Friday, January 18, 2008

Eles não sabem o que fazem, muito menos o que dizem!













































Garibaldi compara Edison Lobão a Winston Churchill
por Josias de Souza

No afã de defender o companheiro de partido da acusação de inépcia elétrica, o presidente do Senado torturou a lógica com um curto-circuito. Garibaldi Alves guindou Edison Lobão, veja você, ao mesmo patamar em que se encontra Sir Winston Churchill.

Ouça-se Garibaldi: “Churchill ganhou a guerra e não era general. Era um grande estrategista, um estadista, não era general. Portanto, Lobão pode ser um grande ministro de Minas e Energia. O José Serra não foi um grande ministro da Saúde?”

As palavras de Garibaldi são de calar um Maracanã lotado em dia de Fla-Flu. Mas deixar um presidente do Senado falando sozinho seria uma descortesia indesculpável. Assim, melhor aceitar a provocação. Lobão e Churchill...

Desprezem-se, por desnecessários, os detalhes. Acentue-se apenas o essencial. Lobão caminhou até o ministério de Lula com os pés de José Sarney. Deixou pelo caminho a convicção de despreparo e um filho-suplente com muito a explicar.

Churchill foi ao posto de primeiro-ministro da Grã-Bretanha equilibrando-se nos próprios sapatos. Chamavam-no de bêbado, oportunista e pé-frio. Pisou o preconceito e esmigalhou o favoritismo de um amigo do rei, Lord Halifax.

Lobão chega ao primeiro escalão para prover ao PMDB cargos nas estatais do sistema Eletrobras e na Petrobras. À malta, oferece a perspectiva de um reajuste da conta de luz. Churchill tinha ambições mais modestas e menos a ofertar: "Não tenho nada a oferecer, senão sangue, suor, trabalho duro e lágrimas".

O adversário de Lobão é a ameaça de racionamento de energia. No ano passado, valorizava-o. Discursou sobre ele duas vezes –primeiro, em abril; depois, em julho. Nas duas ocasiões, falou do “risco muito alto de apagão.” Foi mudando de opinião à medida que se aproximava da Esplanada. Até se desdizer integralmente. Agora, agarrado a São Pedro, afirma que as chuvas de verão derrotarão o fantasma.

O inimigo de Churcill chamava-se Adolf Hitler. Concentrou-se nele. Jamais o menosprezou. Quando Hitler marchava sobre Paris a Bélgica já de joelhos, o exército britânico encurralado no porto de Dunquerque-, disse: "Ofereço visão, valentia e vitória". Quando a Europa parecia à mercê do Füher, reforçou a dose: "Vamos defender nossa ilha a qualquer custo, vamos lutar nas praias, vamos lutar nos campos e nas ruas, vamos lutar nas montanhas; nós nunca nos renderemos".

Lobão se autoconcedeu o prazo de 30 dias para concluir as nomeações de sua pasta. "Vou ouvir o PMDB e outros partidos aliados. Tanto quanto for possível, vou (atender às reivindicações do PMDB). Desde que sejam boas, vou atendê-las", avisou. O triunfo do PMDB e demais "aliados" corresponderá, neste caso, a mais uma derrota dos bons costumes e a uma nova invasão do Tesouro Nacional.

Em período mais curto, Churchill cavou um lugar na historiografia. Seu apogeu encontra-se magnificamente descrito no livro “Cinco Dias em Londres: Negociações que Mudaram o Rumo da 2ª Guerra", do historiador norte-americano John Lukacs. Conta como Churchill preservou a Grã-Bretanha, acudiu a Europa e começou a livrar o mundo civilizado do nazi-fascismo. Tudo entre os dias 24 e 28 de maio de 1940.

No dia em que a folhinha alcançar 31 de dezembro de 2010, Lobão, Garibaldi e o PMDB de ambos serão notas de rodapé no capítulo dedicado à fisiologia que infelicitou a era Lula. Filhos de uma cruza do instante com o circunstante, não terão lugar na estante. Esse barulho que se ouve ao fundo é Sir Churchill revirando no túmulo. Revoltou-se com a afronta de uma comparação despropositada. Julga-se merecedor de companhias mais edificantes.



Josias de Souza, nascido em 1962, é jornalista desde 1984. Trabalha na Folha de S.Paulo há 20 anos. Nesse período, ocupou diferentes funções, de repórter a Secretário de Redação do jornal. Hoje, é colunista da Folha. Publicou em 1994 o livro "A História Real" (Editora Ática), em co-autoria com Gilberto Dimenstein. O trabalho revela os bastidores da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2001, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de "Os Papéis Secretos do Exército".





Publicado no blog "Josias de Souza".
Sexta-feira, 18 de janeiro de 2008, 00h54.




Depois daquela foto ou “O dever dos democratas” – Reinaldo Azevedo

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