Click AQUI e veja como será o fim de todos os porcos comunistas da América Latina.
Número dois das FARC é morto na Colômbia
por Bob Fernandes - Terra Magazine
O número dois das FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Raul Reyes, foi morto após combates com o exército colombiano no departamento de Putumayo, segundo a Rádio Caracol.
Luis Edgar Devia, nome real do dirigente guerrilheiro, era o porta-voz internacional da guerrilha. Ele foi morto com mais 16 guerrilheiros enquanto transitava pelas florestas do sul do país, quando foi alvo de um bombardeio da Força Aérea.
A informação foi confirmada pelo Ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos.
Antes de morrer, Reyes concedeu ao jornalista Jacques Gomes Filho uma de suas últimas entrevistas, onde falou com exclusividade sobre a saúde de Ingrid Betancourt, seqüestrada durante a campanha presidencial de 2002, e a mediação de Hugo Chávez.
Confira a seguir a íntegra da conversa:
Por que é tão difícil convencer as Farc a dar provas de vida dos reféns?
Raúl Reyes - O problema é muito simples. As Farc priorizam a segurança, tanto dos prisioneiros quanto de seus integrantes. Explico: não vamos expor ninguém para que o governo de Álvaro Uribe assassine ao tentar resgatá-los pela força. Tampouco vamos expor os guerrilheiros aos ataques aéreos do Exército. Esta circunstância real da confrontação faz com que tenhamos muito cuidado em enviar gente ao lugar onde eles estão.
Mas a demora faz a comunidade internacional questionar o real estado de saúde dos prisioneiros...
Raúl Reyes - A comunidade internacional se sentiria muito mais preocupada se estas pessoas morressem por um erro nosso. Lembre-se do que aconteceu com os deputados do Vale do Cauca. Morreram 11 deputados. Houve falhas de segurança e, por isso, eles morreram. Antes haviam morrido outros, também numa tentativa do governo de Uribe de resgatá-los à força. Mas admito que houve falha da nossa parte e não queremos que isso se repita, ao contrário. Queremos manter a segurança e integridade física dos prisioneiros, incluindo a senhora Ingrid Betancourt, os três estadunidenses e cada um dos militares e policiais que estão nas mesmas condições.
Em que condições estão Ingrid Betancourt e os três estadunidenses?
Raúl Reyes - Estão todos nas mesmas condições. São reféns, mas recebem de nossa organização alimentação - a mesma que comemos todos os guerrilheiros - e também os mesmos medicamentos que utilizamos quando ficamos doentes. Temos enfermeiros, médicos, remédios em nossas fileiras na selva. Recebem toda a atenção, como se fossem membros da organização. Mas é preciso entender que eles, como prisioneiros, querem saber das famílias e, sobretudo, recuperar a liberdade, porque sabem do risco que correm. O que Uribe disse até agora, em cinco anos de mandato, é que vai resgatá-los pela força. Eles ouvem as notícias pelo rádio e lêem os jornais de vez em quando. Por isso se preocupam e não vêem por parte do chefe do governo colombiano uma atitude solidária com eles, com suas famílias, uma atitude sensata que permita a liberação desses prisioneiros sãos e salvos, que é a proposta feita pelas Farc.
O senhor assegura, então, que nas mãos das Farc eles não correm perigo?
Raúl Reyes - Por parte das Farc não existe nenhum risco. São reféns, dos quais cuidamos, e respeitamos sua integridade física, suas crenças religiosas e ideológicas. Estamos em um conflito interno, enfrentamos um governo ditatorial, de caráter fascista, que não quer facilitar o intercâmbio humanitário em nenhuma circunstância. Pelo contrário, lança permanentemente operativos militares por terra, pelo ar e pela água buscando os prisioneiros. E nessa busca os coloca em perigo, porque os guerrilheiros que cuidam deles estão armados. Qualquer tentativa de resgate coloca os reféns no meio do fogo cruzado.
