Saturday, February 25, 2017

POVO "OVELHA", POVO ESCRAVO

















































SOBRE OVELHAS, LOBOS E CÃES PASTORES
por Dave Grossman

"A honra nunca fica velha, quanto maior a nossa idade, a honra mais alegra nosso coração. Digo-o, porque a honra é a meta final das causas nobres e dignas que mereçam serem defendidas, mesmo que venham a ter um custo elevado. No nosso tempo, a honra pode significar desaprovação social, desprezo público, dificuldades, perseguição, ou como sempre, até mesmo a própria morte.

Mas as questões permanecem: O que vale a pena ser defendido? Pelo que vale a pena morrer? Para que serve a vida?"
William J. Bennett

Um veterano do Vietnã, um velho coronel da reserva, certa vez me disse: "A maioria das pessoas em nossa sociedade são ovelhas. Eles são criaturas produtivas, gentis, amáveis que só machucam umas às outras por acidente". Isso é verdade. Lembre que a taxa de assassinatos é de seis por 100.000, por ano, e taxa de agressões sérias é de quatro por 1000, por ano. O que isso significa, é que a esmagadora maioria dos norte-americanos não são inclinados a machucarem uns aos outros.

Algumas estimativas dizem que dois milhões de americanos são vítimas de crimes violentos todo ano. Um número trágico, assustador, talvez um recorde em matéria de crimes violentos. Mas existem quase 300 milhões de americanos, o que significa que as chances de ser vítima de um crime violento ainda é consideravelmente menor que uma em cem, em qualquer ano. Ainda, como muitos dos crimes violentos são praticados pelas mesmas pessoas, o número real de cidadãos violentos é consideravelmente menor que dois milhões.

Há um paradoxo aí, e devemos pegar ambos os lados da situação: Nós podemos estar vivendo a época mais violenta da história, mas a violência ainda é surpreendentemente rara. Isso é porque a maioria dos cidadãos são pessoas gentis e decentes que não são capazes de machucarem umas às outras, exceto por acidente ou sob provocação extrema. Elas são ovelhas.

Eu não quero dizer nada negativo quando as chamo de ovelhas. Para mim a situação é como a de um ovo de passarinho. Na parte de dentro ele é gosmento e macio, mas algum dia ele se transformará em algo maravilhoso. Mas o ovo não pode sobreviver sem sua casca dura. Policiais, soldados e outros guerreiros são como essa casca, e algum dia a civilização que eles protegem tornar-se-á algo maravilhoso. Por enquanto, eles precisam de guerreiros para protegê-los dos predadores.

"E então há os lobos", disse o velho veterano de guerra, "e os lobos alimentam-se das ovelhas sem perdão". Você acredita que há lobos lá fora que irão se alimentar do rebanho sem perdão? É bom que você acredite. Há homens perversos nesse mundo que são capazes de coisas perversas. No instante em que você esquece disso, ou finge que isso não é verdade, você se torna uma ovelha. Não há segurança na negação.

"E então há os cães pastores", ele continuou, "e eu sou um cão pastor. Eu vivo para proteger o rebanho e confrontar o lobo". Ou, como está escrito em uma placa de uma Delegacia de Polícia na Califórnia: "Nós só intimidamos aqueles que intimidam os outros".

Se você não tem capacidade para a violência, então você é um cidadão saudável e produtivo: uma ovelha.

Se você tem capacidade para a violência e não tem empatia por seus concidadãos, então você é um sociopata agressivo, um lobo. Mas, e se você tem capacidade para a violência e um amor profundo por seus concidadãos? Então você é um cão pastor, um guerreiro, alguém que segue os passos dos heróis. Alguém que pode caminhar no coração da escuridão, dentro da universal fobia humana e sair ileso.

"O que se passa à sua volta... é pequeno se comparado ao que se passa dentro de você".
Ralph Waldo Emerson

A todos foi dado o dom da vida. Algumas pessoas têm um dom para a ciência e algumas outras têm o dom para as artes. Aos guerreiros foi dado o dom da agressão. Eles não podem fazer uso incorreto desse dom, como um médico não pode empregar de modo errado sua arte de curar, mas anseiam pela oportunidade de usar seu dom para poderem ajudar aos outros. Estas pessoas, os que foram agraciados com o dom da agressão e amor pelos outros, são os nossos cães pastores. São os nossos guerreiros.

