Isso é muito sério: Até o pai da "criança" (FHC), já admite que gerou um "monstro".
E os milicos? Ora, continuam acovardados e "deitados em berço esplêndido"!
Para onde vamos?
por Fernando Henrique Cardoso
A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da terra", de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?
Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.
É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista" deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?
Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha casa, minha vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.
Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar "l'État c'est moi". Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.
Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.
Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.
Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.
É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista" deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?
Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha casa, minha vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.
Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar "l'État c'est moi". Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.
Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.
Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.
Fernando Henrique Cardoso (FHC), nasceu no Rio de Janeiro em 18 de junho de 1931, é professor, sociólogo, cientista político e escritor. FHC, foi Senador da República, Ministro das Relações Exteriores, Ministro da Fazenda e Presidente da República por dois mandatos (1995-2002). Atualmente FHC, preside o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e participa de diversos conselhos consultivos em diferentes órgãos no exterior, além de ser presidente de honra do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), partido este, que foi co-fundador.
Publicado no jornal "Zero Hora" – (Edição Nº 16142).
Domingo, 01 de novembro de 2009.
NIVALDO CORDEIRO "TRADUZ" FHC. PERFEITO!
FHC E O TEMA DE NOSSO TEMPO
por José Nivaldo Cordeiro
O tema de nosso tempo é o totalitarismo (que chamei de Estado Total) e o Brasil caminha a passos largos na sua direção. Os leitores que me acompanham estão perfeitamente cientes dos perigos que nos rondam. E quero confidenciar aqui, que o artigo hoje publicado em vários jornais pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (v. texto acima), ao mesmo tempo que me envaideceu, me deixou entristecido. Vejo que vários dos pontos preocupantes que tenho levantado em minhas análises foram plenamente endossados por ele. FHC também está muito preocupado com o futuro político do Brasil. Ter a concordância de FHC mostra que, de fato, não tenho errado nas análises, algo a envaidecer-me. Porém, fico triste porque acertar aqui é perder, pois os riscos emergem de todos os lados, as ameaças brotam, a sociedade treme inerme diante do Estado Total petista.
FHC inicia o artigo indo direto ao ponto principal, a plena alienação da sociedade brasileira diante da arrogância e exorbitância do governo Lula: "A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio 'talvez' porque alguns estão de tal modo inebriados com 'o maior espetáculo da terra', de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?"
FHC só não pode afetar surpresa por isso. Ele sabe perfeitamente bem que o grande eleitor de Lula e o pavimentador dos caminhos do PT ao poder foi ele mesmo. A alienação da sociedade aconteceu em larga medida em seu próprio tempo de poder e oriunda de seus próprios métodos. Não faz muito eu comentei a entrevista que FHC deu à revista Dicta&Contradicta (v. AQUI ), na qual ele se declarou partidário dos métodos políticos de Gramsci. Ora, o resultado disso não seria coroado no seu governo, socialista meia-boca, ainda com o ranço "burguês". A social-democracia sempre preparou o terreno para que os radicais desembarcassem no poder de Estado. Como teórico da revolução gramsciana ele tem perfeitamente claro como funciona a coisa toda.
FHC completou no exórdio do artigo: "Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos".
Sim, tem método, o método usado por FHC ele mesmo e seu grupo, desde antes de chegar ao poder. Impessoal, a despeito do príncipe tresloucado, um estúpido com cara de torcedor e futebol. A revolução no ensino, alienando os jovens, a edição de material didático mentiroso, o agigantamento acelerado do Estado, do lado da receita e da despesa, o controle ideológico dos meios de comunicação, foi tudo que FHC realizou. Até mesmo as malditas bolsas em troca de votos foi criação sua. FHC se preocupa talvez porque um insensato é um príncipe despreparado. Ora, quando os demônios são soltos fazem coisas que se esperam deles. Afinal, são demônios. É o que estamos vendo. Nada do que Lula faz é diferente do que FHC fez, exceto que o processo é cumulativo e está em grau muito mais avançado, praticamente temos vinte anos nessa marcha forçada no rumo do totalitarismo. Que a revolução gramsciana se faz assim mesmo, "devagarinho, quase sem que se perceba". Agora FHC chama a isso de "pequenos assassinatos", figura notavelmente apropriada, mas ele é mais que cúmplice desses crimes, pode ser considerado o mandante. FHC poderia ter salvo o Brasil desse desastre, mas jamais quis isso. Como um Fausto tupiniquim achou que poderia negociar com Mefistófeles sem entregar a alma. O fogo arderá para todos. FHC deu-se conta da dimensão da tragédia que nos espera.