Manter pessoas presas, às vezes por mais de dez anos, não é um método cruel de luta?
Raúl Reyes - Não, o que existe é uma resposta. O povo não pode ajoelhar-se diante de um inimigo cruel. Tem que usar todas as armas para se defender dos exploradores. É isso que fazem as Farc: a crueldade vem de quem quer manter nosso povo submetido nessa situação. Agora, na Colômbia, como em outros países do continente, não deveria ser necessária a luta armada se houvesse outras condições. Mas por aqui já assassinaram e continuam assassinando a oposição revolucionária. Já morreram mais de 6 mil dirigentes e militantes da União Patriótica (antigo braço partidário das Farc), do Partido Comunista Colombiano, dirigentes sindicais, camponeses, indígenas...
Por que as Farc insistem em negociar em território desmilitarizado?
Raúl Reyes - Não existe nenhuma possibilidade de se reunir com representantes do governo, seja na Colômbia ou em outro país, enquanto não se desmilitarizar os municípios de Pradera e Florida. Porque as Farc não têm a mínima confiança na seriedade, na honestidade e na ética, se é que existe isso, no pensamento de Uribe. Tem que haver garantia de segurança a nossos porta-vozes e a todos que vão conversar ali. Queremos receber nossos camaradas libertados e entregar os que estão com a gente com segurança. Se o governo dos Estados Unidos quer ver livres os seus cidadãos, o que me parece justo, deve dar a ordem para Uribe desmilitarizar. Imediatamente se realizará um encontro para começar o acordo que permita a libertação de todos os prisioneiros.
O presidente venezuelano Hugo Chávez continua sendo uma opção para mediar as negociações do acordo humanitário?
Raúl Reyes - Chávez pode fazer muito para contribuir para que Uribe entenda que a solução para a libertação dos prisioneiros não é pela força. A saída política é a solução idônea, que pode conseguir a liberação de todos os prisioneiros, evitando as mortes, que são produto da intransigência e mesquinhez do governo com a população colombiana. Qualquer ajuda de fora é bem-vinda. Consideramos muito importante a ajuda da França. O apoio dado pelos países não-alinhados, como o apoio de Lula no Brasil, de Kirchner na Argentina e Rafael Corrêa no Equador. São expressões de solidariedade com o povo colombiano em benefício da troca de prisioneiros. Quanto mais expressões de solidariedade, melhor.
O senhor parabenizou Lula quando foi reeleito. O governo brasileiro continua merecendo os elogios feitos?
Raúl Reyes - Reitero meus parabéns. Porque os brasileiros votaram no Lula convencidos de que era o homem que ia redimi-los da política neoliberal e das garras do império. Tomara que Lula possa cumprir e fazer jus a toda essa esperança que o converteu no presidente dos brasileiros. O Brasil é um país muito importante na região por ser um subcontinente e a política de Estado brasileira tem importância para a gente. Pela informação que tenho, Lula poderia fazer mais. O povo espera muito mais do presidente Lula. Tenho a esperança de que ele possa corresponder e ser verdadeiramente o representante do PT e de todas as forças revolucionárias, progressistas, comunistas e dos sem-terra que votaram por ele.
Fala-se muito que as Farc têm ações fora da Colômbia. Isso procede?
Raúl Reyes - As Farc não realizam nenhuma ação militar fora do seu território. Temos uma política de fronteiras. Para a gente, os países vizinhos com quem compartilhamos fronteiras são nossos irmãos. E fazemos dessas fronteiras um berço da paz. Porque, além de tudo, essas regiões fronteiriças são um remanso de pobreza, abandonadas pelos governos. Com o Brasil, temos uma fronteira bem grande, com a Venezuela também, com o Equador, com o Peru... Quase todas elas são formadas por selva e rios, onde vivem pessoas muito pobres, analfabetas em sua maioria, abandonadas. Respeitamos as autoridades constituídas por nossos vizinhos, mas pedimos reciprocidade. Ou seja, que os governos vizinhos da Colômbia não participem de operações militares do governo de Uribe contra o povo em armas das Farc.