Nós sabemos que as ovelhas vivem em negação da realidade, e isso é o que as tornam ovelhas. Elas não querem acreditar que existe o "Mal" no mundo. Eles podem aceitar o fato de que incêndios podem acontecer, e é por isso que elas querem extintores, sprinklers, alarmes contra incêndio e saídas de emergência na escola de suas crianças. Mas muitos deles ficaram chocados com a idéia de colocar um policial armado na escola de seus filhos. Nossos filhos têm dezenas de vezes mais probabilidades de serem mortos, e milhares de vezes mais probabilidades de serem gravemente feridos, pela violência escolar do que por incêndios na escola, mas a única resposta das ovelhas para a possibilidade de violência é a negação. A idéia de que alguém possa vir a matar ou prejudicar os seus filhos é muito dura, então elas escolhem o caminho da negação.

As ovelhas geralmente não gostam dos cães pastores. Eles se parecem muito com os lobos. Eles têm dentes afiados e a capacidade para a violência. A diferença, porém, é que os cães pastores não devem, não podem e não irão nunca prejudicar as ovelhas. Qualquer cão pastor que intencionalmente maltratar uma ovelhinha será punido e removido. O mundo não pode funcionar de outra forma, pelo menos não em uma democracia representativa ou uma república como a nossa (EUA).

Ainda assim, os cães pastores incomodam as ovelhas. Eles são uma lembrança constante que há lobos na terra. Elas preferem que eles não lhes digam para onde ir, não lhes dêem multas de trânsito, ou permanecessem em nossos aeroportos com uniformes camuflados e portando um M-16. As ovelhas prefeririam que os cães pastores guardassem suas garras e dentes, se pintassem de branco e dissessem: "Bééééééé...".

Até que o lobo aparece. Depois, todo o rebanho tenta se esconder atrás de um cão pastor solitário. Como disse KipIing no seu poema sobre "Tommy" o soldado britânico:

While it's Tommy this, an' Tommy that, an' "Tommy, fall be'ind,"
But it's "Please to walk in front, sir," when there's trouble in the wind,
There's trouble in the wind, my boys, there's trouble in the wind,
O it's "Please to walk in front, sir," when there's trouble in the wind.

































Os estudantes, as vítimas, na escola de Columbine eram adolescentes, grandes e durões. Sob circunstâncias habituais, elas nunca perderiam seu tempo para falar algo com um policial. Elas não eram crianças ruins, elas simplesmente não teriam nada a dizer a um policial. Quando a escola estava sob ataque, no entanto, e as unidades da SWAT estavam entrando nas salas e corredores, os policiais tinham praticamente que arrancar os adolescentes que se agarravam às suas pernas, chorando. É assim que as ovelhinhas se sentem quando a respeito de seus cães pastores quando o lobo está na porta.

Olhe o que aconteceu depois do 11 de Setembro, quando o lobo bateu forte na porta. Lembram-se de como a América, mais do que nunca, sentiu-se diferente a respeito de seus policiais e militares? Lembram-se de quantas vezes ouviu-se a palavra "herói"?

Entendam que não há nada moralmente superior em ser um cão pastor; é apenas aquilo que você escolhe ser. Entendam ainda que um cão pastor é uma criatura esquisita. Ele está sempre farejando o perímetro, latindo para coisas que fazem barulho durante a noite, e esperando ansiosamente por uma batalha. Os cães pastores jovens anseiam por uma batalha, melhor dizendo. Os cães pastores velhos são mais espertos, mas ao ouvir o som das armas e perceberem que são necessários eles se movem imediatamente, junto com os jovens.

É aqui que as ovelhas e cães pastores pensam diferentes. A ovelha faz de conta que o lobo nunca virá, mas o cão pastor vive por aquele dia. Depois dos ataques de 11 de Setembro, a maior parte das ovelhas, isto é, a maioria dos cidadãos na América disse "Graças a Deus que eu não estava em um daqueles aviões". Os cães pastores, os guerreiros, disseram, "Meu Deus, eu gostaria de ter estado em um daqueles aviões. Talvez eu pudesse ter feito a diferença". Quando você está verdadeiramente transformado em um guerreiro, você quer estar lá. Você quer tentar fazer a diferença.

Não há nada de moralmente superior sobre o cão pastor, o guerreiro, mas ele leva vantagem em uma coisa. Apenas uma. E essa vantagem é a de que ele é capaz de sobreviver em um ambiente ou situação que destrói 98% da população.

Houve uma pesquisa alguns anos atrás com indivíduos condenados por crimes violentos. Esses presos estavam encarcerados por sérios e predatórios atos de violência: Assaltos, homicídios e assassinatos de policias. A grande maioria disse que escolhia suas vítimas pela linguagem corporal: andar desleixado, comportamento passivo e falta de atenção ao ambiente. Eles escolhiam suas vítimas como os grandes felinos fazem na África, quando eles selecionam aquele que parece menos capaz de se defender.

