Um bode preto assola o país
por Arnaldo Jabor
Desculpem o bode negro, mas a situação já passou de todos os limites. Está além do escândalo, além do horror e não conseguimos fazer nada. Pare por aqui, leitor amigo, se estiver deprimido, mas é que estamos diante do Insolúvel. Um País paralisado na economia e na política não gera apenas fome ou injustiça social; gera uma degradação psíquica progressiva. No Rio, temos uma amostragem exemplar.
A cidade está se dissolvendo debaixo de balas perdidas e balas achadas, a cidade virou um pesqueiro para marginais, que descem de suas 500 favelas para curtir um "assaltozinho legal" ou fazer um tiro ao alvo de cidadãos desavisados, sem motivo, só pelo prazer. Mas, não só o Rio. A zona geral do País, debaixo desse governo desgovernado, debaixo da estupidez paralítica da burocracia, da ausência de crescimento, de educação, está provocando um desvio forte na cabeça das pessoas.
Estamos nos deformando. Física e psiquicamente. Não só tragédias visíveis, como guerra ou catástrofes naturais nos deformam. A tragédia do nada, a tragédia do zero de progresso vai nos virando em anomalias. Crescem rabos, chifres, verrugas, tumores em nossos corpos e mentes. A principal anomalia é a crescente consciência de que o maior inimigo da governabilidade é o governo.
Não é nem o Lula ou quem quer que seja. A própria estrutura dos três poderes está trincada, está trancando tudo, sim. Todo o desejo nacional é impedido ou pelo Legislativo ou Judiciário, com um Executivo que não sabe como executar, dividido entre democracia liberal e esquemas populistas. O último progresso que aconteceu neste País, por um acaso histórico, quase milagre, foi o Plano Real e uma certa responsabilidade fiscal que o governo anterior deixou como herança bendita.
Depois disso, nada. Depois da crise dos mensalões, das sanguessugas e do dossiê (que até nos deram a ilusão de que algo se movia), tudo volta para trás. O PT se desmoralizou, descobrimos que o PSDB não existe e que Lula trabalha para o PMDB. O Brasil é um flashback, um filme rebobinando. Tudo se restaurou. Ninguém punido, crimes ignorados, Congresso asqueroso, Judiciário salvando partidos de aluguel, desativando qualquer avanço, a sordidez disfarçada em terminologia jurídica.
Aumenta o sentimento de impotência e depressão. Certamente, nuvens negras se formam. Teremos algo torto, torvo. Todos sabemos que vem merda aí. Não sabemos ainda qual delas. Além da depressão política, a novidade do ano: arrasamento dos serviços básicos. Com a crise geral dos vôos, enchentes sem tampa, queimadas eternas, florestas acabando, total incapacidade administrativa, chegamos a duvidar que a luz se acenda ou a água continue a jorrar das bicas.
Nossos corações estão mais duros. Para sobreviver, ficamos mais cínicos e mais reacionários. Irracionalismos raiam. Já pensamos: "Tem mais é de matar essa raça, essas polícias "mineiras" são boas mesmo, extermina, bota para quebrar!" Ou então: "Essa bosta não tem mais solução não. Vou cuidar da minha vida. Danem-se!"
Em vez de pena, já temos medo ou raiva da miséria: "Chiii, não agüento mais esses miseráveis nos sinais de trânsito, esses vagabundos descendo dos morros de bermudas e sandália havaiana. Só quero ver coisas bonitas..."
Mas, que "coisas bonitas"? Cada vez mais aceitamos o feio. Nas paredes, nas ruas, só pichações imundas, ruas alagadas, paisagens destruídas, gente desesperada, mal paga, miséria nos rostos, nas roupas, nos gestos, nas falas, risos boçais, frases banais, falta de educação, analfabetos que sabem escrever, o surgimento de uma língua bárbara entre os bandidos, grunhidos da miséria, "tá ligado?" Ou "Vamos combinar que está punk esta parada, fala sério!" - como reagem os playboys.
O império do fragmentário: "faits divers", notícias sem importância e denúncias vazias que não se completam, não formam sentido, se repetem num círculo vicioso; é a pequena história das irrelevâncias e o surgimento do Insolúvel como categoria política.
Na Academia, o discurso da melancolia teórica, a nostalgia de uma pureza perdida ou da "revolução" sumida. Ausência de um pensamento crítico novo, para além do lamento contra o capital. Surge um amor à truculência ou ao simplismo. Chávez como esperança; tudo, menos aceitar que temos de abrir caminho para o óbvio: reduzir o Estado, lutar por um choque urgente de administração e reformas que nos tirem do buraco. Isso, jamais; vai contra a idéia de controle, tanto à direita como à esquerda.