Mas já houve conflitos na fronteira com a cidade brasileira de Tabatinga (AM).
Raúl Reyes - Não realizamos operações militares fora do território colombiano. É diferente que cruzem por aí, por alguma emergência, porque é mais fácil chegar a determinado lugar, mas nunca para realizar ações militares.
Os países da região desencadearam uma corrida armamentista, inclusive o Brasil, que vai duplicar os investimentos nas Forças Armadas em 2008. Isso não é uma ameaça?
Raúl Reyes - As Farc não se sentem ameaçadas, porque não estamos em conflito com nenhum desses países. Se o governo do Brasil decidiu melhorar seus armamentos e equipar seu exército, deve ter suas razões para isso. Não tem nada a ver com a luta das Farc que corresponde a um conflito interno, que deve ser resolvido entre os colombianos. Isso não afeta as Farc, porque não estamos em guerra contra nenhum país, nem sequer contra os Estados Unidos.
Em 43 anos de luta, quais foram os grandes acertos e erros das Farc?
Raúl Reyes - O principal acerto das Farc foi ter sido criada como organização de oposição ao regime e converter-se hoje em uma opção de poder para governar a Colômbia. O erro, talvez por causa da guerra, foi não ter chegado ao poder. Porque as guerrilhas, em qualquer parte do mundo, que tenham planos bem definidos como a nossa, querem chegar ao poder e derrubar o regime governante. Em nosso caso, já passou todo esse tempo e não conseguimos ainda. Mas houve um importante desenvolvimento, uma experiência riquíssima. Conseguimos formar um grupo grande de jovens, homens e mulheres com capacidade de fazer qualquer trabalho revolucionário, dirigir organizações guerrilheiras grandes ou pequenas, capazes de aportar os conceitos políticos e ideológicos da organização, conhecimentos suficientes sobre as razões das lutas. Isso me dá a certeza de que um dia deixaremos de ser clandestinos e nos lançaremos à luz pública. Estamos satisfeitos por ser uma guerrilha independente, revolucionária, com ideologias e convicções inspiradas na Revolução Cubana, no Che, em Mao Tsé-Tung, em Ho Chi Minh e em nossa própria experiência, que é riquíssima.
Mas o senhor acredita que a organização ainda pode chegar ao poder?
Raúl Reyes - Sobre isso não resta a menor dúvida: as Farc continuam lutando pelo poder e vão conseguir de qualquer maneira, seja pela via armada, seja pela via democrática, com acordos políticos. As Farc não fazem a guerra pela guerra. Fomos obrigados pelo Estado colombiano a fazer a guerra para nos defender e conseguir a paz. Todas as ações militares que as Farc realizam não possuem um caráter distinto do político. Porque somos uma organização com uma proposta de governo, uma proposta de Estado. Uma proposta para uma Colômbia diferente da que nos foi imposta pelos comandantes da oligarquia colombiana. As Farc não estão contra as eleições, porque somos uma organização comunista. Mas temos que saber quando poderemos participar de eleições e para quê. Se existe um processo que possibilite nossa participação, podemos participar e contribuir de alguma maneira. Caso contrário não faz sentido. Porque já tivemos a experiência do genocídio contra a União Patriótica.
Como seria um governo das Farc?
Raúl Reyes - Seria um governo do povo para o povo. Um governo bolivariano, antiimperialista. Um governo de integração e irmandade com todos os países do mundo e particularmente com os vizinhos da Colômbia. Um governo que trabalharia pela integração latino-americana, pela Pátria Grande e pelo socialismo. Teríamos que conformar um novo exército, mais bolivariano e que respeite os Direitos Humanos sem nunca usar as armas contra o povo. Desde 1994, as Farc têm uma proposta para um novo governo: pluralista, patriótico, democrático e de reconciliação nacional. Um governo que abrigue todos os setores: sociais, docentes, estudantis, feministas, camponeses, indígenas, intelectuais, jornalistas etc. Mas também da insurgência revolucionária e dos partidos de esquerda. Se existem setores do Pólo Democrático Alternativo (partido de esquerda) que querem estar aí, sejam bem-vindos. Assim como do Partido Liberal, do Partido Conservador, da Igreja Católica também. Convidamos os militares patriotas, bolivarianos. Quer dizer que é uma concertação política para um grande acordo nacional, pela paz, pela convivência.
