Tuesday, October 05, 2010

Quem colocou "mamãe 6%"  lá ?









































O súbito encanto de Marina Silva
por Arnaldo Jabor

Não, o Palácio de Inverno de São Petersburgo, em 1917, ainda não será tomado pela onda vermelha.

Não. Agora, o PT vai ter de encarar: estamos num país democrático, cultural e empresarialmente complexo, em que os golpes de marketing, os palanques de mentiras, os ataques violentos à imprensa não bastam para vencer eleições... (por decência, não posso mostrar aqui os e-mails de xingamentos e ameaças que recebo por criticar o governo).

O Lula vai ter de descobrir que até mesmo seu populismo terá de se modernizar. O povo está muito mais informado, mais online, mais além dos pobres homens do Bolsa Família, e não bastam charminhos e carismas fáceis, nem paz e amor nem punhos indignados para a população votar. Já sabemos que, enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as regras políticas vigentes, nada vai se resolver. Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas e nenhum carisma esconde isso para sempre. Já sabemos que administração é mais importante que utopias.

A campanha a que assistimos foi uma campanha de bonecos de si mesmos, em que cada gesto, cada palavra, era vetada ou liberada pelos donos da "verdade" midiática. Ninguém acreditava nos sentimentos expressos pelos candidatos. Fernando Barros e Silva disse bem na "Folha" : "Dilma parece uma personagem de ficção e Serra, a ficção de uma personagem". Na mosca.

Serra. Os erros da campanha do Serra foram inúmeros: a adesão falsa a Lula, que acabou rindo dele: "O Serra finge que me ama...".

Serra errou muito por autossuficiência (seu defeito principal), demorando para se declarar candidato, deixando todo mundo carente e zonzo, como num coito interrompido; Serra demorou para escolher um vice-presidente (com a gafe de dizer que vice bom é o que não aporrinha), fez acusações ligando as Farc a Dilma, esculachou o governo da Bolívia ainda no início, avisou que pode mexer no Banco Central e, quando sentiu que não estava agradando, fez anúncios populistas tardios sobre salário mínimo e aposentados.

Nunca vi uma campanha tão desagregada, uma campanha antiga, analógica numa época digital, enlouquecendo cabos eleitorais e amigos, todos de bocas abertas, escancaradas, diante do óbvio que Serra ignorou. Serra não mudou um milímetro os erros de sua campanha de 2002. Como os Bourbon, "não esqueceu nada e não aprendeu nada".

A campanha do primeiro turno resumiu-se a dois narcisismos em luta.

Dilma. Enquanto o Serra surfava em sua autoconfiança suicida, a Dilma, fabricada dos pés ao cabelo, desfilava na certeza de sua vitória, abençoada pelo "Padim Ciço" Lula.

Seus erros foram difíceis de catalogar racionalmente, mas os eleitores perceberam sutilezas na má interpretação da personagem, como atrizes ruins em filmes.

O sorriso sem ânimo, o riso esforçado, a busca de uma simpatia que escondesse o nítido temperamento autoritário, suas palavras sem a chama da convicção, ocultando uma outra Dilma que não sabemos quem é, sua postura de vencedora, falando em púlpitos para jornalistas, sua arrogância que só o salto alto permite: ser pelo aborto e depois desmentir, sua união de ateia com evangélicos, a voracidade de militante tarefeira, para quem tudo vale a pena contra os "burgueses de direita" que são os adversários, os esqueletos da Casa Civil, desde os dossiês contra FHC, passando pela Receita Federal (com Lina Vieira e depois com os invasores de sigilos), sua tentativa de ocultar o grande hipopótamo do Planalto que foi seu braço-direito e resolveu montar uma quadrilha familiar.

Além disso, os jovens contemporâneos, mesmo aqueles cooptados pelo maniqueísmo lulista, não conseguem votar naquela ostentada simpatia, pois veem com clareza uma careta querendo ser "cool".

