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Este holocausto será diferente
por Benny Morris
O segundo holocausto não será como o primeiro. Os nazistas industrializaram o massacre, claro. Mas, mesmo assim, eram obrigados a ter contato com as vítimas. Antes de as matarem efetivamente, podem tê-las desumanizado em suas mentes ao longo de meses e anos com recurso ao sofrimento de humilhações terríveis, mas, mesmo assim, tinham com as suas vítimas contatos visuais e auditivos, e alguns mesmo táteis.
Os alemães, e os seus aliados não germânicos tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de arrastá-los e de lhes agredir pelas ruas e de eliminá-los em bosques nas periferias das cidades, ou amontoá-los em vagões de gado, onde seriam transportados em comboios para os campos de concentração, onde eram escravizados ("O trabalho liberta!"), separando os aparentemente sadios dos completamente inúteis, "inúteis" estes que eram colocados sob "chuveiros" e mortos com gás, depois retiravam os corpos para receber a carga seguinte.
O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irã ter conseguido fabricar a "bomba", os mulás de Qom reunir-se-ão numa sessão secreta, sob um retrato do aiatolá Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato.
As ordens serão dadas e mísseis "Shihab III" e "Shihab IV" serão lançados contra Tel-aviv, Berseba, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelenses e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos mísseis "Shihab" terão ogivas nucleares. Outros serão meras iscas, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as baterias antimísseis de Israel e as unidades de comando de defesa avançada.
Para um país com o tamanho e a forma de Israel (vinte mil e setecentos quilômetros quadrados, alongados), provavelmente quatro ou cinco ataques serão suficientes. Adeus Israel. Um milhão ou mais de israelenses nas áreas metropolitanas de Jerusalém, Tel-aviv e Haifa morrerão imediatamente. Milhões sofrerão os graves efeitos da radiação. Israel tem cerca de sete milhões de habitantes. Nenhum iraniano irá ver ou tocar um único israelense. Tudo será bastante impessoal.
Alguns dos mortos inevitavelmente serão árabes, cerca de 1,3 milhões dos cidadãos de Israel são árabes e outros 3,5 milhões vive nos territórios semi-ocupados da Cisjordânia (Judéia e Samaria) e na Faixa de Gaza.
Jerusalém, Tel-aviv e Haifa possuem igualmente minorias árabes substanciais. Existem igualmente grandes concentrações de populações árabes em torno de Jerusalém (em Ramallah-Al Bireh, Bir Zeit, Belém) e nos arredores de Haifa.
Aqui também, muitos morrerão, imediatamente ou aos poucos.
É duvidoso que um grande massacre de muçulmanos perturbe Ahmadinejad e os mulás. Os iranianos não gostam particularmente de árabes, especialmente de árabes sunitas, com quem têm guerreado intermitentemente por séculos. E eles têm um desprezo particular para com os (sunitas) palestinos que, apesar de tudo, mesmo sendo inicialmente em número dez vezes mais do que os judeus, não conseguiram impedir durante o longo conflito que eles criassem o seu próprio estado ou controlassem toda a Palestina.
Além de tudo isso, a liderança iraniana encara a destruição de Israel como um supremo mandamento divino, tal como um sinal da segunda vinda, e as muitas vítimas colaterais muçulmanas serão sempre encaradas como mártires na nobre causa. De qualquer forma, os palestinos, muitos deles dispersos por todo o mundo, sobreviverão enquanto povo, tal como o fará a grande "Nação Árabe" da qual fazem parte. E, com toda a certeza, para se livrarem de Israel, os árabes estarão dispostos a fazer alguns sacrifícios. No saldo cósmico das coisas, valerá a pena.
Uma questão pode mesmo assim ser levantada nos concílios iranianos: E Jerusalém? Afinal, a cidade é o terceiro lugar mais sagrado de culto ao islamismo (depois de Meca e Medina): a mesquita de Al Aksa e a Mesquita de Omar. Mas Ali Khamenei, o líder espiritual supremo, e Mahmoud Ahmadinejad muito provavelmente responderiam da mesma forma que o fariam em relação à questão mais crucial de destruir e poluir de forma radioativa a Palestina inteira. A cidade, tal como a terra, pela graça de Deus, em 20 ou 30 anos irá se recuperar. E será restaurada para o Islã (e para os árabes). E a outra poluição mais profunda terá sido erradicada.