Algumas pessoas parecem destinadas a serem ovelhas e outras parecem ser geneticamente escolhidas para serem lobos ou cães pastores. Mas eu acredito que a maior parte das pessoas pode escolher qual dos dois eles querem ser, e eu fico orgulhoso ao dizer que mais e mais americanos estão escolhendo serem cães pastores.

Sete meses depois do ataque de 11 de Setembro, Todd Beamer foi homenageado (postumamente) em sua cidade natal, Cranbury, New Jersey. Todd, como vocês se lembram, era o homem no Vôo 93, sobre a Pensilvânia, que ligou de seu celular para alertar um operador da United Airlines sobre o seqüestro. Quando ele soube que outros três aviões haviam sido usados como armas, Todd largou o telefone e disse as palavras "let's roll" (vamos lá) o que as autoridades acreditam que tenha sido um sinal para os outros passageiros para confrontar os seqüestradores. Em uma hora, uma transformação ocorreu entre os passageiros - atletas, homens de negócios e pais - de ovelhas para cães pastores e juntos eles combateram os lobos, salvando um número indeterminado de vidas no chão.

"Não há salvação para o homem honesto, a não ser esperar todo o mal possível dos homens ruins".
Edmund Burke

Aqui é o ponto que eu gosto de enfatizar, especialmente para os milhares de policiais e soldados para os quais falo todo ano. Na natureza, as ovelhas, as ovelhas de verdade, nascem assim. Cães pastores nascem assim, bem como os lobos. Eles não têm uma chance. Mas você não é uma criatura. Você é um ser humano, e como tal pode ser o que quiser. É uma decisão moral consciente.

Se você quer ser uma ovelha, então você pode ser uma ovelha e está tudo bem, mas você deve entender o preço a pagar. Quando o lobo vier, você e as pessoas que você ama morrerão se não houver um policial por perto para protegê-los. Se você quer ser um lobo, tudo bem, mas os cães pastores o caçarão e você não terá nunca descanso, segurança, confiança ou amor. Mas se você quiser ser um cão pastor andar no caminho do guerreiro, então você deve tomar uma decisão consciente diária de dedicar-se, equipar-se e preparar-se para aquele momento tóxico, corrosivo, quando o lobo vem bater em sua porta.

Quantos policiais, por exemplo, levam armas para a igreja? Elas estão bem escondidas em coldres de tornozelo, coldres de ombro, dentro dos cintos ou nas costas. A qualquer hora em que você estiver no culto ou na missa, há uma boa chance que um policial na sua congregação esteja armado. Você nunca saberia se havia ou não um indivíduo assim em seu local de adoração, até que o lobo aparece para massacrar você e as pessoas que você ama.

Eu estava treinando um grupo de policiais no Texas e, durante o intervalo, um policial perguntou a seu amigo se ele levava a arma para a igreja. O outro respondeu "Eu nunca vou desarmado à igreja". Eu perguntei porque ele tinha uma opinião tão firme a esse respeito, e ele me contou a respeito de um policial que ele conhecia que estava em um massacre em uma igreja em Fort Worth, Texas, em 1999. Nesse incidente, uma pessoa desequilibrada mentalmente entrou na igreja e abriu fogo, matando quatorze pessoas. Ele disse que o policial acreditava que ele podia ter salvado todas as vidas naquele dia se ele estivesse carregando sua arma. Seu próprio filho foi atingido, e tudo o que ele pôde fazer foi atirar-se sobre o corpo do garoto e esperar a morte. Aquele policial me olhou nos olhos e disse: "Você tem idéia do quão difícil é viver consigo mesmo depois disso?"

Alguns ficariam horrorizados se soubessem que esse policial estava na igreja armado. Eles o chamariam de paranóico e provavelmente o admoestariam. Ainda assim, esses mesmo indivíduos ficariam enfurecidos e pediriam que "cabeças rolassem" se descobrissem os air bags de seus carros estavam defeituosos, ou que os extintores de incêndio nas escolas de seus filhos não funcionavam. Eles podem aceitar o fato que fogo e acidentes de trânsito podem acontecer e que devem haver medidas de segurança contra eles.

A única resposta deles ao lobo, no entanto, é a negação, e, freqüentemente, sua única resposta ao cão pastor é a chacota e o desdém. Mas o cão pastor pergunta silenciosamente a si mesmo "Você tem idéia do quão duro seria viver consigo mesmo se seus entes queridos fossem atacados e mortos, e você ficasse ali impotente porque está despreparado para aquele dia?"

O guerreiro deve remover a negação de seu pensamento. O instrutor Bob Lindsey, famoso na área de policiamento, diz que guerreiros precisam praticar pensando: "quando/então", não "se/quando". Ao invés de dizer, "Se isso acontecer, é quando eu vou agir", o guerreiro diz, "Quando isso acontecer, então eu vou estar pronto".

