sua Excelência, o Senhor Ministro da Cultura" um pateta sem cultura nenhuma? Por que devemos curvar-nos ante a magnificência presidencial de um pervertido que se gaba de ter tentado estuprar um companheiro de cela e diz sentir nostalgia do tempo em que os meninos do Nordeste tinham – se é que tinham – relações sexuais com cabritas e jumentas?

Essas criaturas, é certo, têm o direito legal a formas de tratamento que as elevam acima do comum dos mortais, mas até quando nossos nervos suportarão o exercício supremamente antinatural e doentio de fingir respeito a pessoas que não merecem respeito nenhum, que só emporcalham com suas presenças grotescas os cargos que ocupam? Respeito, afinal de contas, é noção hierárquica: sem o senso da distinção entre o melhor e o pior, o alto e o baixo, o excelso e o vulgar, não há respeito possível.

Nietzsche já observava: Quem não sabe desprezar não sabe respeitar. Se um sujeito que só merece desprezo aparece envergando um uniforme, ostentando um título, exibindo um crachá que o diz merecedor de respeito, estamos obviamente sofrendo uma agressão psicológica, um ataque de estimulação contraditória, ou dissonância cognitiva, que esfrangalha o cérebro mais vigoroso e reduz ao estado de cãezinhos de Pavlov as mentes mais lúcidas e equilibradas.

Um povo submetido a esse regime perde todo senso de gradação valorativa, todo discernimento moral. Prolongado o tratamento para além de um certo ponto, a sociedade entra num estado de desmoralização completa, de apatia, de indiferentismo, onde só os mais cínicos e desavergonhados podem sobreviver e prosperar.

Mas não é só nas pessoas que o encarnam que o presente governo é uma usina de estimulações desmoralizantes. Impondo a sodomia como o mais sacrossanto e incriticável dos atos, as invasões de terras como modalidade superior de justiça fundiária, o abortismo como dever de caridade cristã, a distribuição de pornografia às crianças como alta obrigação pedagógica, Suas Excrescências estão fazendo o que podem para sufocar, na alma do povo brasileiro, toda capacidade de distinguir entre o bem e o mal e até a vontade de perceber essa distinção.

Nunca, na história de país nenhum, se viu uma degradação moral tão rápida, tão geral e avassaladora. Os crimes mais hediondos, as traições mais flagrantes, os escândalos mais intoleráveis são aceitos por toda parte não só com indiferença, mas com um risinho de cumplicidade cínica que, nesse ambiente, vale como prova de realismo e maturidade.

Em cima de tudo, posam as personalidades mais feias e disformes, ante as quais mesmo homens sem interesses obscuros em jogo se sentem obrigados a debulhar-se em louvores e rapapés.

Num panorama tão abjeto, destacam-se quase como um ato de heroísmo as manifestações de desrespeito ostensivo com que os estudantes da Universidade de Brasília saudaram, na inauguração do "beijódromo", o presidente da República, seu ministro da Incultura e o reitor José Geraldo Souza Júnior.

Que é um "beijódromo", afinal? Idéia suína concebida na década de 60 por Darci Ribeiro, um dos intelectuais mais festeiros e irresponsáveis que já nasceram neste País, então deslumbrado com a doutrina marcusiana da gandaia geral como arma da revolução comunista, o "beijódromo" é um estímulo à transformação da universidade em espaço lúdico-erótico onde um governo de vigaristas possa obter ganhos publicitários explorando calhordamente os instintos lúbricos da população estudantil, assim desviada dos deveres mais óbvios que tem para consigo mesma e para com o País.

Meu caro amigo Reinaldo Azevedo assim resumiu o caso: "Um estado totalitário reprime o tesão. Um estado demagogo o estatiza." Peço vênia para discordar. Excetuados os países islâmicos, só alguns regimes autoritários, de natureza transitória, ousaram impor a repressão sexual.

A exploração estatal do erotismo é característica inconfundível dos regimes totalitários e revolucionários. Quem tenha dúvida fará bem em percorrer as 650 páginas do estudo magistral de E. Michael Jones, Libido Dominandi: Sexual Liberation and Political Control (St. Augustine’s Press, 2000). O "beijódromo" é a cristalização mais patente de um totalitarismo em gestação.

Os gritos e insultos com que Lula foi recebido por estudantes que querem algo mais que pão, circo e orgasmo refletem um fundo de sanidade que ainda resta na alma popular: nem todos os cérebros, neste País, estão perfeitamente adestrados na arte de bajular o que não presta.

Esse protesto impremeditado, espontâneo, sem cor ideológica definida, traz a todos os brasileiros a mais urgente das mensagens: no estado de degradação pomposa a que chegamos, só uma vigorosa falta de respeito pode nos salvar.