A julgar pelas referências contínuas de Mahmoud Ahmadinejad à Palestina e à necessidade de destruir Israel, e à sua negação do primeiro holocausto, ele é um homem obcecado. E partilha a obsessão com os mulás, todos eles criados sob os ensinamentos de Khomeini, um prolífico anti-semita que freqüentemente proferia sentenças contra "o pequeno satã". A julgar pelo fato de Mahmoud Ahmadinejad ter organizado um concurso de "cartoons" sobre o holocausto e uma conferência para negar o mesmo, os ódios do presidente iraniano são profundos (e, claro, descarados).
Ele está disposto a pôr em jogo o futuro do Irã, ou mesmo o do Oriente Médio inteiro, em troca da destruição de Israel. Sem dúvida que ele acredita que Alá irá proteger o Irã, de alguma forma, de uma resposta nuclear israelense ou de uma contra-ofensiva americana. Mas, Alá à parte, ele pode muito bem acreditar que os seus mísseis pulverizarão o estado Judeu, destruindo a sua liderança e as suas bases nucleares terrestres, desmoralizando e confundindo de tal forma os comandantes dos submarinos dotados com artefatos nucleares de Israel que estes serão incapazes de responder. E, com o seu profundo desprezo pela indecisão frouxa do Ocidente, não levará a sério a ameaça de uma retaliação nuclear americana.
Ou poderá muito bem achar, de uma forma irracional (para nós), que uma contra-ofensiva é um preço que está disposto a pagar. Tal como o seu mentor, aiatolá Khomeini, disse num discurso em Qom em 1980: "Nós não adoramos o Irã, adoramos Alá… que esta terra (Irã) queime. Que esta terra desapareça em fumo desde que o Islã saia triunfante…".
Para estes adoradores do culto da morte, mesmo o sacrifício literal da pátria é aceitável se dai sair o fim de Israel.
O Vice-Ministro israelense da Defesa, Ephraim Sneh, sugeriu que o Irã nem sequer tem de utilizar a "bomba" para destruir Israel. A simples nuclearização do Irã poderá intimidar e deprimir os israelenses de tal maneira que eles perderão a esperança, emigrando gradualmente; com investidores e imigrantes evitando o estado judeu ameaçado de destruição. Conjugados, estes fatores contribuiriam para o fim de Israel.
Mas sinto que Mahmoud Ahmadinejad e os seus aliados não têm a paciência necessária para esperar pelo lento desenrolar desta hipótese; eles procuram a aniquilação de Israel aqui e agora, no futuro imediato, durante as suas vidas. Eles não querem deixar nada à mercê dos vagos ventos da História.
Tal como durante o primeiro, o segundo holocausto será precedido por décadas de preparação de corações e mentes, tanto pelos líderes iranianos e árabes, como por intelectuais e órgãos de comunicação social do ocidente (mídias). Diferentes mensagens foram dirigidas a diferentes audiências, mas todas (de forma concreta) têm servido o mesmo objetivo: a demonização de Israel. Muçulmanos em todo o mundo têm sido ensinados que "os sionistas-judeus são a personificação do mal" e que "Israel tem de ser destruído".
De forma mais sutil, o mundo ocidental foi ensinado que "Israel é um estado opressor racista" e que "Israel, nesta época de multiculturalismo, é um anacronismo supérfluo". Gerações de muçulmanos, e pelo menos uma geração no Ocidente, têm sido criados com estes catecismos.
A progressão para o segundo holocausto (que, curiosamente, irá provavelmente ter sensivelmente o mesmo número de vítimas que o primeiro) tem sido acompanhado por uma comunidade internacional fragmentada e conduzida pelos seus próprios apetites egoístas, a Rússia e a China obcecadas com os mercados muçulmanos; a França com o petróleo árabe; e os Estados Unidos, empurrados a um isolacionismo mais profundo pelo descalabro no Iraque. O Irã tem tido liberdade para prosseguir os seus sonhos nucleares, e Israel e o Irã foram deixados sozinhos para se enfrentarem.
Mas Israel, basicamente isolado, não estará à altura da tarefa, tal como um coelho paralisado pelos faróis de um carro que vem de encontro a ele. No verão passado, liderado por um primeiro-ministro incompetente e por um sindicalista fingindo-se de ministro da defesa, utilizando tropas treinadas para dominar gangues de palestinos, tropas estas, mal armadas e pior treinadas, bem como demasiados preocupados em não sofrer ou infligir baixas, Israel falhou numa mini-guerra de 34 dias contra um pequeno exército de guerrilha financiado pelos iranianos (ainda que bem treinado e bem armado). Essa mini-guerra desmoralizou totalmente as lideranças políticas e militares de Israel.