As Farc mantêm ligação com o narcotráfico?
Raúl Reyes - Nenhuma. As Farc só mantêm ligação com os camponeses, que por não terem garantias de crédito e de assistência do Estado recorrem à produção de coca. Mas eles não são narcotraficantes. São trabalhadores rurais, que em algumas regiões plantam coca e em outras a papoula. Quem compra deles esses produtos é que são os narcotraficantes. As Farc têm vínculos com esses trabalhadores rurais, assim como têm vínculos com os plantadores de soja, de milho, de feijão, criadores de gado. Cobramos impostos, não dos camponeses, mas de quem compra deles os produtos. Em troca não deixamos que os roubem nessas negociações e que paguem o que é justo.
Os seqüestros extorsivos também são outra forma de arrecadação questionável...
Raúl Reyes - As Farc não seqüestram. O que fazemos é cobrar impostos daqueles que financiam a guerra na Colômbia, como está previsto na lei 002, aprovada pelo Estado Maior central de nossa organização. Todos que têm patrimônio de mais de US$ 1 milhão têm de pagar 10% do que arrecadam para as Farc. Alguns pagam voluntariamente, outros se negam a pagar. E quando não pagam, prendemos até que paguem. Fazemos o mesmo que fazem os governos de todo o mundo com aqueles que não pagam impostos.
Luis Edgar Devia, nome real do dirigente guerrilheiro, era o porta-voz internacional da guerrilha. Ele foi morto com mais 16 guerrilheiros enquanto transitava pelas florestas do sul do país, quando foi alvo de um bombardeio da Força Aérea.
A informação foi confirmada pelo Ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos.
Antes de morrer, Reyes concedeu ao jornalista Jacques Gomes Filho uma de suas últimas entrevistas, onde falou com exclusividade sobre a saúde de Ingrid Betancourt, seqüestrada durante a campanha presidencial de 2002, e a mediação de Hugo Chávez.
Confira a seguir a íntegra da conversa:
Por que é tão difícil convencer as Farc a dar provas de vida dos reféns?
Raúl Reyes - O problema é muito simples. As Farc priorizam a segurança, tanto dos prisioneiros quanto de seus integrantes. Explico: não vamos expor ninguém para que o governo de Álvaro Uribe assassine ao tentar resgatá-los pela força. Tampouco vamos expor os guerrilheiros aos ataques aéreos do Exército. Esta circunstância real da confrontação faz com que tenhamos muito cuidado em enviar gente ao lugar onde eles estão.
Mas a demora faz a comunidade internacional questionar o real estado de saúde dos prisioneiros...
Raúl Reyes - A comunidade internacional se sentiria muito mais preocupada se estas pessoas morressem por um erro nosso. Lembre-se do que aconteceu com os deputados do Vale do Cauca. Morreram 11 deputados. Houve falhas de segurança e, por isso, eles morreram. Antes haviam morrido outros, também numa tentativa do governo de Uribe de resgatá-los à força. Mas admito que houve falha da nossa parte e não queremos que isso se repita, ao contrário. Queremos manter a segurança e integridade física dos prisioneiros, incluindo a senhora Ingrid Betancourt, os três estadunidenses e cada um dos militares e policiais que estão nas mesmas condições.
Em que condições estão Ingrid Betancourt e os três estadunidenses?
