A NATIMORTA UNASUL
por Maria Lucia Victor Barbosa
A constituição da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) foi mais um fiasco retumbante da política externa brasileira. Gerado pelo Itamaraty, o organismo sub-regional tem as digitais do chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia, o que é suficiente para conduzir qualquer projeto ao fracasso. E, sem dúvida, pode-se dizer que a Casa, nome anterior do bloco que foi rejeitado e ridicularizado por Hugo Chávez, caiu.
Vários presidentes sul-americanos consideram, apropriadamente, que a Unasul é apenas mais um foro de discussão. O presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez, nem se deu ao trabalho de comparecer à reunião de constituição. O presidente do Peru, Alan Garcia, foi embora assim que assinou o ato constitutivo. O secretário-executivo já escolhido da Unasul, o ex-presidente do Equador, Rodrigo Boria, renunciou ao cargo por não querer se comprometer com uma espécie de "academia de debates". E o que é mais desmoralizante para o governo brasileiro: o Conselho Sul-Americano de Defesa, tão acalentado pelo ministro Nelson Jobim, e que deveria ter adquirido vida jurídica durante a reunião da cúpula, não foi aceito pela Colômbia e encontrou resistência entre os demais presidentes. Para não ficar muito feio a presidente do Chile, Michele Bachelet, propôs a criação de um grupo de trabalho para estudar o Conselho, tática sintomática quando não se quer resolver um assunto.
Naturalmente o discurso de abertura da reunião, lido pelo pai da Unasul, presidente Lula da Silva, soou com aquele inconfundível toque de megalomania tão característico das falas presidenciais. Disse nosso mandatário supremo: "Uma América do Sul Unida mexerá com o tabuleiro do poder no mundo".
Será esse outro mundo sul-americano possível? A retórica do presidente brasileiro pode agradar, enaltecer, massagear egos nacionalistas, mas esconde dura realidade. Primeiro porque a América do Sul não tem poder nem militar nem econômico para mexer com o tabuleiro do mundo. Segundo porque a Unasul não terá capacidade de promover a pretendida união uma vez que os países que formam o bloco têm direções diferentes de acordo com suas necessidades ou mesmo posições irreconciliáveis. São os seguintes os doze países que constituem o bloco: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai, Venezuela.
No tocante ao Brasil e seus vizinhos cabe lembrar o que afirmou em sua magistral obra, "Do bom selvagem ao bom revolucionário", o escritor e jornalista venezuelano, Carlos Rangel:
"Todo hispano-americano sabe bem que quando encontra um brasileiro está diante dele, não ao lado dele, que um e outro têm acerca do mundo pontos de vista diferentes, se não opostos". "Pode-se dizer que existem pontos comuns, afinidades, um parentesco entre o Brasil e a América Espanhola, mas suas diferenças levam de vencida suas afinidades se tivermos em conta, além disso, a espetacular consolidação do Brasil numa única e gigantesca nação que toca em todos os outros países da América do Sul à exceção do Equador e do Chile, particularidade que contrasta com a fragmentação da América Espanhola em múltiplas parcelas".
Aí está uma das maiores causas da inexistência de maior afinidade entre o Brasil e os demais vizinhos de origem espanhola: somos grandes demais, fortes demais e, como os Estados Unidos, causamos um misto de inveja e temor. É sintomático que recentemente tenhamos sido chamados de imperialistas na Bolívia e no Paraguai, sendo que no Paraguai nossa bandeira foi queimada. Algo que não foi mostrado nas TVs como seria se fosse a bandeira norte-americana.
Ainda assim, ou mesmo por isso, em que pese o enorme prejuízo dado ao Brasil pela Bolívia, as recentes hostilidades paraguaias, as imposições comerciais da Argentina, as queixas do Uruguai com relação ao tratamento que é dado no Mercosul a este país, pelo Brasil, o governo petista tenta impor Lula da Silva como o grande líder sul-americano, o irmão magnânimo capaz de eliminar a "influência nefasta" dos norte-americanos.
Desse modo, o Conselho Sul-Americano de Defesa, na verdade, uma aliança militar sub-regional que muito interessaria a Hugo Chávez, substituiria a Organização dos Estados Americanos (OEA) na solução de conflitos localizados.
Bem fez o presidente Uribe, da Colômbia, ao não aceitar o Conselho de Defesa. Como observou o sociólogo Demétrio Magnoli, "como pretender que a Colômbia se incorpore a um Conselho de Defesa incapaz de pronunciar uma condenação incondicional das Farc?". (O Estado de S. Paulo, 29/05/2008). E bem agora quando o competente presidente Uribe está prestes a derrotar os narcoterroristas, como demonstram as mortes dos principais chefes do bando de celerados.
Como diz o ditado, há males que vêm para bem. Que a Unasul seja mesmo uma academia para tomar chá e fazer turismo. Caso contrário servirá não aos interesses do Brasil ou da América do Sul, mas do esperto Hugo Chávez, o verdadeiro senhor da "Casa".
Vários presidentes sul-americanos consideram, apropriadamente, que a Unasul é apenas mais um foro de discussão. O presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez, nem se deu ao trabalho de comparecer à reunião de constituição. O presidente do Peru, Alan Garcia, foi embora assim que assinou o ato constitutivo. O secretário-executivo já escolhido da Unasul, o ex-presidente do Equador, Rodrigo Boria, renunciou ao cargo por não querer se comprometer com uma espécie de "academia de debates". E o que é mais desmoralizante para o governo brasileiro: o Conselho Sul-Americano de Defesa, tão acalentado pelo ministro Nelson Jobim, e que deveria ter adquirido vida jurídica durante a reunião da cúpula, não foi aceito pela Colômbia e encontrou resistência entre os demais presidentes. Para não ficar muito feio a presidente do Chile, Michele Bachelet, propôs a criação de um grupo de trabalho para estudar o Conselho, tática sintomática quando não se quer resolver um assunto.