Desde então, ministros e generais, tal como os seus homólogos ocidentais, limitam-se a observar silenciosamente à medida que os patronos do Hezbollah constroem os arsenais do Apocalipse.
De forma perversa, os líderes de Israel podem até ter ficado satisfeitos com as pressões ocidentais apelando para a paralisação do programa nuclear iraniano. Muito provavelmente, eles querem acreditar profundamente nas garantias ocidentais de que alguém, a ONU, o G-8, irá tirar de suas mãos a batata quente radioativa. Há mesmo quem tivesse acreditado na bizarra idéia de que uma mudança de regime em Teerã, conduzida por uma classe-média laica, acabaria por parar os loucos mulás.
Mas de forma ainda mais concreta, o programa iraniano apresentava um complexo desafio para um país com um número limitado de recursos militares tradicionais. Aprendendo com a experiência do sucesso da destruição pela Força Aérea de Israel do reator nuclear iraquiano de Osirak em 1981, os iranianos duplicaram e dispersaram as suas instalações, enterrando-as em "bunkers" profundos. Para atacar as instalações nucleares iranianas com armas convencionais seria necessária uma força aérea do tamanho da americana, trabalhando 24 horas por dia durante mais de um mês.
Na melhor das hipóteses, a Força Aérea de Israel, os comandos e a marinha, podiam almejar a atingir apenas um dos componentes do projeto iraniano. Mas, no fim das contas, ele continuaria substancialmente intacto, e os iranianos ainda mais determinados (se tal for possível) a alcançar a "bomba" o quanto antes. Ao mesmo tempo, sem qualquer dúvida, seria gerada também uma campanha mundial de terrorismo islâmico contra Israel (e possivelmente contra os seus aliados ocidentais) e, claro, uma campanha quase universal de desprezo aos judeus. Orquestrados por Mahmoud Ahmadinejad, todos clamariam que o programa nuclear iraniano se destinava a propósitos pacíficos. Na melhor das hipóteses, um ataque convencional de Israel poderia apenas atrasar os iranianos em cerca de dois anos.
Imediatamente, as lideranças incompetentes de Jerusalém enfrentariam um cenário catastrófico, quer fosse depois do lançamento de uma ofensiva convencional ou, em vez dela, lançando um ataque nuclear preventivo e antecipado contra o programa nuclear iraniano, que tem algumas das suas instalações em torno de grandes cidades.
Teriam eles estômago para isso? Estaria a sua determinação em salvar Israel a enorme possibilidade de matar milhões de iranianos, na verdade, destruir o Irã? Este dilema foi há muito definido de forma certeira por um sábio general: o arsenal nuclear de Israel é inutilizável. Apenas pode ser usado demasiado cedo ou demasiado tarde. Nunca haverá um momento "certo". Usado "cedo demais", quer dizer antes do Irã produzir armas nucleares, Israel será colocado no papel de pária internacional, alvo de um ataque muçulmano universal, sem um amigo no mundo; "tarde demais" quereria dizer que os iranianos já atacaram. Que vantagem haveria?
Então os líderes de Israel cerrarão os dentes na esperança de que tudo corra da melhor maneira possível. Talvez, depois de terem a "bomba", os iranianos se portem de forma "racional"?
Mas os Iranianos são motivados por uma lógica transcendental. E lançarão os seus mísseis. E, tal como no primeiro holocausto, a comunidade internacional nada fará. Tudo acabará, para Israel, em poucos minutos, não como na década de quarenta, quando o mundo teve cinco longos anos para cruzar os braços e nada fazer.
Depois dos mísseis "Shihabs" caírem, o mundo enviará navios de salvamento e ajuda médica para os levemente carbonizados. Não atacará o Irã com armas nucleares. Com que objetivo e à que custos?
Uma resposta nuclear americana alienaria de forma permanente o mundo muçulmano, aprofundando e universalizando o atual choque de civilizações. E, claro, não traria Israel de volta. (enforcar um criminoso devolve à vida as suas vítimas?).
Então qual seria o propósito?