Olavo Luís Pimentel de Carvalho nasceu em Campinas, SP em 29/04/1947 é escritor, jornalista, palestrante, filósofo, livre pensador e intelectual, tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros, publica regularmente seus artigos nos jornais "Diário do Comércio", "Jornal do Brasil" e no site "Mídia Sem Máscara", além de inúmeros outros veículos do Brasil e do exterior. Já escreveu vários livros e ensaios, sendo que o mais discutido é "O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras" de 1996, que granjeou para o autor um bom número de desafetos nos meios intelectuais brasileiro, mas também uma multidão de leitores devotos, que esgotaram em três semanas a primeira edição da obra, e em quatro dias a segunda. Atualmente reside em Richmond-Virginia, EUA onde mantém o site "Olavo de Carvalho" em português e inglês, sobre sua vida, obras e idéias. E-mail: olavo@olavodecarvalho.org


Publicado no jornal "Diário do Comércio" – Opinião.
Quinta-feira, 09 de dezembro de 2010, 19h53.




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O exército, o político, o morro e a morte. – Revista Piauí








Friday, November 26, 2010

JÁ SE ESQUECERAM?!
SÓ PARA LEMBRAR: O EXÉRCITO NÃO É CAPITÃO-DO-MATO!

No Estadão de hoje: Exército ficará no Alemão até julho



























O exército, o político, o morro e a morte.
por Cristina Tardáguila repórter da Revista Piauí

"Das manchetes ao esquecimento: o caso Providência faz dois anos.

Às seis horas da manhã de 14 de junho de 2008, os amigos David Florêncio, Wellington Gonzaga e Marcos Paulo Campos desceram do táxi, na praça Américo Brum, no alto do morro da Providência - a favela mais antiga do Rio de Janeiro. Chegavam de um baile funk.

Os rapazes, moradores da comunidade, falavam alto e riam, chamando a atenção dos comerciantes que abriam suas lojas ainda com o céu escuro. Do outro lado da praça, um grupo de militares do Exército - que havia seis meses patrulhava a área como parte da estratégia de segurança do Cimento Social, um projeto de reforma de casas populares -, também se virou para acompanhar o burburinho.

Como o táxi continuava estacionado, um dos soldados ventilou a hipótese de que os jovens dariam calote no motorista. Resolveram averiguar a situação. Onze homens fardados e armados com pistolas e fuzis caminharam em direção ao veículo.

Foi quando um dos militares enxergou um objeto bojudo e suspeito na cintura de um dos rapazes e fez sinal aos colegas. Como em uma coreografia ensaiada, o grupo levou as mãos aos coldres e passou a gritar, produzindo uma torrente confusa de ordens. Os jovens entenderam que precisavam se encostar no muro para serem revistados.

Protestaram. Argumentaram que eram moradores da favela, que os militares os conheciam havia tempo e que eram pessoas "de bem". Um dos três ainda emendou: "Vocês não mandam aqui!"

Os soldados seguiam berrando para que os jovens abrissem as pernas, levantassem os braços e se colassem à parede. Diante da cena, o taxista, que recebera pela corrida, partiu acelerando o carro.

Dez minutos se passaram e o bate-boca seguia inflamado. A essa altura, moradores e transeuntes compunham uma platéia aturdida. Alguém de dentro da padaria gritou: "Mostra logo para eles que vocês não têm nada e pronto!"

Como se estivessem em câmera lenta - resultado provável do consumo excessivo de álcool durante a noitada -, os rapazes finalmente levaram as mãos à nuca. O movimento fez com que a camiseta de um deles se levantasse revelando a natureza do objeto bojudo e suspeito: era um celular.

De acordo com testemunhas, alguns soldados se entreolharam. O excesso contra os jovens de celular os deixara claramente desconfortáveis. Um dos militares subiu a voz. Disse que, ainda assim, os três seriam levados para "averiguações" na base militar recém-instalada no bairro do Santo Cristo, aos pés do morro da Providência - o que deflagrou um novo embate verbal.

Os rapazes xingavam, faziam gestos obscenos e os soldados davam o troco na mesma moeda. No meio da confusão, um dos jovens se desvencilhou do cerco militar e saiu correndo, seguido pelos dois amigos. Tentavam entrar no beco que os levaria para casa - uma viela escura de menos de 2 metros de largura que desembocava num emaranhado de barracos.