Completou: "Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do 'autoritarismo popular' vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: 'Minha casa, minha vida'; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos".
FHC teve a coragem de vir a público dizer essas coisas todas, uma surpresa para mim. Falar, como fez, em autoritarismo popular é ainda um eufemismo, mas uma figura de linguagem que já dá a dimensão trágica do real. Afinal, FHC carrega a autoridade de ex-presidente, patrono de todos os esquerdistas, inclusive e sobretudo de Lula e seu grupo. De uma maneira que me pareceu desapropriada comparou as ações de Lula com as dos governos militares, esquecendo-se de dizer que os militares implantaram o regime de força para livrar o Brasil das mesmas forças totalitárias aglutinadas em torno de Lula; e, depois, fizeram a abertura política e entregaram o poder aos civis, sem qualquer trauma. O processo agora é precisamente o inverso e mais paralelo, vejo como o período imediatamente anterior ao pré-64: as esquerdas se aproximando do poder total pela via democrática, objetivando destruir a ordem democrática para perpetuar-se. FHC não perdeu o sestro de falar mal dos militares, para cortejar talvez aqueles a quem denuncia no artigo. Seu medo ainda não alcançou as devidas dimensões.
Não obstante, foi capaz de escrever: "Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados". Nesse trecho podemos notar sua ansiedade e sua urgência. Partido e Estado formando uma unidade é o totalitarismo com todas as letras e o Brasil já vive isso, conforme ele observou. Infelizmente, é o que tenho escrito há bem mais tempo. Esse processo começou no dia da posse de Lula. Este artigo tardou a ser escrito.
Em meus artigos os leitores têm lido muito sobre o papel adquirido na economia pelos fundos de pensão e como eles se tornaram instrumentos para a chegada ao socialismo, a partir da resenha que fiz do livro de Peter Drucker (v. AQUI ). É a primeira vez que vejo o problema colocado nos mesmos termos que tenho escrito: "Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".
Pergunta: quem tem força para dar basta ao continuísmo? Ora, direis, as estrelas. Quais? As quatro, aquelas mesmas quatro que em 1964 tiveram a força e o discernimento para espantar os alucinados do poder. Que venham enquanto é tempo. Ora, direis, ouvir estrelas... Melhor ouvir clarins?
FHC inicia o artigo indo direto ao ponto principal, a plena alienação da sociedade brasileira diante da arrogância e exorbitância do governo Lula: "A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio 'talvez' porque alguns estão de tal modo inebriados com 'o maior espetáculo da terra', de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?"
FHC só não pode afetar surpresa por isso. Ele sabe perfeitamente bem que o grande eleitor de Lula e o pavimentador dos caminhos do PT ao poder foi ele mesmo. A alienação da sociedade aconteceu em larga medida em seu próprio tempo de poder e oriunda de seus próprios métodos. Não faz muito eu comentei a entrevista que FHC deu à revista Dicta&Contradicta (v. AQUI ), na qual ele se declarou partidário dos métodos políticos de Gramsci. Ora, o resultado disso não seria coroado no seu governo, socialista meia-boca, ainda com o ranço "burguês". A social-democracia sempre preparou o terreno para que os radicais desembarcassem no poder de Estado. Como teórico da revolução gramsciana ele tem perfeitamente claro como funciona a coisa toda.
FHC completou no exórdio do artigo: "Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos".