Ainda assim, o segundo holocausto será diferente no sentido em que Mahmoud Ahmadinejad não verá nem tocará naqueles que deseja ver mortos. Na verdade não haverá cenas como a seguinte, citada no recente livro de Daniel Mendelsohn, "The lost, a search for six of six million", na qual é descrita a segunda incursão nazista em Bolechow, na Polônia, em 1942:
Um episódio terrível aconteceu com a senhora Grynberg. Ucranianos e alemães invadiram sua casa e encontraram-na prestes a dar à luz. As lágrimas e as súplicas dos familiares não ajudaram e ela foi levada de casa vestindo somente uma camisola e arrastada para a praça em frente da Câmara Municipal.
Ali ela foi colocada em uma caçamba de lixo no pátio da Câmara, onde a multidão de ucranianos presentes faziam piadas e riam das suas dores do parto, até que ela deu à luz. A criança foi imediatamente arrancada dos seus braços, ainda com o cordão umbilical, e atirada para o ar, foi estraçalhada pela multidão e ela ficou ali, de pé à medida que sangue escorria do seu corpo, e permaneceu desta forma algumas horas encostada à parede da Câmara Municipal. Depois foi com todos os outros para a estação ferroviária de onde foi levada para o campo de extermínio de Belzec.
No próximo holocausto não haverá cenas destas de cortar o coração, de criminosos e vítimas ensopados em sangue (Se julgarmos através das fotografias de Hiroshima e de Nagasaki, os efeitos emocionais das explosões nucleares podem ser razoavelmente desagradáveis).
Mas mesmo assim, será um holocausto.
Os alemães, e os seus aliados não germânicos tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de arrastá-los e de lhes agredir pelas ruas e de eliminá-los em bosques nas periferias das cidades, ou amontoá-los em vagões de gado, onde seriam transportados em comboios para os campos de concentração, onde eram escravizados ("O trabalho liberta!"), separando os aparentemente sadios dos completamente inúteis, "inúteis" estes que eram colocados sob "chuveiros" e mortos com gás, depois retiravam os corpos para receber a carga seguinte.
O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irã ter conseguido fabricar a "bomba", os mulás de Qom reunir-se-ão numa sessão secreta, sob um retrato do aiatolá Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato.
As ordens serão dadas e mísseis "Shihab III" e "Shihab IV" serão lançados contra Tel-aviv, Berseba, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelenses e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos mísseis "Shihab" terão ogivas nucleares. Outros serão meras iscas, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as baterias antimísseis de Israel e as unidades de comando de defesa avançada.
Para um país com o tamanho e a forma de Israel (vinte mil e setecentos quilômetros quadrados, alongados), provavelmente quatro ou cinco ataques serão suficientes. Adeus Israel. Um milhão ou mais de israelenses nas áreas metropolitanas de Jerusalém, Tel-aviv e Haifa morrerão imediatamente. Milhões sofrerão os graves efeitos da radiação. Israel tem cerca de sete milhões de habitantes. Nenhum iraniano irá ver ou tocar um único israelense. Tudo será bastante impessoal.
Alguns dos mortos inevitavelmente serão árabes, cerca de 1,3 milhões dos cidadãos de Israel são árabes e outros 3,5 milhões vive nos territórios semi-ocupados da Cisjordânia (Judéia e Samaria) e na Faixa de Gaza.
Jerusalém, Tel-aviv e Haifa possuem igualmente minorias árabes substanciais. Existem igualmente grandes concentrações de populações árabes em torno de Jerusalém (em Ramallah-Al Bireh, Bir Zeit, Belém) e nos arredores de Haifa.
Aqui também, muitos morrerão, imediatamente ou aos poucos.
É duvidoso que um grande massacre de muçulmanos perturbe Ahmadinejad e os mulás. Os iranianos não gostam particularmente de árabes, especialmente de árabes sunitas, com quem têm guerreado intermitentemente por séculos. E eles têm um desprezo particular para com os (sunitas) palestinos que, apesar de tudo, mesmo sendo inicialmente em número dez vezes mais do que os judeus, não conseguiram impedir durante o longo conflito que eles criassem o seu próprio estado ou controlassem toda a Palestina.