Com as armas em punho e sob o olhar estupefato dos espectadores, os militares iniciaram uma perseguição. O Tenente Vinicius Ghidetti, um capixaba de 25 anos, casado e com um filho de 2 meses, comandava a operação. Enquanto corria, levantou o braço e atirou para o alto. O disparo fez com que moradores se jogassem no chão, passantes se escondessem atrás de muretas e os curiosos - que já somavam mais de cinquenta pessoas - escapassem para dentro das lojas.

Os três rapazes foram capturados e levados de volta à praça. Zé do Guaraná, um paraibano que vive na Providência há quatro décadas e é dono de uma loja de materiais de construção, ainda guarda detalhes. "O Marcos Paulo tentou se distanciar do grupo, mas um soldado negro e alto puxou ele de volta e ficou dizendo: 'Não! Não! Você fica aqui também'", contou.

Durante uma hora, os rapazes permaneceram sentados no chão, sob o bulício revoltado dos moradores, à espera do jipe oficial que os levaria para a base militar, onde seria checado se tinham pendências com a Justiça. Foi nessa situação que Bárbara Gonzaga, uma jovem magra de cabelos frisados, viu seu irmão, Wellington, pela última vez.

"Quando cheguei perto, um soldado me disse: 'Pode se despedir dele. Pode se despedir'", contou, numa manhã recente, na sala de sua casa, no coração da Providência.

Às 7h30, David, Wellington e Marcos Paulo entraram no jipe. Os presentes ouviram quando os militares disseram que em breve os três estariam de volta. "Quando o jipe desapareceu pela ladeira, fiquei desesperada. Senti uma coisa muito ruim", lembrou Bárbara.

A informação de que três jovens tinham sido detidos levou um átimo para cruzar a favela. Desde a chegada dos 290 militares ao morro da Providência, dezoito episódios de desacato - média de quase um por semana - haviam sido registrados. O clima amistoso entre Exército e moradores parecia ser mais uma quimera das autoridades, própria para consumo externo, do que a realidade cotidiana da favela.

David, Wellington e Marcos Paulo eram vizinhos. Quem os visse juntos, poderia tomá-los por irmãos. O corte de cabelo era igual - curto, raspado a máquina -, a altura era semelhante e as roupas, parecidas.

O mais velho era David. Tinha 24 anos e cursava à noite o último ano do ensino médio. Durante o dia, trabalhava numa LAN house. Aos 19 anos, Wellington concluía o 2º ano do ensino médio na mesma escola. Fazia bicos como contínuo, entregador de pizza e garçom. Ambos tinham passagem pela polícia. Quando ainda não tinham completado 18 anos, Wellington fora apreendido por associação ao tráfico e David, por porte de arma e corrupção de menores. Marcos Paulo tinha 17 anos e a ficha limpa. Estava na 7ª série.

Às 8 horas, o Tenente Vinicius Ghidetti chegou à base militar do Santo Cristo trazendo consigo os três jovens. Ali, encontrou-se com o Capitão Laerte Ferrari, a quem relatou o ocorrido. Ghidetti sugeriu a seu superior que enquadrasse os rapazes por crime de desacato a autoridade.

O Capitão Ferrari mandou o Tenente ignorar o episódio e soltar os jovens. Ghidetti bateu continência sem disfarçar a contrariedade. Naquele momento, lembrou-se do que lera no documento confidencial elaborado pelo Exército durante o período de planejamento da operação na Providência. "Nenhuma fração da Força Terrestre pode ser derrotada e o Exército Brasileiro não pode ser desmoralizado."

Meses depois, Ghidetti explicou a razão pela qual decidira não acatar a ordem do seu superior. Livrar os jovens de uma repreensão que lhe parecia merecida poderia afetar o moral e o prestígio da tropa junto aos moradores da favela. Foi assim que, segundo afirmou em juízo, decidiu que David, Wellington e Marcos Paulo mereciam uma lição.

Horas antes, assim que o jipe saiu de seu campo de visão, Bárbara Gonzaga correu para avisar sua mãe, Lílian, sobre Wellington. Lílian, de 43 anos, que na hora fazia a faxina da Vila Olímpica da Gamboa, largou o serviço e foi uma das primeiras pessoas a chegar à base militar onde estavam seu filho e os dois amigos.

Da cancela, era possível enxergá-los ainda no pátio. "Eu vi os soldados obrigando os meninos a sentar e levantar milhares de vezes, só de maldade. Gritei pra eles liberarem os garotos, mas eles me ignoraram." Segundo Lílian, seu filho estava arranhado e com a blusa rasgada.

Benedita Monteiro, avó de David, uma cearense de 70 anos e de pele vincada, ainda dormia quando soube que seu neto predileto havia sido capturado pelo Exército. Teve tempo apenas de calçar os chinelos antes de sair a sua procura. "O que vocês fizeram com o meu menino?", perguntou ao primeiro homem fardado que cruzou no caminho. "Não se preocupe, tia. Eles foram fazer uma averiguação e já voltam", respondeu o soldado.

