Saturday, November 18, 2006

O único remédio é a pena de morte!










































O Brasil está muito doente. Mas de corrupção.
por Tsuli Narimatsu

A corrupção é um comportamento endêmico no Brasil, alerta a psicóloga Denise Ramos, coordenadora de pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP. Convidada a fazer parte de um estudo mundial sobre "Traumas Culturais", a pesquisadora passou a analisar o Brasil como se fosse um paciente. E descobriu por que elegemos políticos desonestos toda a vez que vamos às urnas.

"O País está todo doente. É preciso entender o que nos leva a corrompermos e sermos corrompidos" , diz ela. A pesquisadora destaca que esse mal comportamento não se restringe aos políticos e bandidos. "Abrange também o homem comum que dá uma gorjeta para o guarda para se livrar da multa, ou passa na frente do outro na fila".

"Proteção" – Do ponto de vista psicológico, os brasileiros – disparadamente à frente de outros povos – recorrem à corrupção como forma de proteção. "Somos uma Nação de órfãos", explica a psicóloga. "Os primeiros brasileiros não eram aceitos pelo pai português, por serem bastardos, nem pela mãe índia, pois não eram puros".

Um fator complicador que ajudou a desenvolver essa patologia nacional foi a intenção com a qual o País foi colonizado. "Os portugueses vieram retirar riquezas para pagar a dívida com a Inglaterra. Não houve um projeto de construção de nação. Só de exploração", lembra Denise Ramos. Esta verdade histórica, por sua vez, acabou agravada pelo período de escravização.

Caráter – "Nossos pais, se índios ou negros, eram marginalizados. Se portugueses, nos rejeitavam". A combinação resultou num povo que vive um dia de cada vez, sem pensar no futuro, e que tinha como modelo os estrangeiros que aqui vieram para levar sempre a melhor em tudo. Resultado: "um país com baixa auto-estima, que ri da burrice dos portugueses, não se valoriza nem valoriza o que faz".

O brasileiro, órfão, teve então dois caminhos a seguir: espelhar os que vinham de fora com a missão de fazer a retirada das riquezas ou buscar retaguarda entre aqueles que detinham poder e trocavam proteção por obediência. "Há uma relação de permissividade entre políticos e eleitores. Eles pensam: vamos ajudar a eleger este porque ele é esperto e nos protege". Esse sentimento, segundo Denise, mostra o menosprezo do brasileiro pela confiança em si próprio.

"Quem tem orgulho de si mesmo não se permite corromper", afirma a psicóloga. Infelizmente, a cada eleição, os brasileiros se submetem a um novo pacto de silêncio permissivo. "Os líderes políticos corruptos têm um protecionismo afetuoso. Adhemar de Barros tratava todo o mundo como filho. O Maluf também. Eles inibem a queixa de um possível denunciante porque o protegem", analisa Denise.

Neurose – Observar o trato dos políticos em períodos de campanha é uma tática interessante para detectar a complexidade desta relação. Olho no olho, crianças no colo, sorrisos e carinhos. Promessa de cargos ou de resolução de problemas. Nossa história, segundo a psicóloga da PUC-SP, é também repleta de figuras autoritárias que também preencheram a lacuna do 'pai' ausente.

Os políticos, na avaliação da psicóloga, são na verdade o sintoma da cultura que aceita socialmente os pequenos delitos. E só condena com base no teor dos recursos envolvidos. "Eles também são vítimas desse padrão nacional de comportamento. Alguns chegam à neurose porque o que já roubaram não poderão consumir ao longo da vida. E, mesmo assim, continuam roubando".

Carnaval – Os brasileiros em geral, caracterizados por um forte complexo de inferioridade – ainda que inconsciente – vez ou outra lutam para fugir desse sentimento. E é nesse conflito que surge a prova de que o País poderia ser bem diferente se adotasse uma postura honesta. "Pode reparar, no Carnaval não há corrupção (no sentido da organização humana dentro do espetáculo). Aquela gente toda se reúne, pobres, ricos, brancos, negros, estrangeiros, bandidos, trabalhadores de bem, todos desfilam, pagam a fantasia, respeitam os regulamentos, os horários, as políticas internas de cada escola de samba e ensaiam à exaustão. A capacidade de transformação e organização do brasileiro expressa em épocas como o Carnaval e a Festa de Parintins (AM) mostra que se ele tiver algo para se orgulhar, para se valorizar, muda de comportamento".

Pesquisa – O estudo elaborado por Denise Ramos e pesquisadores de outros países foi transformado no livro "The Cultural Complex" (Editora Routledge, EUA, 2004). Ao lado do Brasil, outros países são analisados historicamente como se fossem um paciente no divã. Investigação esta que considera a origem e a relação de 'pai' e 'mãe' para a construção do caráter social e seus arquétipos. O trabalho realizado nos EUA, por exemplo, analisa a influência do puritanismo na problemática do racismo. O ímpeto patológico de querer dominar o mal a qualquer custo, acabou na construção da maior indústria exportadora de pornografia do mundo. Em Israel, os psicólogos procuraram detectar o trauma coletivo da disputa entre israelenses e árabes palestinos. No México, a patologia nacional é a traição e o boicote a si mesmo.

O tratamento desses traumas coletivos, segundo Denise, é recontar a história dessas nações de modo a fazer com que o povo adquira consciência – trabalho este que ela já está desenvolvendo no Brasil e quem em poucos anos será implementado em caráter experimental em algumas escolas. Os demais países seguem o mesmo caminho. Todos no divã


Tsuli Narimatsu é jornalista e integra a equipe de repórteres do jornal "Diário do Comércio".

Publicado no jornal Diário do Comércio.
Sábado, 18 de novembro de 2006.


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