Raúl Reyes - Estão todos nas mesmas condições. São reféns, mas recebem de nossa organização alimentação - a mesma que comemos todos os guerrilheiros - e também os mesmos medicamentos que utilizamos quando ficamos doentes. Temos enfermeiros, médicos, remédios em nossas fileiras na selva. Recebem toda a atenção, como se fossem membros da organização. Mas é preciso entender que eles, como prisioneiros, querem saber das famílias e, sobretudo, recuperar a liberdade, porque sabem do risco que correm. O que Uribe disse até agora, em cinco anos de mandato, é que vai resgatá-los pela força. Eles ouvem as notícias pelo rádio e lêem os jornais de vez em quando. Por isso se preocupam e não vêem por parte do chefe do governo colombiano uma atitude solidária com eles, com suas famílias, uma atitude sensata que permita a liberação desses prisioneiros sãos e salvos, que é a proposta feita pelas Farc.
O senhor assegura, então, que nas mãos das Farc eles não correm perigo?
Raúl Reyes - Por parte das Farc não existe nenhum risco. São reféns, dos quais cuidamos, e respeitamos sua integridade física, suas crenças religiosas e ideológicas. Estamos em um conflito interno, enfrentamos um governo ditatorial, de caráter fascista, que não quer facilitar o intercâmbio humanitário em nenhuma circunstância. Pelo contrário, lança permanentemente operativos militares por terra, pelo ar e pela água buscando os prisioneiros. E nessa busca os coloca em perigo, porque os guerrilheiros que cuidam deles estão armados. Qualquer tentativa de resgate coloca os reféns no meio do fogo cruzado.
Manter pessoas presas, às vezes por mais de dez anos, não é um método cruel de luta?
Raúl Reyes - Não, o que existe é uma resposta. O povo não pode ajoelhar-se diante de um inimigo cruel. Tem que usar todas as armas para se defender dos exploradores. É isso que fazem as Farc: a crueldade vem de quem quer manter nosso povo submetido nessa situação. Agora, na Colômbia, como em outros países do continente, não deveria ser necessária a luta armada se houvesse outras condições. Mas por aqui já assassinaram e continuam assassinando a oposição revolucionária. Já morreram mais de 6 mil dirigentes e militantes da União Patriótica (antigo braço partidário das Farc), do Partido Comunista Colombiano, dirigentes sindicais, camponeses, indígenas...
Por que as Farc insistem em negociar em território desmilitarizado?
Raúl Reyes - Não existe nenhuma possibilidade de se reunir com representantes do governo, seja na Colômbia ou em outro país, enquanto não se desmilitarizar os municípios de Pradera e Florida. Porque as Farc não têm a mínima confiança na seriedade, na honestidade e na ética, se é que existe isso, no pensamento de Uribe. Tem que haver garantia de segurança a nossos porta-vozes e a todos que vão conversar ali. Queremos receber nossos camaradas libertados e entregar os que estão com a gente com segurança. Se o governo dos Estados Unidos quer ver livres os seus cidadãos, o que me parece justo, deve dar a ordem para Uribe desmilitarizar. Imediatamente se realizará um encontro para começar o acordo que permita a libertação de todos os prisioneiros.
O presidente venezuelano Hugo Chávez continua sendo uma opção para mediar as negociações do acordo humanitário?
Raúl Reyes - Chávez pode fazer muito para contribuir para que Uribe entenda que a solução para a libertação dos prisioneiros não é pela força. A saída política é a solução idônea, que pode conseguir a liberação de todos os prisioneiros, evitando as mortes, que são produto da intransigência e mesquinhez do governo com a população colombiana. Qualquer ajuda de fora é bem-vinda. Consideramos muito importante a ajuda da França. O apoio dado pelos países não-alinhados, como o apoio de Lula no Brasil, de Kirchner na Argentina e Rafael Corrêa no Equador. São expressões de solidariedade com o povo colombiano em benefício da troca de prisioneiros. Quanto mais expressões de solidariedade, melhor.
O senhor parabenizou Lula quando foi reeleito. O governo brasileiro continua merecendo os elogios feitos?