Ao chegar em frente à base do Santo Cristo, ela foi recebida com hostilidade. "Os militares atiçavam uns bichões enormes contra a gente", disse. Bichões, explicou, eram cachorros.

Maria de Fátima Barbosa, de 50 anos, criara Marcos Paulo desde que ele tinha 6 anos. A avó do menino falecera e ela, como vizinha, assumira para si a responsabilidade. "Desde então, cuidei dele como se tivesse saído de mim", contou. Também estava deitada quando soube do ocorrido. Mandou sua filha mais velha ir atrás da história.

Por volta das 9 horas, cerca de cinquenta pessoas se aglomeravam no portão da base militar para exigir a libertação dos rapazes. Gritavam, xingavam e pediam clemência. O Tenente Vinicius Ghidetti ignorou os protestos. Reuniu sua tropa e mandou que subisse num caminhão onde já estavam os jovens.

Os rapazes se equilibravam na boleia do veículo quando Ghidetti avisou: "Vou escrever 'CV' na testa de vocês", referindo-se à sigla do Comando Vermelho, a facção criminosa que domina a Providência. Segundos depois, aprimorou a idéia. Disse que os largaria num morro controlado por um grupo rival. Para bom entendedor, aquilo tinha o peso de uma sentença de morte.

Ghidetti mandou chamar um colega que conhecesse a geopolítica da violência local. Foi informado de que a favela da Mineira - a dois passos do Sambódromo, como se pode constatar pelos desfiles de escola de samba - era controlada pela Amigos dos Amigos, a "ADA", inimiga intestina do Comando Vermelho.

Ordenou ao motorista que deixasse a base pelos fundos, de modo a evitar a multidão. Cruzou novamente com o Capitão Ferrari, que se surpreendeu com o fato de os rapazes ainda estarem por ali. O Capitão quis saber por que sua ordem não fora cumprida.

Ghidetti explicou suas razões: soltar os rapazes na base pareceria concessão à pressão das famílias, o que seria vexaminoso. Ele os liberaria "um pouco mais à frente". O chefe se deu por satisfeito e autorizou a passagem do veículo.

Em dez minutos, o caminhão do Exército chegou ao morro da Mineira. Segundo o relato de Ghidetti, no trajeto ele chegou a perguntar aos jovens se estavam arrependidos por terem desacatado a tropa, mas, como "não obteve respostas satisfatórias", determinou que o motorista seguisse para as vielas da favela.

Não tardou para que o veículo fosse parado por traficantes armados. Em seu depoimento ao Conselho Especial de Justiça, Ghidetti classificou o encontro com os criminosos como "contato fortuito". Segundo disse, jamais havia falado ou visto qualquer um deles. A prova seria o fato de terem ficado sob a mira dos bandidos até um sargento descer do caminhão e esclarecer que não haveria conflito.

De acordo com o relato de pelo menos três integrantes do pelotão, Ghidetti começou o diálogo com os traficantes avisando que trazia "um presentinho". O Tenente nega veementemente a frase. Diz também ser falsa a informação de que teria feito um acordo com a facção Amigos dos Amigos para "vender" os jovens, como chegou a ser divulgado à época.

Entretanto, reconhece ter informado que os rapazes eram da Providência e mereciam um "susto". De acordo com o testemunho de alguns soldados, a conversa foi encerrada com um aperto de mão entre um dos chefes do crime organizado local e o Tenente Ghidetti, que se despediu dizendo: "Valeu."

Assistindo à cena, apavorados, os jovens tentaram fugir, mas foram capturados com facilidade. Não tinham escolha. De um lado, havia as armas dos criminosos. Do outro, as do Exército Brasileiro. Ficaram com os traficantes.

A tropa tomou o caminho de volta. Ao chegar à base, os familiares ainda protestavam. Ghidetti mandou que seus soldados informassem que os rapazes tinham sido soltos no centro da cidade. Ao pelotão, pediu discrição sobre o episódio.

Anoitecia e ainda não havia notícias de David, Wellington e Marcos Paulo. As famílias tinham passado o dia peregrinando por hospitais, delegacias e andando a esmo pelo centro da cidade.

Uma vizinha de Maria de Fátima, a tutora de Marcos Paulo, recebeu o telefonema de uma prima, moradora do morro da Mineira. Ela dizia que três garotos "de fora do morro" tinham sido vistos por lá. Alguém da família de Wellington resolveu ligar para o tal objeto bojudo e suspeito. Do outro lado da linha, uma voz atendeu: "Já perdeu. Tá morto." A notícia se espalhou rapidamente pela comunidade.