Sim, tem método, o método usado por FHC ele mesmo e seu grupo, desde antes de chegar ao poder. Impessoal, a despeito do príncipe tresloucado, um estúpido com cara de torcedor e futebol. A revolução no ensino, alienando os jovens, a edição de material didático mentiroso, o agigantamento acelerado do Estado, do lado da receita e da despesa, o controle ideológico dos meios de comunicação, foi tudo que FHC realizou. Até mesmo as malditas bolsas em troca de votos foi criação sua. FHC se preocupa talvez porque um insensato é um príncipe despreparado. Ora, quando os demônios são soltos fazem coisas que se esperam deles. Afinal, são demônios. É o que estamos vendo. Nada do que Lula faz é diferente do que FHC fez, exceto que o processo é cumulativo e está em grau muito mais avançado, praticamente temos vinte anos nessa marcha forçada no rumo do totalitarismo. Que a revolução gramsciana se faz assim mesmo, "devagarinho, quase sem que se perceba". Agora FHC chama a isso de "pequenos assassinatos", figura notavelmente apropriada, mas ele é mais que cúmplice desses crimes, pode ser considerado o mandante. FHC poderia ter salvo o Brasil desse desastre, mas jamais quis isso. Como um Fausto tupiniquim achou que poderia negociar com Mefistófeles sem entregar a alma. O fogo arderá para todos. FHC deu-se conta da dimensão da tragédia que nos espera.
Completou: "Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do 'autoritarismo popular' vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: 'Minha casa, minha vida'; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos".
FHC teve a coragem de vir a público dizer essas coisas todas, uma surpresa para mim. Falar, como fez, em autoritarismo popular é ainda um eufemismo, mas uma figura de linguagem que já dá a dimensão trágica do real. Afinal, FHC carrega a autoridade de ex-presidente, patrono de todos os esquerdistas, inclusive e sobretudo de Lula e seu grupo. De uma maneira que me pareceu desapropriada comparou as ações de Lula com as dos governos militares, esquecendo-se de dizer que os militares implantaram o regime de força para livrar o Brasil das mesmas forças totalitárias aglutinadas em torno de Lula; e, depois, fizeram a abertura política e entregaram o poder aos civis, sem qualquer trauma. O processo agora é precisamente o inverso e mais paralelo, vejo como o período imediatamente anterior ao pré-64: as esquerdas se aproximando do poder total pela via democrática, objetivando destruir a ordem democrática para perpetuar-se. FHC não perdeu o sestro de falar mal dos militares, para cortejar talvez aqueles a quem denuncia no artigo. Seu medo ainda não alcançou as devidas dimensões.
Não obstante, foi capaz de escrever: "Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados". Nesse trecho podemos notar sua ansiedade e sua urgência. Partido e Estado formando uma unidade é o totalitarismo com todas as letras e o Brasil já vive isso, conforme ele observou. Infelizmente, é o que tenho escrito há bem mais tempo. Esse processo começou no dia da posse de Lula. Este artigo tardou a ser escrito.
Em meus artigos os leitores têm lido muito sobre o papel adquirido na economia pelos fundos de pensão e como eles se tornaram instrumentos para a chegada ao socialismo, a partir da resenha que fiz do livro de Peter Drucker (v. AQUI ). É a primeira vez que vejo o problema colocado nos mesmos termos que tenho escrito: "Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".
Pergunta: quem tem força para dar basta ao continuísmo? Ora, direis, as estrelas. Quais? As quatro, aquelas mesmas quatro que em 1964 tiveram a força e o discernimento para espantar os alucinados do poder. Que venham enquanto é tempo. Ora, direis, ouvir estrelas... Melhor ouvir clarins?
Publicado no site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado".
Domingo, 01 de novembro de 2009.
CONTRATO EM FASE DE CONCLUSÃO
A MÃO QUE BALANÇOU O BERÇO
por José Nivaldo Cordeiro
Mais algumas palavras sobre o artigo de FHC (v. AQUI ) publicado no último domingo. A angústia do ex-presidente é a real possibilidade de se consolidar o continuísmo petista. Seu artigo é esse grito de desespero de alguém que construiu a revolução gamsciana achando que controlaria todo o processo e que ele mesmo e seus asseclas iriam manter-se no poder. Não podemos esquecer que na entrevista concedia à revista Dicta&Contradicta (v. AQUI ) FHC declarou que o PT estava apenas temporariamente no poder. Queimou a língua.
Brincou de feiticeiro, soltando os demônios revolucionários e agora não sabe mais como fazer para que eles retornem à caixa de Pandora. Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de Zeus do petismo, tendo parido essa gente de sua própria cabeça. Foi um grande ato de irresponsabilidade política. A arte da política é combinar a legitimidade da democracia com a condução aristocrática dos negócios do Estado. Essa fórmula, esse regime misto, só é possível de ser obtido na chamada democracia burguesa, que pressupõe o respeito à propriedade privada e o Estado Mínimo. E o pluralismo político, que inclua as forças conservadoras com capacidade real de alcançar o poder.