Além de tudo isso, a liderança iraniana encara a destruição de Israel como um supremo mandamento divino, tal como um sinal da segunda vinda, e as muitas vítimas colaterais muçulmanas serão sempre encaradas como mártires na nobre causa. De qualquer forma, os palestinos, muitos deles dispersos por todo o mundo, sobreviverão enquanto povo, tal como o fará a grande "Nação Árabe" da qual fazem parte. E, com toda a certeza, para se livrarem de Israel, os árabes estarão dispostos a fazer alguns sacrifícios. No saldo cósmico das coisas, valerá a pena.
Uma questão pode mesmo assim ser levantada nos concílios iranianos: E Jerusalém? Afinal, a cidade é o terceiro lugar mais sagrado de culto ao islamismo (depois de Meca e Medina): a mesquita de Al Aksa e a Mesquita de Omar. Mas Ali Khamenei, o líder espiritual supremo, e Mahmoud Ahmadinejad muito provavelmente responderiam da mesma forma que o fariam em relação à questão mais crucial de destruir e poluir de forma radioativa a Palestina inteira. A cidade, tal como a terra, pela graça de Deus, em 20 ou 30 anos irá se recuperar. E será restaurada para o Islã (e para os árabes). E a outra poluição mais profunda terá sido erradicada.
A julgar pelas referências contínuas de Mahmoud Ahmadinejad à Palestina e à necessidade de destruir Israel, e à sua negação do primeiro holocausto, ele é um homem obcecado. E partilha a obsessão com os mulás, todos eles criados sob os ensinamentos de Khomeini, um prolífico anti-semita que freqüentemente proferia sentenças contra "o pequeno satã". A julgar pelo fato de Mahmoud Ahmadinejad ter organizado um concurso de "cartoons" sobre o holocausto e uma conferência para negar o mesmo, os ódios do presidente iraniano são profundos (e, claro, descarados).
Ele está disposto a pôr em jogo o futuro do Irã, ou mesmo o do Oriente Médio inteiro, em troca da destruição de Israel. Sem dúvida que ele acredita que Alá irá proteger o Irã, de alguma forma, de uma resposta nuclear israelense ou de uma contra-ofensiva americana. Mas, Alá à parte, ele pode muito bem acreditar que os seus mísseis pulverizarão o estado Judeu, destruindo a sua liderança e as suas bases nucleares terrestres, desmoralizando e confundindo de tal forma os comandantes dos submarinos dotados com artefatos nucleares de Israel que estes serão incapazes de responder. E, com o seu profundo desprezo pela indecisão frouxa do Ocidente, não levará a sério a ameaça de uma retaliação nuclear americana.
Ou poderá muito bem achar, de uma forma irracional (para nós), que uma contra-ofensiva é um preço que está disposto a pagar. Tal como o seu mentor, aiatolá Khomeini, disse num discurso em Qom em 1980: "Nós não adoramos o Irã, adoramos Alá… que esta terra (Irã) queime. Que esta terra desapareça em fumo desde que o Islã saia triunfante…".
Para estes adoradores do culto da morte, mesmo o sacrifício literal da pátria é aceitável se dai sair o fim de Israel.
O Vice-Ministro israelense da Defesa, Ephraim Sneh, sugeriu que o Irã nem sequer tem de utilizar a "bomba" para destruir Israel. A simples nuclearização do Irã poderá intimidar e deprimir os israelenses de tal maneira que eles perderão a esperança, emigrando gradualmente; com investidores e imigrantes evitando o estado judeu ameaçado de destruição. Conjugados, estes fatores contribuiriam para o fim de Israel.
Mas sinto que Mahmoud Ahmadinejad e os seus aliados não têm a paciência necessária para esperar pelo lento desenrolar desta hipótese; eles procuram a aniquilação de Israel aqui e agora, no futuro imediato, durante as suas vidas. Eles não querem deixar nada à mercê dos vagos ventos da História.
Tal como durante o primeiro, o segundo holocausto será precedido por décadas de preparação de corações e mentes, tanto pelos líderes iranianos e árabes, como por intelectuais e órgãos de comunicação social do ocidente (mídias). Diferentes mensagens foram dirigidas a diferentes audiências, mas todas (de forma concreta) têm servido o mesmo objetivo: a demonização de Israel. Muçulmanos em todo o mundo têm sido ensinados que "os sionistas-judeus são a personificação do mal" e que "Israel tem de ser destruído".
De forma mais sutil, o mundo ocidental foi ensinado que "Israel é um estado opressor racista" e que "Israel, nesta época de multiculturalismo, é um anacronismo supérfluo". Gerações de muçulmanos, e pelo menos uma geração no Ocidente, têm sido criados com estes catecismos.