Minutos depois, mais de 100 pessoas se concentravam na Praça Américo Brum. Os militares pediram reforço e subiram em um coreto para se proteger da multidão, que atirava pedras e garrafas. Revidaram com tiros para o alto.

A vereadora Líliam Sá, do Partido da República, cujo rosto podia ser visto nos cartazes que dominavam o entorno da praça, foi chamada às pressas, mas acabou também sendo alvo do gás de pimenta lançado pelos soldados. A confusão varou a madrugada.

O delegado Ricardo Dominguez, responsável pela 4ª DP, lanchava com seus trigêmeos quando foi avisado de que o posto policial estava tomado por familiares de três jovens da Providência que estavam desaparecidos. Ouviu que as pessoas insistiam em envolver o Exército no desaparecimento.

Dominguez, um homem alto, de cabelos bem penteados e pele levemente rosada, entendeu a gravidade do assunto. Ao chegar à delegacia, começou as investigações. Foi pessoalmente à sede do Comando Militar do Leste, a instância máxima do Exército na capital.

Ali, deu de cara com os onze membros do pelotão do Tenente Vinicius Ghidetti, que começavam a amargar uma detenção administrativa por haver desobedecido à ordem para soltar os rapazes. Interrogou-os um por um ao longo da madrugada. "Era tarde quando obtive a confissão do Tenente. Sem qualquer sinal de remorso, ele me contou que havia deixado os jovens na Mineira para que os traficantes lhes dessem um susto", lembrou. "Mas, até ali, não havia corpos. Não se falava em homicídio."

INEXPLICABILIDADES
























Naquela noite, o Disque-Denúncia recebeu sete informações importantes sobre o caso. A partir delas, foi possível reconstituir as últimas horas de David, Wellington e Marcos Paulo.

Para morrer, basta que o indivíduo cruze a fronteira entre duas facções criminosas rivais. Na esquina das ruas Emília Guimarães e Van Erven, diante de vários moradores da Mineira, os três jovens foram baleados depois de serem brutalmente espancados e torturados. Os corpos foram jogados numa caçamba de lixo da praça Doutor Roberto, que a Comlurb recolheu sem saber o que continha.

Nas primeiras horas da manhã seguinte, o delegado Dominguez recebeu um telefonema de um colega do posto policial de Duque de Caxias. Foi informado de que três corpos tinham sido encontrados em Gramacho, no maior aterro sanitário da América Latina, uma montanha fétida que recebe diariamente 9 mil toneladas de dejetos urbanos.

Dominguez ligou para um dos familiares dos rapazes. "Quando atenderam, me identifiquei e perguntei onde estavam. Disseram-me que estavam protestando em frente à base militar do Santo Cristo. Na hora, hesitei. Não queria causar mais tumulto, mas resolvi dizer: 'Olha, desculpa, acharam os corpos.'"

AMEAÇADOS
























De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal, Wellington tinha "19 PAFs", sigla para perfuração por arma de fogo. Um dos tiros estraçalhou seu olho direito. As mãos foram amarradas com fios de náilon que abriram sulcos profundos nos pulsos. Um plástico transparente envolvia o pescoço e a cabeça, de onde escorriam pedaços do cérebro. "Nota-se destruição total da massa encefálica e tronco-cerebral, descolada da dura-máter", escreveu o legista, referindo-se à membrana mais extensa, espessa e fibrosa do cérebro.

David levou 26 tiros e foi amarrado com fios de telefone e cordas de sisal. As pernas tinham diversas fraturas, e o crânio fora fatalmente atingido. O menor Marcos Paulo morreu com dois disparos à queima-roupa.

ENCURRALADOS
























A Associação de Moradores da Providência e organizações não governamentais (ONGs) dispararam telefonemas para a imprensa e para políticos locais, com o intuito de engrossar o protesto iniciado na porta da base. De lá, o grupo marchou até o prédio do Comando Militar do Leste gritando palavras de ordem. "Ah! Ah! Quem matou vai pagar", "Justiça! Justiça!" No meio do caminho, os manifestantes cruzaram com um jipe do Exército, que se viu obrigado a dar marcha a ré e se retirar do local.

No dia seguinte, às seis da tarde, os jovens foram enterrados. Uma hora depois, o Rio de Janeiro testemunharia um dos protestos populares mais violentos de que se tem notícia. Cerca de 300 pessoas atacaram a sede do Comando Militar do Leste com paus, pedras, cartazes, garrafas e até coroas de flores trazidas do cemitério.