Naturalmente o discurso de abertura da reunião, lido pelo pai da Unasul, presidente Lula da Silva, soou com aquele inconfundível toque de megalomania tão característico das falas presidenciais. Disse nosso mandatário supremo: "Uma América do Sul Unida mexerá com o tabuleiro do poder no mundo".
Será esse outro mundo sul-americano possível? A retórica do presidente brasileiro pode agradar, enaltecer, massagear egos nacionalistas, mas esconde dura realidade. Primeiro porque a América do Sul não tem poder nem militar nem econômico para mexer com o tabuleiro do mundo. Segundo porque a Unasul não terá capacidade de promover a pretendida união uma vez que os países que formam o bloco têm direções diferentes de acordo com suas necessidades ou mesmo posições irreconciliáveis. São os seguintes os doze países que constituem o bloco: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai, Venezuela.
No tocante ao Brasil e seus vizinhos cabe lembrar o que afirmou em sua magistral obra, "Do bom selvagem ao bom revolucionário", o escritor e jornalista venezuelano, Carlos Rangel:
"Todo hispano-americano sabe bem que quando encontra um brasileiro está diante dele, não ao lado dele, que um e outro têm acerca do mundo pontos de vista diferentes, se não opostos". "Pode-se dizer que existem pontos comuns, afinidades, um parentesco entre o Brasil e a América Espanhola, mas suas diferenças levam de vencida suas afinidades se tivermos em conta, além disso, a espetacular consolidação do Brasil numa única e gigantesca nação que toca em todos os outros países da América do Sul à exceção do Equador e do Chile, particularidade que contrasta com a fragmentação da América Espanhola em múltiplas parcelas".
Aí está uma das maiores causas da inexistência de maior afinidade entre o Brasil e os demais vizinhos de origem espanhola: somos grandes demais, fortes demais e, como os Estados Unidos, causamos um misto de inveja e temor. É sintomático que recentemente tenhamos sido chamados de imperialistas na Bolívia e no Paraguai, sendo que no Paraguai nossa bandeira foi queimada. Algo que não foi mostrado nas TVs como seria se fosse a bandeira norte-americana.
Ainda assim, ou mesmo por isso, em que pese o enorme prejuízo dado ao Brasil pela Bolívia, as recentes hostilidades paraguaias, as imposições comerciais da Argentina, as queixas do Uruguai com relação ao tratamento que é dado no Mercosul a este país, pelo Brasil, o governo petista tenta impor Lula da Silva como o grande líder sul-americano, o irmão magnânimo capaz de eliminar a "influência nefasta" dos norte-americanos.
Desse modo, o Conselho Sul-Americano de Defesa, na verdade, uma aliança militar sub-regional que muito interessaria a Hugo Chávez, substituiria a Organização dos Estados Americanos (OEA) na solução de conflitos localizados.
Bem fez o presidente Uribe, da Colômbia, ao não aceitar o Conselho de Defesa. Como observou o sociólogo Demétrio Magnoli, "como pretender que a Colômbia se incorpore a um Conselho de Defesa incapaz de pronunciar uma condenação incondicional das Farc?". (O Estado de S. Paulo, 29/05/2008). E bem agora quando o competente presidente Uribe está prestes a derrotar os narcoterroristas, como demonstram as mortes dos principais chefes do bando de celerados.
Como diz o ditado, há males que vêm para bem. Que a Unasul seja mesmo uma academia para tomar chá e fazer turismo. Caso contrário servirá não aos interesses do Brasil ou da América do Sul, mas do esperto Hugo Chávez, o verdadeiro senhor da "Casa".
Maria Lucia Victor Barbosa é formada em sociologia e administração pública e tem especialização em ciência política pela Universidade de Brasília. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. Começou a escrever em jornais aos 18 anos. Tem artigos publicados no Jornal da Tarde, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná e Valor Econômico, entre outros. É autora de cinco livros, incluindo "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – A Ética da Malandragem" e "América Latina – Em busca do Paraíso Perdido".
E-mail: mlucia@sercomtel.com.br
E-mail: mlucia@sercomtel.com.br
Enviado por Maria Lucia Victor Barbosa.
Sexta-feira, 30 de maio de 2008, 11h52.
http://bootlead.blogspot.com
A NATIMORTA UNASUL – Maria Lucia Victor Barbosa
A hora e a vez dos ideólogos – Demétrio Magnoli
3 comments:
Artigo excelente como tantos outros aqui publicados.
Espero, sinceramente, que a análise que a Maria Lucia faz, se transforme em realidade e que, amanhã, não venhamos a ser surpreendidos por uma ursal, como tão bem pretende chaves e seu primeiro aluno, o apedeuta lulla.
Quanto ao grande líder sul americano, de fato é o chaves e não o lulla paz e (nem tanto) amor!
Oi,boot.Sou admiradora do seu blog, embora não seja uma pessoa politizada.Atualmente estou tentando compreender um pouco mais, por conta de uma nova opção que fiz e estou vivendo.Um novo momento, sabe?
O seu blog me foi indicado e pelo que vi, já gostei.Parabéns pela criatividade e transparência!
Boot, boot... você é fera, hein??? (várias risadas enlatadas)... excelente texto dessa importante articulista, muito bem colocadas em seu espaço muito criativo mesmo...abração
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