O esforço pessoal e de seus correligionários foi o de precisamente destruir o conservadorismo no Brasil, mesmo a memória do conservadorismo, que nisso consiste a tal revolução gramsciana. Criou-se um artificial abismo de gerações, moldando um homem novo, sem passado, as multidões eleitoras do PT. Descambar para o populismo bolivariano de Lula era o passo lógico subseqüente. FHC achou-se o patrício-mor da Nação. Errou feio. Seu artigo foi a confissão desse erro e do desespero de ver o país caminhar para o abismo, sem nada a fazer. Resta ainda, como última instância, as supremas forças da ordem, as Forças Armadas, aquelas mesmas que FHC humilhou, criando o Ministério da Defesa, condenando seus comandantes à condição de subalternos. Ora, eles nunca foram subalternos e se tem alguém que se assemelhe aos patrícios romanos no Brasil são eles mesmos, os comandantes, não FHC.
Piora o quadro o fato de que FHC não mais controlar o processo político nem mesmo dentro de sua agremiação política, o PSDB. Estamos vendo a rebelião de Aécio Neves, que quer porque quer ser o cabeça de chapa na eleição que se aproxima. Se não o for, fará o que fez nas últimas eleições e trairá o próprio partido, consumando a derrota e o continuísmo petista. Até mesmo uma possível recondução ao governo de São Paulo, de José Serra, pode estar ameaçada, o que seria a suprema tragédia política. Tantas são as besteiras de seus aliados que acabarão por entregar a rapadura aos adversários.
Os demônios (uso o termo aqui no sentido que Dostoievsky usou no famoso romance) soltos e agindo vão pôr fogo no mundo. Fausto encarnado sob o manto de FHC não tem como controlá-los. Tempos de grandes perigos. Não deve FHC se queixar da mão pesada deste modesto escriba, mas dos seus próprios delírios revolucionários.
Brincou de feiticeiro, soltando os demônios revolucionários e agora não sabe mais como fazer para que eles retornem à caixa de Pandora. Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de Zeus do petismo, tendo parido essa gente de sua própria cabeça. Foi um grande ato de irresponsabilidade política. A arte da política é combinar a legitimidade da democracia com a condução aristocrática dos negócios do Estado. Essa fórmula, esse regime misto, só é possível de ser obtido na chamada democracia burguesa, que pressupõe o respeito à propriedade privada e o Estado Mínimo. E o pluralismo político, que inclua as forças conservadoras com capacidade real de alcançar o poder.
O esforço pessoal e de seus correligionários foi o de precisamente destruir o conservadorismo no Brasil, mesmo a memória do conservadorismo, que nisso consiste a tal revolução gramsciana. Criou-se um artificial abismo de gerações, moldando um homem novo, sem passado, as multidões eleitoras do PT. Descambar para o populismo bolivariano de Lula era o passo lógico subseqüente. FHC achou-se o patrício-mor da Nação. Errou feio. Seu artigo foi a confissão desse erro e do desespero de ver o país caminhar para o abismo, sem nada a fazer. Resta ainda, como última instância, as supremas forças da ordem, as Forças Armadas, aquelas mesmas que FHC humilhou, criando o Ministério da Defesa, condenando seus comandantes à condição de subalternos. Ora, eles nunca foram subalternos e se tem alguém que se assemelhe aos patrícios romanos no Brasil são eles mesmos, os comandantes, não FHC.
Piora o quadro o fato de que FHC não mais controlar o processo político nem mesmo dentro de sua agremiação política, o PSDB. Estamos vendo a rebelião de Aécio Neves, que quer porque quer ser o cabeça de chapa na eleição que se aproxima. Se não o for, fará o que fez nas últimas eleições e trairá o próprio partido, consumando a derrota e o continuísmo petista. Até mesmo uma possível recondução ao governo de São Paulo, de José Serra, pode estar ameaçada, o que seria a suprema tragédia política. Tantas são as besteiras de seus aliados que acabarão por entregar a rapadura aos adversários.