Do alto do edifício, os soldados apontavam suas armas para a multidão. Usaram bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogênio para conter o tumulto. O trânsito de algumas ruas e a saída do terminal rodoviário que liga o Centro à Baixada Fluminense foram interrompidos. Houve quebra-quebra de carros, queima de ônibus e saques. A desordem só chegou ao fim no meio da madrugada.


David, Wellington e Marcos Paulo não puderam ser enterrados no cemitério do Caju, o mais próximo de suas casas - no Rio, cemitérios também se dividem entre facções criminosas. O Caju é área exclusiva da Amigos dos Amigos ("ADA"). Os três corpos foram levados para o São João Batista, na Zona Sul da cidade.

Segundo a avó de David, Benedita Monteiro, o enterro dos três - que custou 6 mil reais - foi pago pelos traficantes da Providência. "O dono do morro ligou para a irmã dele, que é quem está no lugar dele enquanto ele está preso, e disse que o movimento não podia agir como se nada tivesse acontecido." Era hora de mostrar apoio às mães e, sobretudo, repúdio total ao Exército e à rival "ADA". Os parentes de Wellington e Marcos Paulo negam essa versão.

ESCORRAÇADOS


























Os meninos foram enterrados em caixão de madeira de lei. Um cortejo os acompanhou até o cemitério: sete ônibus, dezenas de Kombis e inúmeras motos com cartazes afixados em que se lia: "A minha infelicidade é ter votado em você, Lula e Cesar Maia" e também: "Crivella, anjo mau".

No início do ano anterior, 2007, parlamentares do PRB (Partido Republicano Brasileiro), o partido do vice-presidente José Alencar e do senador Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), tinham uma audiência agendada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tratariam de assuntos de praxe, como coligações e cargos.

Na primeira brecha, Crivella pediu a palavra. Tirou da pasta uma fotografia do morro da Providência alterada por Photoshop. Nela, via-se a favela com barracos decadentes ao lado de casas remodeladas, com fachadas refeitas e telhados novos. "Presidente", disse o senador, "a Providência pode ficar assim."

Crivella vendia diretamente ao governo federal o diamante de sua próxima campanha eleitoral: o projeto Cimento Social. A proposta previa a recuperação de 782 casas da favela. Tetos e janelas seriam trocados e paredes, repintadas. Os barracos seriam revestidos com placas pré-moldadas de um centímetro de espessura feitas com uma argamassa patenteada pela Universidade de São Paulo que duraria "mil anos".

Pelo projeto, as novas estruturas resistiriam "ao impacto de balas de até 7,5 milímetros de calibre, a uma distância mínima de 20 metros". Também se previa a implantação de um sistema de esgoto, a instalação de centros comunitários, creches, postes de iluminação e a criação de um sistema de proteção para a rede elétrica e telefônica. Por último, a área seria reflorestada.

Numa tarde recente, Crivella falou da reunião ocorrida há três anos. Segundo disse, o presidente Lula comprou a idéia "no ato" e convocou engenheiros do Ministério das Cidades para ouvir a proposta do senador.

Dias depois, Crivella sobrevoaria de helicóptero a favela carioca em companhia de Ambrosino de Serpa Coutinho, engenheiro da Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades. Em 2008, Crivella foi lançado candidato do PRB à prefeitura do Rio, com o apoio do presidente Lula.

No meio do caminho do Cimento Social, havia Cesar Maia, um obstáculo barulhento e de peso. O então prefeito passou a dizer que a remodelação das casas na Providência não passava de promessa eleitoreira feita às vésperas de um pleito relevante. Queria impugnar a licitação pública das obras.

A reação do Palácio do Planalto foi imediata. Em vez de ser submetido aos trâmites usuais de um projeto público - envio de carta-consulta e cumprimento de todas as etapas burocráticas previstas em lei -, o governo federal acolheu a idéia de Crivella por meio de uma emenda parlamentar apresentada pelo próprio senador.

Em vez de o contrato de repasse de verbas, no valor de 12 milhões de reais, ser firmado entre o Ministério das Cidades e a prefeitura - como seria o usual - estabeleceu-se um acordo de cooperação técnica entre o Ministério das Cidades e o da Defesa. Desse modo, foram dispensados o envolvimento da prefeitura carioca e a fiscalização da Caixa Econômica Federal, a quem compete controlar o uso de recursos públicos em obras de habitação popular.

"Usar o Exército na proteção dos canteiros era a única alternativa viável", explicou Crivella, numa tarde de maio no plenário do Senado, em Brasília. "As polícias do Rio não tinham gente suficiente nem interesse político para executar aquilo", acrescentou.