No meio do deserto ideológico, sem esperança ou projetos, a hipervalorização de bundas e pênis. O corpo como último refúgio, o sexo como única utopia. Nada temos além de barriga seca, bunda dura, peito de 200 mililitros, botox nos cornos, boca falsa dizendo bobagens, "cofrinho" à mostra, risos compulsivos, gargalhadas coloridas nas revistas, "piercing" nas vaginas.
Há também um aumento brutal dos psicopatas. Não só os queimadores de crianças, os esquartejadores felizes, mas os ladrõezinhos numa boa, influenciados pelo excesso de crimes banalizados pelo dia-a-dia. Indiferença à lei desmoralizada para sempre, alegre aumento de transgressões, com os sanguessugas e vagabundos em geral servindo de exemplos: "Vou ser ladrão sim, qual é? É bom negócio...".
Surge também a ética da permissividade irresponsável, a ética da não-ética, desde que "assumida". "Numa boa, tem mais é que mentir mesmo, na política. Tem de sujar a mão. Sim, eu assumo, sou estuprador, mas assumo, numa boa..." Paranóia geral. Desconfiança dos outros. O "outro" como chato, como competidor ou como inimigo.
Fim da idéia de cultura como acumulação, fim de "importância cultural", de panteão do saber. Com o fim do passado, um presente detestável e um futuro sem cara, importância cultural para quê?
Sensação de inutilidade crítica. Para que falar, para que escrever? Esse artigo é inútil.
por Arnaldo Jabor
Desculpem o bode negro, mas a situação já passou de todos os limites. Está além do escândalo, além do horror e não conseguimos fazer nada. Pare por aqui, leitor amigo, se estiver deprimido, mas é que estamos diante do Insolúvel. Um País paralisado na economia e na política não gera apenas fome ou injustiça social; gera uma degradação psíquica progressiva. No Rio, temos uma amostragem exemplar.
A cidade está se dissolvendo debaixo de balas perdidas e balas achadas, a cidade virou um pesqueiro para marginais, que descem de suas 500 favelas para curtir um "assaltozinho legal" ou fazer um tiro ao alvo de cidadãos desavisados, sem motivo, só pelo prazer. Mas, não só o Rio. A zona geral do País, debaixo desse governo desgovernado, debaixo da estupidez paralítica da burocracia, da ausência de crescimento, de educação, está provocando um desvio forte na cabeça das pessoas.
Estamos nos deformando. Física e psiquicamente. Não só tragédias visíveis, como guerra ou catástrofes naturais nos deformam. A tragédia do nada, a tragédia do zero de progresso vai nos virando em anomalias. Crescem rabos, chifres, verrugas, tumores em nossos corpos e mentes. A principal anomalia é a crescente consciência de que o maior inimigo da governabilidade é o governo.
Não é nem o Lula ou quem quer que seja. A própria estrutura dos três poderes está trincada, está trancando tudo, sim. Todo o desejo nacional é impedido ou pelo Legislativo ou Judiciário, com um Executivo que não sabe como executar, dividido entre democracia liberal e esquemas populistas. O último progresso que aconteceu neste País, por um acaso histórico, quase milagre, foi o Plano Real e uma certa responsabilidade fiscal que o governo anterior deixou como herança bendita.
Depois disso, nada. Depois da crise dos mensalões, das sanguessugas e do dossiê (que até nos deram a ilusão de que algo se movia), tudo volta para trás. O PT se desmoralizou, descobrimos que o PSDB não existe e que Lula trabalha para o PMDB. O Brasil é um flashback, um filme rebobinando. Tudo se restaurou. Ninguém punido, crimes ignorados, Congresso asqueroso, Judiciário salvando partidos de aluguel, desativando qualquer avanço, a sordidez disfarçada em terminologia jurídica.
Aumenta o sentimento de impotência e depressão. Certamente, nuvens negras se formam. Teremos algo torto, torvo. Todos sabemos que vem merda aí. Não sabemos ainda qual delas. Além da depressão política, a novidade do ano: arrasamento dos serviços básicos. Com a crise geral dos vôos, enchentes sem tampa, queimadas eternas, florestas acabando, total incapacidade administrativa, chegamos a duvidar que a luz se acenda ou a água continue a jorrar das bicas.
Nossos corações estão mais duros. Para sobreviver, ficamos mais cínicos e mais reacionários. Irracionalismos raiam. Já pensamos: "Tem mais é de matar essa raça, essas polícias "mineiras" são boas mesmo, extermina, bota para quebrar!" Ou então: "Essa bosta não tem mais solução não. Vou cuidar da minha vida. Danem-se!"