Os demônios (uso o termo aqui no sentido que Dostoievsky usou no famoso romance) soltos e agindo vão pôr fogo no mundo. Fausto encarnado sob o manto de FHC não tem como controlá-los. Tempos de grandes perigos. Não deve FHC se queixar da mão pesada deste modesto escriba, mas dos seus próprios delírios revolucionários.
Publicado no site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado".
Segunda-feira, 02 de novembro de 2009.
José Nivaldo Cordeiro: "Quem sou eu? Sou cristão, liberal e democrata. Abomino todas as formas de tiranias e de coletivismos. Acredito que a Verdade veio com a Revelação e que a vida é uma totalidade, não podendo ser cindida em departamentos estanques. Abomino qualquer intervenção do Estado na vida das pessoas e na economia, além do imprescindível para manter a ordem pública. Acredito que a liberdade é um bem que se conquista cotidianamente, pelo esforço individual, e que os seus inimigos estão sempre a postos para destruí-la. Preservá-la é manter-se vigilante e sempre disposto a lutar, a combater o bom combate. Acredito que riqueza e prosperidade só podem vir mediante o esforço individual de trabalhar. Fora disso, é sair do bom caminho, é mergulhar na escuridão da mentira e das falsas promessas".
José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP e editor do site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado". E-mail: nivaldocordeiro@yahoo.com.br
NIVALDO CORDEIRO POR NIVALDO CORDEIRO
QUEM SOU EU?
Quem sou eu? Sou cristão, liberal e democrata. Abomino todas as formas de tiranias e de coletivismos. Acredito que a Verdade veio com a Revelação e que a vida é uma totalidade, não podendo ser cindida em departamentos estanques. Abomino qualquer intervenção do Estado na vida das pessoas e na economia, além do imprescindível para manter a ordem pública. Acredito que a liberdade é um bem que se conquista cotidianamente, pelo esforço individual, e que os seus inimigos estão sempre a postos para destruí-la. Preservá-la é manter-se vigilante e sempre disposto a lutar, a combater o bom combate. Acredito que riqueza e prosperidade só podem vir mediante o esforço individual de trabalhar. Fora disso, é sair do bom caminho, é mergulhar na escuridão da mentira e das falsas promessas.
Digo como o grande Ortega y Gasset:"Dou o que tenho; que outros, capazes de fazer mais, façam o seu mais, como eu faço o meu menos".
POR QUE ME DECLARO CRISTÃO
É muito difícil definir em que consiste o meu cristianismo. Em primeiro lugar, porque Cristo é, antes de tudo, uma expressão simbólica e como tal contém o Inefável, o Indizível, aquilo que escapa à compreensão humana. Lendo os belos textos das Escrituras vemos muitas metáforas e outra figuras de linguagem, pois a definição das coisas divinas não é fácil na linguagem humana. Gosto especialmente do discurso de Paulo no Areópago (At17,22 +) em que fala do Deus Desconhecido. Gosto quando Paulo fala do Deus Vivo, gosto quando Cristo disse que vem renovar a Aliança, mas vem também fazer valer a Lei, uma contradição aparente. Gosto quando Paulo diz que "Deus não faz acepção das pessoas" e gosto da vocação evangelizardora cristã, sua mais nobre missão.
O que mais me seduz no Cristianismo é a sua idéia fundamental de que a Humanidade é uma só, que Deus é um só, e que pela Graça haverá a Salvação. Sem isso a vida fica rigosoramente oca, não vale a pena, é transitória, dolorosa, contraditória, aterrorizante. A morte, diante de uma negação de Deus, é a única saída sensata para um ser inteligente, para escapar da horrenda condenação a que está submetida a Natureza, a vida a devorar-se a si mesma, eternamente, numa sucessão de dores inúteis.
Então a minha crença consiste em dar fé ao testemunho dos homens excepcionais que escutaram a mensagem de Cristo e outros, como Paulo, que viveram uma experiência avassaladora e irresistível, de "ver" Cristo. De homens modernos, como Jung, que nos afirmam que a experiência desses homens antigos é verdadeira e que o Deus Vivo continua vivo como sempre, em cada um de nós. De homens como Miguel de Unamuno, que ungidos da bênção da poesia, conseguem exprimir a fé como uma verdade filosófica. De homens como Olavo de Carvalho, que, a partir de intelectos excepcionais, dão-nos a garantia a nós outros de que Verdade e Fé são uma única e mesma coisa.