Quando relembrou o caso da Providência, Crivella lançou o olhar para longe, e ficou assim, como se tomado pela tristeza. Depois de um silêncio, disse que a morte dos três jovens era "uma desgraça". Perguntado sobre quem teria dado a ordem final autorizando a ocupação da favela pelas tropas durante as obras do Cimento Social, ele respondeu sem titubear: "O Lula. O presidente Lula."

Desde a Grécia Clássica se discute se os militares devem ou não atuar dentro das fronteiras do país que defendem. Em A República, Platão sustenta que não, sob pena de comprometer a própria existência do Estado. Na Roma Antiga, os generais evitavam entrar na cidade com suas tropas. Acampavam além do Rubicão, um riacho fora dos muros, como um ato de respeito ao Senado e a Pólis, que tinha sua organização e dinâmica próprias. Quando em 49 a.C, o general Júlio César resolve violar o entendimento tácito, o resultado é conhecido: a República se transforma em Império, e o cidadão romano é alijado do poder.

Em países como os Estados Unidos, as Forças Armadas costumam ser mantidas à distância dos assuntos internos. Em setembro de 2006, quando o então presidente George W. Bush quis enviar tropas militares a uma Nova Orleans destruída pelo furacão Katrina, precisou de uma manobra política para convencer os congressistas a alterar uma lei que datava do século XIX. Desde então, o Exército tem autorização para atuar dentro das fronteiras nacionais em situações de emergência decorrentes de desastres naturais, epidemias ou ataques terroristas. E só.

Pela Constituição brasileira, se o país não estiver em guerra ou vivendo sob estado de sítio ou de defesa, Exército, Marinha e Aeronáutica podem ser requisitados para agir nas questões de segurança pública mediante a assinatura de um decreto presidencial, mas somente se os órgãos responsáveis pela ordem - as Polícias Federais, Civis, Militares e os Corpos de Bombeiros militares estiverem "indisponíveis, inexistentes ou insuficientes".

No livro "O Uso Político das Forças Armadas e Outras Questões Militares", o coordenador do Centro de Estudos de Direito Militar, o Promotor Militar João Arruda, mostra que, entre 1994 e 2004, o Exército atuou em operações que descaracterizam sua função, como a destruição de plantações de maconha ou a expulsão dos sem-terra da fazenda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"O que se tem observado nos últimos anos é a banalização do emprego das Forças Armadas para enfrentar problemas policiais (...) estão transformando os militares em uma versão atualizada de capitães-do-mato."

Durante o governo Lula, foi criada a Força Nacional de Segurança Pública, constituída por policiais militares e federais. Um dos objetivos era estabelecer uma força que substituísse o Exército nas tarefas cada vez mais constantes a que eram chamados a participarem. Entretanto, em dezembro de 2007, quando se decidiu que a manutenção da ordem nas obras do Cimento Social ficaria a cargo do Exército, a opção não foi sequer cogitada.

Na ocasião em que os militares ocuparam a Providência, não existia qualquer decreto ou solicitação formal assinada pelo presidente Lula. Na melhor das hipóteses, havia uma autorização verbal. O Congresso tampouco fora informado. E as polícias do Rio não tinham decretado falência nem tinham sido declaradas incapazes. Mesmo assim, as tropas começaram a agir. O acordo de cooperação interministerial que validaria a operação só seria assinado quase dois meses depois.

À época do assassinato dos jovens, o Centro de Comunicação Social do Exército emitiu notas sucessivas à imprensa alegando que a presença das tropas se enquadrava nos preceitos de uma "ação subsidiária". É a expressão usada quando soldados ajudam nas campanhas de vacinação e em dias de eleição.

No início de maio, o general Luiz Cesário da Silveira Filho, o número 1 do Comando Militar do Leste à época das obras do Cimento Social, participava de um evento promovido pelo oficialato carioca. Entre apertos de mão, lembrou-se de quando foi avisado por telefone pelo comandante geral do Exército, Enzo Peri, que o senador Crivella o procuraria para tratar do projeto da Providência.

"Ele me pediu que o recebesse bem e assim o fiz", disse. "Mas, quando o senador me contou seus planos, avisei: lá tem drogas e o Exército não convive com o ilícito." Segundo o general Cesário, o político pareceu não se importar com o aviso e insistiu que era possível fazer a obra sem nenhum tiro se a associação de moradores fosse envolvida na empreitada. "Na hora, sugeri que ele voltasse à Brasília", lembrou o militar.

Nos meses que se seguiram, o general produziu alguns informes sobre o risco de uma operação militar no morro da Providência. Ele sabia que, pela posição geográfica e pelos altos índices de criminalidade na área, a operação acabaria tomando contornos de ocupação militar. Mesmo assim, recebeu ordens superiores para tocar a missão.