Em vez de pena, já temos medo ou raiva da miséria: "Chiii, não agüento mais esses miseráveis nos sinais de trânsito, esses vagabundos descendo dos morros de bermudas e sandália havaiana. Só quero ver coisas bonitas..."
Mas, que "coisas bonitas"? Cada vez mais aceitamos o feio. Nas paredes, nas ruas, só pichações imundas, ruas alagadas, paisagens destruídas, gente desesperada, mal paga, miséria nos rostos, nas roupas, nos gestos, nas falas, risos boçais, frases banais, falta de educação, analfabetos que sabem escrever, o surgimento de uma língua bárbara entre os bandidos, grunhidos da miséria, "tá ligado?" Ou "Vamos combinar que está punk esta parada, fala sério!" - como reagem os playboys.
O império do fragmentário: "faits divers", notícias sem importância e denúncias vazias que não se completam, não formam sentido, se repetem num círculo vicioso; é a pequena história das irrelevâncias e o surgimento do Insolúvel como categoria política.
Na Academia, o discurso da melancolia teórica, a nostalgia de uma pureza perdida ou da "revolução" sumida. Ausência de um pensamento crítico novo, para além do lamento contra o capital. Surge um amor à truculência ou ao simplismo. Chávez como esperança; tudo, menos aceitar que temos de abrir caminho para o óbvio: reduzir o Estado, lutar por um choque urgente de administração e reformas que nos tirem do buraco. Isso, jamais; vai contra a idéia de controle, tanto à direita como à esquerda.
No meio do deserto ideológico, sem esperança ou projetos, a hipervalorização de bundas e pênis. O corpo como último refúgio, o sexo como única utopia. Nada temos além de barriga seca, bunda dura, peito de 200 mililitros, botox nos cornos, boca falsa dizendo bobagens, "cofrinho" à mostra, risos compulsivos, gargalhadas coloridas nas revistas, "piercing" nas vaginas.
Há também um aumento brutal dos psicopatas. Não só os queimadores de crianças, os esquartejadores felizes, mas os ladrõezinhos numa boa, influenciados pelo excesso de crimes banalizados pelo dia-a-dia. Indiferença à lei desmoralizada para sempre, alegre aumento de transgressões, com os sanguessugas e vagabundos em geral servindo de exemplos: "Vou ser ladrão sim, qual é? É bom negócio...".
Surge também a ética da permissividade irresponsável, a ética da não-ética, desde que "assumida". "Numa boa, tem mais é que mentir mesmo, na política. Tem de sujar a mão. Sim, eu assumo, sou estuprador, mas assumo, numa boa..." Paranóia geral. Desconfiança dos outros. O "outro" como chato, como competidor ou como inimigo.
Fim da idéia de cultura como acumulação, fim de "importância cultural", de panteão do saber. Com o fim do passado, um presente detestável e um futuro sem cara, importância cultural para quê?
Sensação de inutilidade crítica. Para que falar, para que escrever? Esse artigo é inútil.
Arnaldo Jabor, carioca nascido em 1940, é cineasta e jornalista, também já foi técnico de som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens. Na década de 90, por força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional, Jabor foi obrigado a procurar novos rumos e encontrou no jornalismo o seu ganha-pão. Estreou como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde levou para a TV Globo, no Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil e na Rádio CBN. O estilo irônico e mordaz com que comenta os fatos da atualidade brasileira foi decisivo para o seu grande sucesso junto ao público. Arnaldo Jabor também é colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”, além de escrever regularmente para diversos outros jornais do Brasil.
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A Profecia
Nosso país se encontra em processo de decadência, encontramo-nos numa derrocada sem precedentes tanto dos valores cristãos quanto na política e na moral. É possível que a nossa amada, decantada e tão defendida "Democracia" nos conduza à negação final de independência, liberdade e justiça. Esta situação se deve à aquelas pessoas que elegeram de forma voluntária o falso profeta e seus seguidores da "estrela vermelha", esta sim a marca da besta, do Anticristo, além de ser o "pai da mentira" como também é denominado o próprio Satanás. Em Apocalipse 13, está escrito: "que a primeira besta, o Anticristo, que emerge do mar dos povos, aparentemente é alguém sem poder, um pobre coitado que não tem nada". Pois bem, o fato é que quase 60 milhões de adoradores do Anticristo lhe deram poder e autoridade, uma opção que selará o destino de todos nós brasileiros por inúmeras gerações.
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Apocalipse Agora - Arnaldo Jabor
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