Mas o Cristianismo tem ainda outras belezas. Tem as virtudes, em especial a Caridade. E o que dizer do Perdão? Da Tolerância? Da Paciência? Uma religião que prega a prática desse conjunto de virtudes, dificílima, que por si só exige do vivente uma força interior de um gigante, tem algo de extraordinário e de transcendente.
Mas tenho também muitas perguntas, acho que todas elas sem respostas, dentro das limitações humanas. Por que "esse" plano de Salvação? Em que consiste precisamente a Salvação? Por que Deus permitiu que Satã tivesse força para ser a Sua negação? Etc, etc, etc.
O que me consola é ter aprendido com Unamuno que a fé pressupõe a dúvida e entre as duas fica o crente crucificado durante a sua existência. Era a sua maneira peculiar de ver no homem uma imitação do Cristo pregado à Cruz, "morriente".
Por fim, há um conjunto de sonhos que tive, nos quais aparece a Cruz Resplandecente e que dão a minha própria sustentação empírica à minha fé. É a maneira com que o Bom Deus abençoou-me com uma dádiva, uma gota de Sua bondade. Como explicar isso para quem não viveu algo igual? É indizível, é o que nos torna sós, solitários em meio a multidão. Haveria ouvidos para ouvir? Duvido. Quem é mesmo o meu próximo? Hoje só há pseudos cristãos guerreiros (aonde está a paz de Cristo?) em busca de revolução, ninguém quer mais saber do Pão da Vida, mas do Reino desse Mundo, a ruina do Espírito na ensandecida busca da salvação pela política, vale dizer, pela matéria.
O que mais me seduz no Cristianismo é a sua idéia fundamental de que a Humanidade é uma só, que Deus é um só, e que pela Graça haverá a Salvação. Sem isso a vida fica rigosoramente oca, não vale a pena, é transitória, dolorosa, contraditória, aterrorizante. A morte, diante de uma negação de Deus, é a única saída sensata para um ser inteligente, para escapar da horrenda condenação a que está submetida a Natureza, a vida a devorar-se a si mesma, eternamente, numa sucessão de dores inúteis.
Então a minha crença consiste em dar fé ao testemunho dos homens excepcionais que escutaram a mensagem de Cristo e outros, como Paulo, que viveram uma experiência avassaladora e irresistível, de "ver" Cristo. De homens modernos, como Jung, que nos afirmam que a experiência desses homens antigos é verdadeira e que o Deus Vivo continua vivo como sempre, em cada um de nós. De homens como Miguel de Unamuno, que ungidos da bênção da poesia, conseguem exprimir a fé como uma verdade filosófica. De homens como Olavo de Carvalho, que, a partir de intelectos excepcionais, dão-nos a garantia a nós outros de que Verdade e Fé são uma única e mesma coisa.
Mas o Cristianismo tem ainda outras belezas. Tem as virtudes, em especial a Caridade. E o que dizer do Perdão? Da Tolerância? Da Paciência? Uma religião que prega a prática desse conjunto de virtudes, dificílima, que por si só exige do vivente uma força interior de um gigante, tem algo de extraordinário e de transcendente.
Mas tenho também muitas perguntas, acho que todas elas sem respostas, dentro das limitações humanas. Por que "esse" plano de Salvação? Em que consiste precisamente a Salvação? Por que Deus permitiu que Satã tivesse força para ser a Sua negação? Etc, etc, etc.
O que me consola é ter aprendido com Unamuno que a fé pressupõe a dúvida e entre as duas fica o crente crucificado durante a sua existência. Era a sua maneira peculiar de ver no homem uma imitação do Cristo pregado à Cruz, "morriente".