É negação que transforma as pessoas em ovelhas. Ovelhas são psicologicamente destruídas pelo combate porque sua única defesa é a negação, o que é contraproducente e destrutivo, resultando em medo, impotência e horror quando o lobo aparece.

A negação mata você duas vezes. Mata uma, no momento da verdade, quando você não está fisicamente preparado: você não trouxe sua arma, não treinou. Sua única defesa era o pensamento positivo. Esperança não é uma estratégia. A negação te mata uma segunda vez porque mesmo que você sobreviva fisicamente, você fica psicologicamente destroçado pelo seu medo, impotência e horror na hora da verdade.

Chuck Yeager, piloto de testes e primeiro homem a voar mais rápido do que a velocidade do som, sabia que poderia morrer. Mas para ele não havia a negação. Ele não se permitia o luxo da negação. Esta aceitação da realidade pode causar medo, mas este medo saudável, se controlado é o que irá mantê-lo vivo:

"Eu estava sempre com medo de morrer. Sempre. Era o meu medo que me fazia aprender tudo o que eu podia sobre o meu avião e o meu equipamento de emergência, que me manteve voando e respeitando minha máquina e sempre alerta na cabina".
Brigadeiro-General Chuck Yeager

Gavin de Becker coloca dessa maneira em "Fear Less", seu soberbo livro escrito após o 11 de Setembro, leitura requerida para qualquer um tentando entender a atual situação global: "... A negação pode ser sedutora, mas ela tem um efeito colateral insidioso. Apesar de toda a paz de espírito que aqueles que negam a realidade supostamente alcançam por dizerem que as coisas não são tão sérias assim, a queda que eles sofrem quando ficam cara a cara com a violência é muito mais perturbadora".

A negação é uma situação de "poupe agora pague mais tarde", uma enganação, um contrato escrito só em letras miúdas. Em longo prazo, a pessoa que nega acaba conhecendo a verdade em algum nível.

Assim, o guerreiro deve lutar para enfrentar a negação em todos os aspectos de sua vida, e preparar-se para o dia em que o "Mal" chegará.

Se você é um guerreiro que é legalmente autorizado a carregar uma arma e você sai sem levar essa arma, então você se transforma em uma ovelha, fingindo que o homem mau não virá hoje. Ninguém pode estar ligado 24 horas por dia, 7 dias por semana, a vida inteira. Todos precisam de tempo de repouso. Mas se você está autorizado a portar uma arma e você sai sem ela, respire fundo e diga para si mesmo:

"BÉÉÉÉÉÉÉ..."

Essa história de ser uma ovelha ou um cão pastor não é uma questão de sim ou não. Não é um tudo ou nada. É uma questão de degraus, um continuum. De um lado está uma desprezível ovelha com a cabeça totalmente enfiada na terra, e no outro lado está o guerreiro completo. Poucas pessoas existem que estão completamente em um lado ou outro. A maioria de nós vive no meio termo. Desde 11 de Setembro de 2001, quase todos na América deram um passo acima nesse continuum, distanciando-se da negação. A ovelha deu alguns passos na direção de aceitar e apreciar seus guerreiros, e os guerreiros começaram a tratar seu trabalho com mais seriedade. O grau para o qual você se move nesse continuum, para longe da "ovelhice" e da negação, é o grau no qual você estará preparado para defender-se e a seus entes queridos, fisicamente e psicologicamente, na hora da verdade.



O Tenente-Coronel Dave Grossman do Exército norte-americano (Reserva), é um estudioso em segurança reconhecido internacionalmente, autor, soldado e orador, é um dos principais especialistas mundiais nos campos da agressividade humana, origens da violência e sobre os crimes violentos. O Cel Grossman é também professor de Psicologia e Ciência Militar na Academia Militar dos EUA (USMA-West Point), serviu como oficial da infantaria pára-quedista no 75º Regimento Ranger do Exército dos Estados Unidos (importante tropa de elite), estas experiências somadas o levaram a fundar um empreendimento no campo científico, denominado "Killology". Área esta, a qual o Cel Grossman vem provocando algumas transformações revolucionárias, oferecendo novas contribuições para entendermos como é matar na guerra, os custos da guerra psicológica, as causas do "vírus" atual de violenta criminalidade que se espalha pelo mundo e o processo de cura, tanto na guerra como na paz. É também autor dos livros "On Killing", indicado para o Prêmio Pulitzer e "On Combat". Para conhecer mais sobre o trabalho do Cel Grossman visite seu site " Grossman Academy ".



Trecho do livro "On Combat: The Psychology and Physiology of Deadly Conflict in War and in Peace (2004) (ISBN 0-9649205-1-4)"








A ESQUERDA TE ODEIA.


2 comments:

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Kala Kutir said...

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