A progressão para o segundo holocausto (que, curiosamente, irá provavelmente ter sensivelmente o mesmo número de vítimas que o primeiro) tem sido acompanhado por uma comunidade internacional fragmentada e conduzida pelos seus próprios apetites egoístas, a Rússia e a China obcecadas com os mercados muçulmanos; a França com o petróleo árabe; e os Estados Unidos, empurrados a um isolacionismo mais profundo pelo descalabro no Iraque. O Irã tem tido liberdade para prosseguir os seus sonhos nucleares, e Israel e o Irã foram deixados sozinhos para se enfrentarem.
Mas Israel, basicamente isolado, não estará à altura da tarefa, tal como um coelho paralisado pelos faróis de um carro que vem de encontro a ele. No verão passado, liderado por um primeiro-ministro incompetente e por um sindicalista fingindo-se de ministro da defesa, utilizando tropas treinadas para dominar gangues de palestinos, tropas estas, mal armadas e pior treinadas, bem como demasiados preocupados em não sofrer ou infligir baixas, Israel falhou numa mini-guerra de 34 dias contra um pequeno exército de guerrilha financiado pelos iranianos (ainda que bem treinado e bem armado). Essa mini-guerra desmoralizou totalmente as lideranças políticas e militares de Israel.
Desde então, ministros e generais, tal como os seus homólogos ocidentais, limitam-se a observar silenciosamente à medida que os patronos do Hezbollah constroem os arsenais do Apocalipse.
De forma perversa, os líderes de Israel podem até ter ficado satisfeitos com as pressões ocidentais apelando para a paralisação do programa nuclear iraniano. Muito provavelmente, eles querem acreditar profundamente nas garantias ocidentais de que alguém, a ONU, o G-8, irá tirar de suas mãos a batata quente radioativa. Há mesmo quem tivesse acreditado na bizarra idéia de que uma mudança de regime em Teerã, conduzida por uma classe-média laica, acabaria por parar os loucos mulás.
Mas de forma ainda mais concreta, o programa iraniano apresentava um complexo desafio para um país com um número limitado de recursos militares tradicionais. Aprendendo com a experiência do sucesso da destruição pela Força Aérea de Israel do reator nuclear iraquiano de Osirak em 1981, os iranianos duplicaram e dispersaram as suas instalações, enterrando-as em "bunkers" profundos. Para atacar as instalações nucleares iranianas com armas convencionais seria necessária uma força aérea do tamanho da americana, trabalhando 24 horas por dia durante mais de um mês.
Na melhor das hipóteses, a Força Aérea de Israel, os comandos e a marinha, podiam almejar a atingir apenas um dos componentes do projeto iraniano. Mas, no fim das contas, ele continuaria substancialmente intacto, e os iranianos ainda mais determinados (se tal for possível) a alcançar a "bomba" o quanto antes. Ao mesmo tempo, sem qualquer dúvida, seria gerada também uma campanha mundial de terrorismo islâmico contra Israel (e possivelmente contra os seus aliados ocidentais) e, claro, uma campanha quase universal de desprezo aos judeus. Orquestrados por Mahmoud Ahmadinejad, todos clamariam que o programa nuclear iraniano se destinava a propósitos pacíficos. Na melhor das hipóteses, um ataque convencional de Israel poderia apenas atrasar os iranianos em cerca de dois anos.
Imediatamente, as lideranças incompetentes de Jerusalém enfrentariam um cenário catastrófico, quer fosse depois do lançamento de uma ofensiva convencional ou, em vez dela, lançando um ataque nuclear preventivo e antecipado contra o programa nuclear iraniano, que tem algumas das suas instalações em torno de grandes cidades.
Teriam eles estômago para isso? Estaria a sua determinação em salvar Israel a enorme possibilidade de matar milhões de iranianos, na verdade, destruir o Irã? Este dilema foi há muito definido de forma certeira por um sábio general: o arsenal nuclear de Israel é inutilizável. Apenas pode ser usado demasiado cedo ou demasiado tarde. Nunca haverá um momento "certo". Usado "cedo demais", quer dizer antes do Irã produzir armas nucleares, Israel será colocado no papel de pária internacional, alvo de um ataque muçulmano universal, sem um amigo no mundo; "tarde demais" quereria dizer que os iranianos já atacaram. Que vantagem haveria?