Por fim, há um conjunto de sonhos que tive, nos quais aparece a Cruz Resplandecente e que dão a minha própria sustentação empírica à minha fé. É a maneira com que o Bom Deus abençoou-me com uma dádiva, uma gota de Sua bondade. Como explicar isso para quem não viveu algo igual? É indizível, é o que nos torna sós, solitários em meio a multidão. Haveria ouvidos para ouvir? Duvido. Quem é mesmo o meu próximo? Hoje só há pseudos cristãos guerreiros (aonde está a paz de Cristo?) em busca de revolução, ninguém quer mais saber do Pão da Vida, mas do Reino desse Mundo, a ruina do Espírito na ensandecida busca da salvação pela política, vale dizer, pela matéria.
26/03/2001
DEVER DE CONSCIÊNCIA
Em conversa com amigos, perguntaram-me porque decidi me expor, escrevendo quase que diariamente sobre temas variados e opinando sobre os fatos da conjuntura. Resposta na ponta da língua: faço-o por dever de consciência. Por mim, por minha família, por meus amigos, por meu País.
O estilo que adoto nos meus curtos escritos é o da sobriedade, mesmo quando manipulo temas naturalmente polêmicos e explosivos. Sem ela, poderia acontecer dos textos tomarem o tom denuncista e, por isso mesmo, perderem a credibilidade. Mas sobriedade não significa fazer concessões: ela é um mero estilo de escrever. Minhas palavras são tão duras quanto merecem os temas trabalhados, sem fazerem concessão de espécie alguma. E não é sem esforço, pois os temas são candentes e a minha inclinação natural é a explosão verbal de indignação. Mas, assim, os textos teriam a eficácia diminuída.
Decidi escrever por dois motivos fundamentais. Primeiro, porque descobri que, no meio-dia da vida em que me encontro, eu tenho algo dizer. Mas decidi também fazer esse estafante – e gratificante – esforço porque a mentira e a desinformação tomaram conta das nossas fontes de informação e senti-me na responsabilidade de fazer o contraponto, no limite das minhas possibilidades. Tive que fazer um grande esforço pessoal para escapar da lavagem cerebral a que estamos submetidos e decidi somar esforços com os poucos gatos-pingados que também decidiram enfrentar a mentira institucionalizada, voluntária ou não, que domina os nossos meios de comunicação e de produção cultural.
Não escrevo por dinheiro, nem por vaidade, nem por projeto político pessoal. Escrevo como uma espécie de missão. Posso até dizer que o faço hoje não mais por escolha – se é que algum dia o fiz – mas por um impulso interior que só se controla diante da crônica do dia redigida. Por ser assim, desfruto da máxima liberdade, aquela liberdade inebriante que só a arte de escrever pode permitir. A sublime liberdade.
Algumas publicações, em diferentes regiões do Brasil, têm acolhido as minhas notas. Fico feliz e lisonjeado por isso. Mas me daria por satisfeito com a requintada platéia que tenho na Internet, essa grande maravilha, que permitiu juntar-me aos solitários de alma e unir-me àqueles que estavam irremediavelmente ilhados. Essa será talvez a maior revolução da rede, a de deixar que homens e mulheres que têm o que dizer, e o fazem por dever de consciência, amplifiquem a sua mensagem, fazendo-a chegar aos lugares mais distantes. É uma confraria dos solitários de alma.
Tenho feito novos e grandes amigos entre os seres mais especiais, não apenas em nosso País, mas também no exterior. É uma dádiva e uma recompensa trocar correspondência com essas pessoas e ocasionalmente encontrá-las. É uma graça divina partilhar da riqueza espiritual de tanta gente distinta, jovens e velhos, todos muito talentosos.
É por isso que escrevo com gosto. Mudei a minha rotina e aumentei a minha carga de trabalho, mas é o que faço de mais importante nesse instante da minha existência.
O estilo que adoto nos meus curtos escritos é o da sobriedade, mesmo quando manipulo temas naturalmente polêmicos e explosivos. Sem ela, poderia acontecer dos textos tomarem o tom denuncista e, por isso mesmo, perderem a credibilidade. Mas sobriedade não significa fazer concessões: ela é um mero estilo de escrever. Minhas palavras são tão duras quanto merecem os temas trabalhados, sem fazerem concessão de espécie alguma. E não é sem esforço, pois os temas são candentes e a minha inclinação natural é a explosão verbal de indignação. Mas, assim, os textos teriam a eficácia diminuída.
