Se colar, colou
por Dora Kramer
Até agora, as negativas do presidente Luiz Inácio da Silva sobre o desejo de disputar um terceiro mandato já na próxima eleição soavam convincentes. Menos pela pregação em favor da alternância de poder e mais pela falta de condições objetivas para fazer uma mudança dessa natureza na Constituição.
Mas a entrada do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) em cena, defendendo clara e objetivamente a proposta sem ser desestimulado pelo maior (em tese) desinteressado, convenhamos, altera a crença na sinceridade presidencial.
Para usar uma expressão do agrado de Lula, o dado concreto é que o presidente não deixa esse samba morrer. Primeiro, fala de sucessão e eleição dia sim, outro também. Segundo, se não quisesse mesmo conversa sobre o assunto simplesmente diria ao amigo dos tempos de sindicalista no ABC para deixar isso para lá.
Lula tem intimidade e autoridade mais que suficientes para isso. Se nem adversários - ou contrariados como aqueles empresários que na semana passada entraram numa reunião com ele falando grosso e saíram falando fino - têm coragem de enfrentar Lula, que dirá um fiel camarada como Devanir Ribeiro.
No âmbito de governo, é preciso ter claro, nada se faz contra a vontade do presidente. Muito menos em se tratando de um presidente voluntarioso como Lula. É a notória frase de José Dirceu: “Nada fiz sem o conhecimento do presidente.”
É assim que a banda toca lá pelos lados do Planalto. Tocou assim quando o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, defendia a tese da reeleição, enquanto Fernando Henrique negava, e continua tocando assim, até em ritmo mais acentuado.
Não que Lula já tenha na cabeça o roteiro da tentativa de prosseguir na Presidência nem que dê sinais de empenho pessoal para levar adiante uma proposta institucionalmente indefensável.
Mas está claro que não desestimula. Parece agir na base do se colar, colou. Não colando, pode sempre dizer que não tem nada a ver com isso, como de resto está dizendo. Mas, e se por uma ínfima chance, prosperar?
Se acontecer, já está ficando fora de dúvida, o presidente surfará nessa onda.
Note-se o seguinte: o PT e Lula, tão pródigos na denúncia de golpes e conspirações, não aplicam o mesmo conceito à tese do terceiro mandato. Fosse outro o presidente e a proposta viesse de um aliado assim tão próximo, o que estariam dizendo os petistas? É golpe!
No entanto, o que se ouve do presidente Lula é a vontade inescapável de voltar a “fazer um coelhinho assado”, são alertas de que democracia não é brinquedo.
Postas na balança onde no outro prato se põe a proposta e a origem de seu autor, as declarações soam leves, prontas a se desmanchar, voláteis, no ar.
Reeleição, o retorno
O grão-tucanato arquivou, mas não desistiu da idéia de pôr fim a uma de suas criaturas, a reeleição. Leva o assunto em banho-maria agora e retoma o debate com vigor depois da eleição municipal de 2008.
Tirando os dois ou três tucanos que sempre foram contra a tese - mesmo quando criada para dar um segundo mandato a Fernando Henrique Cardoso -, a maioria se move pela conveniência eleitoral, já que o fim da reeleição teoricamente aplaca o apetite petista por um terceiro mandato, pois cria expectativa próxima (no pleito seguinte) de volta ao poder para Lula e facilita as negociações internas no PSDB.
Quem perder a indicação para candidato a presidente em 2010 fica seguro com a perspectiva de um horizonte mais curto para disputar o cargo. Não em 2014, mas 2015, porque o plano é ampliar o mandato do eleito em 2010 para cinco anos.
Delenda Berzoini
Candidato à presidência do PT pela chapa A Esperança é Vermelha, da esquerda petista, Valter Pomar faz algumas observações sobre a disputa interna em geral e sobre as críticas de partidários de José Eduardo Cardozo, mais exatamente o governador de Sergipe, Marcelo Déda, em particular.
São quatro os pontos destacados por Pomar.
1. “O chamado Campo Majoritário controlou o diretório nacional de 1995 a 2005, chegando a ter 70% dos votos, graças ao apoio de outras tendências e lideranças, inclusive Jilmar Tatto e José Eduardo.”
2. “Marcelo Déda fez parte do Campo Majoritário até 2005, o que não desmerece suas críticas, em alguns aspectos muito parecidas com as nossas.”
3. “Ricardo Berzoini é favorito para ir ao segundo turno, mas não é favorito para vencer. Isto, claro, se as outras candidaturas, que deveriam anunciar desde já se estão mesmo dispostas a derrotar Berzoini, estiverem unidas na etapa final.”
4. “Por fim, não está claro quem irá ao segundo turno, não há pesquisas. O único parâmetro (as eleições internas de 2005) indicam que há três candidaturas disputando a vaga e não apenas duas (Tatto e Cardozo), como você cita.”
Incluída, pois, está a esquerda na ofensiva para derrubar o candidato de Lula à presidência do PT.