Então os líderes de Israel cerrarão os dentes na esperança de que tudo corra da melhor maneira possível. Talvez, depois de terem a "bomba", os iranianos se portem de forma "racional"?
Mas os Iranianos são motivados por uma lógica transcendental. E lançarão os seus mísseis. E, tal como no primeiro holocausto, a comunidade internacional nada fará. Tudo acabará, para Israel, em poucos minutos, não como na década de quarenta, quando o mundo teve cinco longos anos para cruzar os braços e nada fazer.
Depois dos mísseis "Shihabs" caírem, o mundo enviará navios de salvamento e ajuda médica para os levemente carbonizados. Não atacará o Irã com armas nucleares. Com que objetivo e à que custos?
Uma resposta nuclear americana alienaria de forma permanente o mundo muçulmano, aprofundando e universalizando o atual choque de civilizações. E, claro, não traria Israel de volta. (enforcar um criminoso devolve à vida as suas vítimas?).
Então qual seria o propósito?
Ainda assim, o segundo holocausto será diferente no sentido em que Mahmoud Ahmadinejad não verá nem tocará naqueles que deseja ver mortos. Na verdade não haverá cenas como a seguinte, citada no recente livro de Daniel Mendelsohn, "The lost, a search for six of six million", na qual é descrita a segunda incursão nazista em Bolechow, na Polônia, em 1942:
Um episódio terrível aconteceu com a senhora Grynberg. Ucranianos e alemães invadiram sua casa e encontraram-na prestes a dar à luz. As lágrimas e as súplicas dos familiares não ajudaram e ela foi levada de casa vestindo somente uma camisola e arrastada para a praça em frente da Câmara Municipal.
Ali ela foi colocada em uma caçamba de lixo no pátio da Câmara, onde a multidão de ucranianos presentes faziam piadas e riam das suas dores do parto, até que ela deu à luz. A criança foi imediatamente arrancada dos seus braços, ainda com o cordão umbilical, e atirada para o ar, foi estraçalhada pela multidão e ela ficou ali, de pé à medida que sangue escorria do seu corpo, e permaneceu desta forma algumas horas encostada à parede da Câmara Municipal. Depois foi com todos os outros para a estação ferroviária de onde foi levada para o campo de extermínio de Belzec.
No próximo holocausto não haverá cenas destas de cortar o coração, de criminosos e vítimas ensopados em sangue (Se julgarmos através das fotografias de Hiroshima e de Nagasaki, os efeitos emocionais das explosões nucleares podem ser razoavelmente desagradáveis).
Mas mesmo assim, será um holocausto.
Benny Morris é professor de História do Oriente Médio na Universidade Ben-Gurion em Israel.
Publicado no "The Jerusalem Post".
Quinta-feira, 18 de janeiro de 2007.
"A fé é poderosa o bastante para imunizar as pessoas contra todos os sentimentos de compaixão, clemência e humanidade. Imuniza até contra o medo, se elas honestamente acreditarem que morrendo como mártires irão diretamente para o céu. Que arma! A fé religiosa merece um capítulo à parte na história da tecnologia de guerra, junto com o arco e a flecha, o cavalo, o tanque e a bomba atômica".
Richard Dawkins, em "O gene egoísta."
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Israel-Irã
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1 comment:
Claramente o autor ainda carrega consigo todo o vitimismo judeu, porém hoje o 2o. holocausto não seria maior para eles e sim para os muçulmanos. Se, o Irã atacar traiçoeiramente Israel com artefatos nucleares, fará um grande estrago, mas apenas eliminará judeus e árabes pobres a elite judaica estará bem protegida em bunkers que Israel constrói há anos já prevendo esta possibilidade. Por outro lado, a retaliação de Israel, através do seu potencial nuclear, seja por mísseis localizados em instalações subterrâneas ou através do arsenal atômico a bordo de sua frota de submarinos (note-se: submarinos convencionais, porém armados com mísseis nucleares), será fatal tanto para o Irã, como para todo o Oriente Médio. Que o Ocidente não se engane, Israel como vingança arrasará todos os países mulçumanos, não haverá mais a tal Nação Árabe, nada mais os incomodará, o preço valerá a pena.
Está escrito no livro do Apocalipse quem souber interpretar entenderá.O Islã cavará sua própria cova.
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