Decidi escrever por dois motivos fundamentais. Primeiro, porque descobri que, no meio-dia da vida em que me encontro, eu tenho algo dizer. Mas decidi também fazer esse estafante – e gratificante – esforço porque a mentira e a desinformação tomaram conta das nossas fontes de informação e senti-me na responsabilidade de fazer o contraponto, no limite das minhas possibilidades. Tive que fazer um grande esforço pessoal para escapar da lavagem cerebral a que estamos submetidos e decidi somar esforços com os poucos gatos-pingados que também decidiram enfrentar a mentira institucionalizada, voluntária ou não, que domina os nossos meios de comunicação e de produção cultural.
Não escrevo por dinheiro, nem por vaidade, nem por projeto político pessoal. Escrevo como uma espécie de missão. Posso até dizer que o faço hoje não mais por escolha – se é que algum dia o fiz – mas por um impulso interior que só se controla diante da crônica do dia redigida. Por ser assim, desfruto da máxima liberdade, aquela liberdade inebriante que só a arte de escrever pode permitir. A sublime liberdade.
Algumas publicações, em diferentes regiões do Brasil, têm acolhido as minhas notas. Fico feliz e lisonjeado por isso. Mas me daria por satisfeito com a requintada platéia que tenho na Internet, essa grande maravilha, que permitiu juntar-me aos solitários de alma e unir-me àqueles que estavam irremediavelmente ilhados. Essa será talvez a maior revolução da rede, a de deixar que homens e mulheres que têm o que dizer, e o fazem por dever de consciência, amplifiquem a sua mensagem, fazendo-a chegar aos lugares mais distantes. É uma confraria dos solitários de alma.
Tenho feito novos e grandes amigos entre os seres mais especiais, não apenas em nosso País, mas também no exterior. É uma dádiva e uma recompensa trocar correspondência com essas pessoas e ocasionalmente encontrá-las. É uma graça divina partilhar da riqueza espiritual de tanta gente distinta, jovens e velhos, todos muito talentosos.
É por isso que escrevo com gosto. Mudei a minha rotina e aumentei a minha carga de trabalho, mas é o que faço de mais importante nesse instante da minha existência.
03/02/2002
José Nivaldo CordeiroLealdade e disciplina – Cel Marcelo Oliveira Lopes Serrano
Pizza? Click on...
http://bootlead.blogspot.com
URGENTE: ÚLTIMA CHAMADA! A SITUAÇÃO JÁ ESTÁ QUASE IRREFREÁVEL!
2 comments:
TENHO LIDO NIVALDO CORDEIRO E SOU UM BRASILEIRO DE 72 ANOS, AUDITOR FISCAL APOSENTADO FAZ 16 ANOS E NUNCA FUI POLÍTICO, MAS ACOMPANHEI TODOS OS CAMINHOS, PRINCIPALMENTE A APRTIR DE 1963 QUANDO INGRESSEI NO SERVIÇO PÚBLICO. A MOEDA TEM 2 LADOS, O BOM E O MAU, MAS SEMPRE SOUBE ESCOLHER O CAMINHO DA DIGNIDADE, DO AMOR RELIGIOSO AO NOSSO DEUS. HOJE LAMENTO PROFUNDAMENTE QUE NIVALDO TENHA TANTA RAZÃO, POIS ESCREVE A VERDADE, QUE É MUITO TRISTE. APRENDI QUE O COMUNISMO É A DESGRAÇA DA HUMANIDADE, SEMPRE FOI E RUY BARBOSA ESCREVEU ISTO EM 1919
“O Comunismo não é a fraternidade: é a invasão do ódio entre as classes. Não é a reconciliação dos homens: é a sua exterminação mútua. Não arvora a bandeira do Evangelho: bane Deus das almas e das reivindicações populares. Não dá tréguas à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria a sociedade. Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade. Everteria, subverteria, inverteria a obra do Criador” (Rui Barbosa, 8 de março de 1919). Em maio de 2009os bispos do leste europeu alertaram ao mundo:O comunismo está vivo e ativo.
SOU O MAIOR INIMIGO DO LULO/PETISMO
Querem saber para onde vamos? Leiam la no nosso blog POR QUE VAMOS VOLTAR PARA A DITADURA? E essa não será militar. Esperemos sim que possa ser a ultima do Brasil.
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