Raúl Reyes - Reitero meus parabéns. Porque os brasileiros votaram no Lula convencidos de que era o homem que ia redimi-los da política neoliberal e das garras do império. Tomara que Lula possa cumprir e fazer jus a toda essa esperança que o converteu no presidente dos brasileiros. O Brasil é um país muito importante na região por ser um subcontinente e a política de Estado brasileira tem importância para a gente. Pela informação que tenho, Lula poderia fazer mais. O povo espera muito mais do presidente Lula. Tenho a esperança de que ele possa corresponder e ser verdadeiramente o representante do PT e de todas as forças revolucionárias, progressistas, comunistas e dos sem-terra que votaram por ele.
Fala-se muito que as Farc têm ações fora da Colômbia. Isso procede?
Raúl Reyes - As Farc não realizam nenhuma ação militar fora do seu território. Temos uma política de fronteiras. Para a gente, os países vizinhos com quem compartilhamos fronteiras são nossos irmãos. E fazemos dessas fronteiras um berço da paz. Porque, além de tudo, essas regiões fronteiriças são um remanso de pobreza, abandonadas pelos governos. Com o Brasil, temos uma fronteira bem grande, com a Venezuela também, com o Equador, com o Peru... Quase todas elas são formadas por selva e rios, onde vivem pessoas muito pobres, analfabetas em sua maioria, abandonadas. Respeitamos as autoridades constituídas por nossos vizinhos, mas pedimos reciprocidade. Ou seja, que os governos vizinhos da Colômbia não participem de operações militares do governo de Uribe contra o povo em armas das Farc.
Mas já houve conflitos na fronteira com a cidade brasileira de Tabatinga (AM).
Raúl Reyes - Não realizamos operações militares fora do território colombiano. É diferente que cruzem por aí, por alguma emergência, porque é mais fácil chegar a determinado lugar, mas nunca para realizar ações militares.
Os países da região desencadearam uma corrida armamentista, inclusive o Brasil, que vai duplicar os investimentos nas Forças Armadas em 2008. Isso não é uma ameaça?
Raúl Reyes - As Farc não se sentem ameaçadas, porque não estamos em conflito com nenhum desses países. Se o governo do Brasil decidiu melhorar seus armamentos e equipar seu exército, deve ter suas razões para isso. Não tem nada a ver com a luta das Farc que corresponde a um conflito interno, que deve ser resolvido entre os colombianos. Isso não afeta as Farc, porque não estamos em guerra contra nenhum país, nem sequer contra os Estados Unidos.
Em 43 anos de luta, quais foram os grandes acertos e erros das Farc?
Raúl Reyes - O principal acerto das Farc foi ter sido criada como organização de oposição ao regime e converter-se hoje em uma opção de poder para governar a Colômbia. O erro, talvez por causa da guerra, foi não ter chegado ao poder. Porque as guerrilhas, em qualquer parte do mundo, que tenham planos bem definidos como a nossa, querem chegar ao poder e derrubar o regime governante. Em nosso caso, já passou todo esse tempo e não conseguimos ainda. Mas houve um importante desenvolvimento, uma experiência riquíssima. Conseguimos formar um grupo grande de jovens, homens e mulheres com capacidade de fazer qualquer trabalho revolucionário, dirigir organizações guerrilheiras grandes ou pequenas, capazes de aportar os conceitos políticos e ideológicos da organização, conhecimentos suficientes sobre as razões das lutas. Isso me dá a certeza de que um dia deixaremos de ser clandestinos e nos lançaremos à luz pública. Estamos satisfeitos por ser uma guerrilha independente, revolucionária, com ideologias e convicções inspiradas na Revolução Cubana, no Che, em Mao Tsé-Tung, em Ho Chi Minh e em nossa própria experiência, que é riquíssima.
Mas o senhor acredita que a organização ainda pode chegar ao poder?