Dora Kramer é Jornalista especialista em política, comenta no jornal O Estado de S.Paulo os bastidores do poder e as análises das principais decisões políticas que mexem com nosso dia-a-dia. Passou pelo Diário Popular, pela Agência Folha e pelo Jornal do Brasil. Consagrou-se, nestes mais de vinte anos, como uma das jornalista mais influente do País
Mas a entrada do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) em cena, defendendo clara e objetivamente a proposta sem ser desestimulado pelo maior (em tese) desinteressado, convenhamos, altera a crença na sinceridade presidencial.
Para usar uma expressão do agrado de Lula, o dado concreto é que o presidente não deixa esse samba morrer. Primeiro, fala de sucessão e eleição dia sim, outro também. Segundo, se não quisesse mesmo conversa sobre o assunto simplesmente diria ao amigo dos tempos de sindicalista no ABC para deixar isso para lá.
Lula tem intimidade e autoridade mais que suficientes para isso. Se nem adversários - ou contrariados como aqueles empresários que na semana passada entraram numa reunião com ele falando grosso e saíram falando fino - têm coragem de enfrentar Lula, que dirá um fiel camarada como Devanir Ribeiro.
No âmbito de governo, é preciso ter claro, nada se faz contra a vontade do presidente. Muito menos em se tratando de um presidente voluntarioso como Lula. É a notória frase de José Dirceu: “Nada fiz sem o conhecimento do presidente.”
É assim que a banda toca lá pelos lados do Planalto. Tocou assim quando o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, defendia a tese da reeleição, enquanto Fernando Henrique negava, e continua tocando assim, até em ritmo mais acentuado.
Não que Lula já tenha na cabeça o roteiro da tentativa de prosseguir na Presidência nem que dê sinais de empenho pessoal para levar adiante uma proposta institucionalmente indefensável.
Mas está claro que não desestimula. Parece agir na base do se colar, colou. Não colando, pode sempre dizer que não tem nada a ver com isso, como de resto está dizendo. Mas, e se por uma ínfima chance, prosperar?
Se acontecer, já está ficando fora de dúvida, o presidente surfará nessa onda.
Note-se o seguinte: o PT e Lula, tão pródigos na denúncia de golpes e conspirações, não aplicam o mesmo conceito à tese do terceiro mandato. Fosse outro o presidente e a proposta viesse de um aliado assim tão próximo, o que estariam dizendo os petistas? É golpe!
No entanto, o que se ouve do presidente Lula é a vontade inescapável de voltar a “fazer um coelhinho assado”, são alertas de que democracia não é brinquedo.
Postas na balança onde no outro prato se põe a proposta e a origem de seu autor, as declarações soam leves, prontas a se desmanchar, voláteis, no ar.
Reeleição, o retorno
O grão-tucanato arquivou, mas não desistiu da idéia de pôr fim a uma de suas criaturas, a reeleição. Leva o assunto em banho-maria agora e retoma o debate com vigor depois da eleição municipal de 2008.
Tirando os dois ou três tucanos que sempre foram contra a tese - mesmo quando criada para dar um segundo mandato a Fernando Henrique Cardoso -, a maioria se move pela conveniência eleitoral, já que o fim da reeleição teoricamente aplaca o apetite petista por um terceiro mandato, pois cria expectativa próxima (no pleito seguinte) de volta ao poder para Lula e facilita as negociações internas no PSDB.
Quem perder a indicação para candidato a presidente em 2010 fica seguro com a perspectiva de um horizonte mais curto para disputar o cargo. Não em 2014, mas 2015, porque o plano é ampliar o mandato do eleito em 2010 para cinco anos.
Delenda Berzoini
Candidato à presidência do PT pela chapa A Esperança é Vermelha, da esquerda petista, Valter Pomar faz algumas observações sobre a disputa interna em geral e sobre as críticas de partidários de José Eduardo Cardozo, mais exatamente o governador de Sergipe, Marcelo Déda, em particular.
São quatro os pontos destacados por Pomar.
1. “O chamado Campo Majoritário controlou o diretório nacional de 1995 a 2005, chegando a ter 70% dos votos, graças ao apoio de outras tendências e lideranças, inclusive Jilmar Tatto e José Eduardo.”
2. “Marcelo Déda fez parte do Campo Majoritário até 2005, o que não desmerece suas críticas, em alguns aspectos muito parecidas com as nossas.”
3. “Ricardo Berzoini é favorito para ir ao segundo turno, mas não é favorito para vencer. Isto, claro, se as outras candidaturas, que deveriam anunciar desde já se estão mesmo dispostas a derrotar Berzoini, estiverem unidas na etapa final.”
4. “Por fim, não está claro quem irá ao segundo turno, não há pesquisas. O único parâmetro (as eleições internas de 2005) indicam que há três candidaturas disputando a vaga e não apenas duas (Tatto e Cardozo), como você cita.”
Incluída, pois, está a esquerda na ofensiva para derrubar o candidato de Lula à presidência do PT.
Dora Kramer é Jornalista especialista em política, comenta no jornal O Estado de S.Paulo os bastidores do poder e as análises das principais decisões políticas que mexem com nosso dia-a-dia. Passou pelo Diário Popular, pela Agência Folha e pelo Jornal do Brasil. Consagrou-se, nestes mais de vinte anos, como uma das jornalista mais influente do País
Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo".
Terça-feira, 30 de outubro de 2007.
http://bootlead.blogspot.com
Se colar, colou - Dora Kramer
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