Saturday, September 23, 2006

Somos todos apedeutas? O PT acha que sim...!



































Alegação de insanidade. Dizer que dossiê é obra de loucos ou burros é tentar tornar seus autores inimputáveis
por Dora Kramer

Até agora, o roteiro da reação governista ao escândalo do dossiê Vedoin não falhou, seguiu à risca os antecessores: a escalação de culpados no segundo time, as manifestações de indignação e de repúdio, os apelos à apuração rigorosa e punição exemplar 'doa a quem doer'.

Não faltou nem o argumento-chave do advogado criminalista - o governo dispõe de um dos melhores do mercado dando expediente no Ministério da Justiça. Neste caso, a defesa é concentrada na alegação de insanidade dos réus.

Mentecaptos rematados, Freud Godoy, Gedimar Passos, Expedito Veloso, Valdebran Padilha, Hamilton Lacerda, Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Ricardo Berzoini, armaram plano à revelia dos chefes - a saber, o presidente Luiz Inácio da Silva e o senador Aloizio Mercadante - para ajudá-los e, burros que dói, terminaram criando uma complicação sem tamanho.

Mas, como são estúpidos e tudo é fruto de presença reduzida de massa encefálica nas desorientadas cabeças, tome-se emprestado ao programa humorístico de televisão o título de Organizações Tabajara e teremos, no máximo, um grupo de idiotas que não sabem o que fazem.

A 'tese' de que tudo o que se passou seria fruto de delírio e incompetência dos acusados serve à conveniência dos acusadores. É atitude pouco séria e menos ainda digna de credibilidade.

Dizer que são estultos e insanos absolve a todos de antemão e os exime de responsabilidade. Tanto os mandantes quanto os executores, pois, já que nenhum deles sabia exatamente da conseqüência de seus atos, há uma chance de que não sejam por eles culpados criminalmente.

Sendo assim, as coisas ficam reduzidas a uma brincadeira de mau gosto quando, na realidade, é tudo fruto de um plano bem engendrado, cujo defeito foi ter dado errado.

PT e governo querem trocar de papel com seus acusadores, pretendendo que são vítimas de acusações injustas. Primeiro, condenam com veemência o dossiê, depois acusam a oposição de fazer uso eleitoral da operação - esquecendo-se da ação em si.

Não demora apontarão os veículos de comunicação que noticiam os fatos como integrantes de um movimento de conspiração, coisa que já fazem de forma transversa, mas, em breve, farão de maneira direta.

Em seguida, e este será o movimento vindouro, se a eleição for para o segundo turno vão gritar que o processo eleitoral está sob suspeição, pois, se contrariarem as pesquisas, na ótica oficial haverá suspeita de fraude.

Mas, como crer em fraude, se o processo eletrônico, resguardado ademais pela fiscalização dos partidos, é tido como dos mais seguros no âmbito internacional?

Não importarão as condições objetivas frente às conveniências subjetivas de imaginar que tudo é possível, se houver a mínima possibilidade de fazer crer ao eleitorado que um eventual resultado adverso é fruto da ação nefasta dos oposicionistas e não conseqüência dos atos inconseqüentes dos governistas.


Dora Kramer é Jornalista especialista em política, comenta no jornal O Estado de S.Paulo os bastidores do poder e as análises das principais decisões políticas que mexem com nosso dia-a-dia. Passou pelo Diário Popular, pela Agência Folha e pelo Jornal do Brasil. Consagrou-se, nestes mais de vinte anos, como uma das jornalista mais influente do País






Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo".
Domingo, 24 de setembro de 2006.



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