Raúl Reyes - Sobre isso não resta a menor dúvida: as Farc continuam lutando pelo poder e vão conseguir de qualquer maneira, seja pela via armada, seja pela via democrática, com acordos políticos. As Farc não fazem a guerra pela guerra. Fomos obrigados pelo Estado colombiano a fazer a guerra para nos defender e conseguir a paz. Todas as ações militares que as Farc realizam não possuem um caráter distinto do político. Porque somos uma organização com uma proposta de governo, uma proposta de Estado. Uma proposta para uma Colômbia diferente da que nos foi imposta pelos comandantes da oligarquia colombiana. As Farc não estão contra as eleições, porque somos uma organização comunista. Mas temos que saber quando poderemos participar de eleições e para quê. Se existe um processo que possibilite nossa participação, podemos participar e contribuir de alguma maneira. Caso contrário não faz sentido. Porque já tivemos a experiência do genocídio contra a União Patriótica.
Como seria um governo das Farc?
Raúl Reyes - Seria um governo do povo para o povo. Um governo bolivariano, antiimperialista. Um governo de integração e irmandade com todos os países do mundo e particularmente com os vizinhos da Colômbia. Um governo que trabalharia pela integração latino-americana, pela Pátria Grande e pelo socialismo. Teríamos que conformar um novo exército, mais bolivariano e que respeite os Direitos Humanos sem nunca usar as armas contra o povo. Desde 1994, as Farc têm uma proposta para um novo governo: pluralista, patriótico, democrático e de reconciliação nacional. Um governo que abrigue todos os setores: sociais, docentes, estudantis, feministas, camponeses, indígenas, intelectuais, jornalistas etc. Mas também da insurgência revolucionária e dos partidos de esquerda. Se existem setores do Pólo Democrático Alternativo (partido de esquerda) que querem estar aí, sejam bem-vindos. Assim como do Partido Liberal, do Partido Conservador, da Igreja Católica também. Convidamos os militares patriotas, bolivarianos. Quer dizer que é uma concertação política para um grande acordo nacional, pela paz, pela convivência.
As Farc mantêm ligação com o narcotráfico?
Raúl Reyes - Nenhuma. As Farc só mantêm ligação com os camponeses, que por não terem garantias de crédito e de assistência do Estado recorrem à produção de coca. Mas eles não são narcotraficantes. São trabalhadores rurais, que em algumas regiões plantam coca e em outras a papoula. Quem compra deles esses produtos é que são os narcotraficantes. As Farc têm vínculos com esses trabalhadores rurais, assim como têm vínculos com os plantadores de soja, de milho, de feijão, criadores de gado. Cobramos impostos, não dos camponeses, mas de quem compra deles os produtos. Em troca não deixamos que os roubem nessas negociações e que paguem o que é justo.
Os seqüestros extorsivos também são outra forma de arrecadação questionável...
Raúl Reyes - As Farc não seqüestram. O que fazemos é cobrar impostos daqueles que financiam a guerra na Colômbia, como está previsto na lei 002, aprovada pelo Estado Maior central de nossa organização. Todos que têm patrimônio de mais de US$ 1 milhão têm de pagar 10% do que arrecadam para as Farc. Alguns pagam voluntariamente, outros se negam a pagar. E quando não pagam, prendemos até que paguem. Fazemos o mesmo que fazem os governos de todo o mundo com aqueles que não pagam impostos.
N.R. Uma pergunta que não quer calar: Por quê será que o jornalista Jacques Gomes Filho, autor da entrevista, ou o Terra Magazine, escondem o nome "SILVA" quando mencionam o nome real do vagabundo morto? Até nisso, estão querendo proteger o nosso "LUIZ"?
Publicado no site "Terra Magazine".
Sábado, 01 de março de 2008, 12h32.
http://bootlead.blogspot.com
O fim do narcotraficante tarado – Terra Magazine
A perversidade das Farc - Estadão
O Brasil progride enquanto dorme – Arnaldo Jabor
No comments:
Post a Comment