FANFARRONADAS











































Nove dias depois do crime, o presidente Lula se encontrou com a avó e as duas mães dos rapazes e prometeu indenizar as famílias rapidamente. Na semana seguinte, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou a possibilidade de a União conceder uma pensão vitalícia no valor de um salário mínimo às vítimas. O valor foi considerado risível pelas famílias, que mantiveram uma ação indenizatória contra o Estado correndo na Justiça. No Superior Tribunal de Justiça, a praxe tem sido decretar indenizações de cerca de 500 salários mínimos em casos semelhantes.

Nos dois anos que se seguiram, no entanto, só foram cumpridos dois de cinco mandados de prisão emitidos contra criminosos do morro da Mineira. O governador Sérgio Cabral chegou a justificar a morosidade da polícia, alegando que os policiais não "faziam mágica".

Em agosto de 2008, a Justiça Federal determinou que a União pagasse um salário mínimo às famílias de David e de Wellington - como Marcos Paulo nunca foi formalmente adotado, sua mãe de criação foi excluída - como antecipação de tutela, figura jurídica que antecede a sentença. Em abril, ciente de que os familiares ainda não haviam recebido nada, o juiz solicitou comprovação do cumprimento de sua determinação. Até o mês passado, não recebera resposta.

Pouco antes, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio embargou as obras do Cimento Social por suspeita de viés eleitoreiro em favor do senador Marcelo Crivella. Até aquele dia, o 194º da operação, só trinta das 782 casas prometidas haviam sido reformadas.

Crivella disse ter tirado 800 mil reais do próprio bolso para concluir parte das obras abandonadas. Segundo ele, o projeto chegou à marca de 100 residências renovadas. Quem visita o morro, no entanto, tem dificuldade em apontar mais de vinte.

O senador também comprou um terreno na parte baixa da Providência e contratou operários para, em três dias, construir um minicondomínio. No total, gastou 100 mil reais. Cercou o espaço com grades de ferro, ergueu três casas de dois pisos num terreno plano em forma de "T" e instalou um portão para carros numa viela estreita demais para a passagem de veículos.

A construção foi batizada de "Vila Zé Alencar e Dona Marisa". Ali, moram as famílias dos três jovens assassinados. A irmã de Wellington, Bárbara, riu quando perguntei se as paredes eram mesmo resistentes a tiros. Ela se levantou e apontou para o ar-condicionado. "Eu fiz esse buraco com a ajuda de uma faca de cozinha", disse. Com a ponta dos dedos, mostrou que a parede se esfarela ao toque.

Era final de tarde quando Fátima, que criou Marcos Paulo, comentou: "Gente, todo mundo se esqueceu de nós... Agora a única coisa que importa é essa tal de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)." Olhando para três policiais que conversavam na esquina de sua casa, ponderou: "Eu só queria que me dissessem por que eu devo acreditar que essa polícia pacificadora aí vai dar certo..." Apesar dos fuzis e das pistolas, as UPPs são compostas por policiais militares que recebem treinamento específico e são amparados pela Constituição para atuar na garantia da segurança pública.

AVILTADOS



























Há dois anos, o Tenente Ghidetti está preso numa cela do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, Zona Norte do Rio. O primeiro ano serviu para ele cumprir a única sentença que já recebeu, no caso, da Justiça Militar - 365 dias de cadeia por insubordinação ao Capitão Ferrari. O segundo ano tem sido de espera ao pronunciamento da Justiça Federal. Recentemente, soube que será julgado por triplo homicídio num tribunal do júri. A data ainda não foi marcada.

Ghidetti nunca deu entrevistas, mas enviou para esta reportagem uma carta na qual conta como foi a sua infância e adolescência. Numa folha de papel pautado, ele descreve, em letra de forma, a rotina de um jovem pobre, ambicioso e dedicado à vida militar. Em Nova Venécia, cidade do Espírito Santo onde foi criado, ex-professores falam dele como um menino de boas notas que queria ser astronauta.

Marcelo Crivella, candidato à reeleição para o Senado, está em primeiro lugar nas pesquisas, com 40% das intenções de voto. Mais uma vez, conta com o apoio do presidente Lula.


Publicado na "Revista Piauí" .
Edição nº 46 - Julho de 2010.











A HISTÓRIA SE REPETE, QUEM SERÁ O "TENENTE" DA VEZ? É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO!

Cartum original: © IQUE












































CENAS REPUGNANTES, OU: O PREÇO A PAGAR PELAS PROMOÇÕES. – Bootlead







 
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