Marina. Os erros dos dois favoritos acabaram sendo o grande impulso para Marina. No meio de uma programação mecânica de marketing, apareceu um ser vivo: Marina. Isso.

Uma das razões para o segundo turno foi a verdade da verde Marina. Sua voz calma, sua expressão sincera, o visível amor que ela tem pelo povo da floresta e da cidade tudo isso desconstruiu a imagem de uma candidata fabricada e de um candidato aferrado em certezas de um frio marqueteiro.

Marina tem origem semelhante à de Lula, mas não perdeu a doçura e a fé de vencer pelo bem. Isso passa nas imperceptíveis expressões e gestos, que o público capta.

Agora, teremos um segundo turno e talvez vejamos um PSDB fortalecido pela súbita e inesperada virada. Desta vez, o partido terá de ser oposição, defendendo-se e não desagregado, como foi no 1º turno, em que se esconderam todos os grandes feitos do próprio PSDB, durante o governo de FHC.

Desde 2002, convencionou-se (quem? por quê?) que Lula não podia ser atacado e que FHC não poderia ser mencionado. Diante dessa atitude, vimos o Lula, sua clone e seus militantes se apropriarem de todas as reformas essenciais que o governo anterior fez e que possibilitaram o sucesso econômico do governo Lula, que cantou de galo até no "Financial Times", assumindo a estabilização de nossa economia. E os gringos desinformados acreditam.

Além disso, com "medinho" de desagradar aos "bolsistas da família", ninguém podia expor mentiras e falsos dados que os petistas exibiam gostosamente, com o descaramento de revolucionários "puros". Na minha opinião, só chegamos ao segundo turno por conta dos deuses da sorte. Isso – foi sorte para o Serra e azar para a Dilma.

Ou melhor, duas sortes.

O grande estrago causado pela súbita riqueza da filharada de Erenice, ali, tudo exibido na cara do povo, e o reconhecimento popular do encanto sincero de Marina.

Isso salvou a campanha errática e autossuficiente de José Serra, que, apesar de ser um homem sério, competentíssimo, patriota, que conheço e respeito desde a UNE, mas é das pessoas mais teimosas do mundo.

Duas mulheres pariram o segundo turno. Se Serra ouvir seus pares e amigos, poderá ser o próximo presidente. Se não...


Arnaldo Jabor, carioca nascido em 1940, é cineasta e jornalista, também já foi técnico de som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens. Na década de 90, por força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional, Jabor foi obrigado a procurar novos rumos e encontrou no jornalismo o seu ganha-pão. Estreou como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde levou para a TV Globo, no Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil e na Rádio CBN. O estilo irônico e mordaz com que comenta os fatos da atualidade brasileira foi decisivo para o seu grande sucesso junto ao público. Arnaldo Jabor também é colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”, além de escrever regularmente para diversos outros jornais do Brasil.
E-mail: a.j.producao@uol.com.br


Publicado no jornal "O Estado de S.Paulo" – (Cultura).
Terça-Feira, 05 de outubro de 2010.





O mal a evitar – Estadão







2 comments:

Anonymous said...

Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior

Em defesa da Vida

Pe. Paulo Ricardo convoca todos os cristãos e homens de boa vontade a lutar pela vida. Apoia e confirma as denúncias dos bispos da Regional Sul 1 contra o Partido dos Trabalhadores (PT) em sua tentativa de legalizar o aborto em nosso país.

Assista o vídeo:

http://padrepauloricardo.org/blog/em-defesa-da-vida/

Anonymous said...

Concordo em alguns pontos com Arnaldo Jabor,mas a Marina para mim foi petralha e sinto que ela continua sendo petralha .Votei em Serra por falta de opção. Nós temos que ter um candidato de direita mesmo! Um tipo Bolsonaro para Presidente e não bom mocinhos que não sabem ser oposição nem respeitar os eleitores que votaram contra a Dilma.

Lucia

 
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