STJ referenda madrassas do PT no jornalismo
por Reinaldo Azevedo
O Superior Tribunal de Justiça referendou uma excrescência da ditadura militar e decidiu que, para poder ser registrado como jornalista, um profissional precisa ter o diploma de jornalismo. A profissão foi regulamentada pelo Decreto-Lei 972, de 1969. A intenção era, digamos, “desideologizar” as redações. Com o tempo, a estupidez da ditadura foi assumida pela esquerda (por que não?), que logo percebeu a chance de uma espécie de reserva de mercado ideológico. Os cursos de jornalismo se transformaram em madrassas do PT. Os jovenzinhos ingressam na universidade para ficar recitando os versos do programa do partido. Talvez até haja alguém que, vá lá, se preocupe com texto e técnicas de apuração nos cursos. A maioria dos professores está lá para “desconstruir” os jornais e as revistas da “burguesia”.
Jornalismo é técnica para quem tem talento. Com o tempo, foi-se desenvolvendo uma ética da profissão, que costuma ser destruída nos cursos por causa da militância política. Boa parte dos professores nunca pôs os pés numa redação. Até aí, bem. Por que não se contentam, então, em ensinar redação, língua portuguesa, história? Que nada! O curso é uma colcha de retalhos: é quase semiologia, mas é só um pouco; é quase história, mas é só um pouco; é quase sociologia, mas é só um pouco. No fim das contas, é quase nada.
É claro que há pessoas da mais alta competência formadas em jornalismo . Mas também as há com outra formação. E, finalmente, há as que têm formação nenhuma. As associações de classe da área apóiam o diploma. Apóiam, no fundo, o cartório que lhes garante o sustento e a (ir)relevância política. Não é por acaso que os cargos de direção são ocupados por gente que presta assessoria a estatais e assemelhados. Não é por acaso que essa gente defendeu o Conselho Federal de Jornalismo.
Tio Rei tem deproma de jornalismo. A petralhada pode sossegar. Eu e Lula aprendemos, no entanto, mais com a vida do que na universidade. Não posso reclamar da profissão que escolhi. O que eventualmente sei e fez a diferença aprendi por conta própria. Quero engenheiros para que as pontes não caiam sobre minha cabeça; quero médicos que saibam abrir o cocuruto (já abriram o meu) e depois fechar; quero dentistas que não me deixem banguela. E quero gente que saiba escrever em jornais, revistas, sites, blogs etc. E isso nenhuma universidade ensina. Mais do que isso: quero o aporte teórico dos historiadores, dos geógrafos, dos médicos, dos arquitetos, dos cientistas...
Imaginem vocês: para ser presidente da República, dispensa-se um diploma. Numa redação, no entanto, pretende-se que não se possa escrever “Vovô viu a uva” sem o carimbo de um cartório.
Jornalismo é técnica para quem tem talento. Com o tempo, foi-se desenvolvendo uma ética da profissão, que costuma ser destruída nos cursos por causa da militância política. Boa parte dos professores nunca pôs os pés numa redação. Até aí, bem. Por que não se contentam, então, em ensinar redação, língua portuguesa, história? Que nada! O curso é uma colcha de retalhos: é quase semiologia, mas é só um pouco; é quase história, mas é só um pouco; é quase sociologia, mas é só um pouco. No fim das contas, é quase nada.
É claro que há pessoas da mais alta competência formadas em jornalismo . Mas também as há com outra formação. E, finalmente, há as que têm formação nenhuma. As associações de classe da área apóiam o diploma. Apóiam, no fundo, o cartório que lhes garante o sustento e a (ir)relevância política. Não é por acaso que os cargos de direção são ocupados por gente que presta assessoria a estatais e assemelhados. Não é por acaso que essa gente defendeu o Conselho Federal de Jornalismo.
Tio Rei tem deproma de jornalismo. A petralhada pode sossegar. Eu e Lula aprendemos, no entanto, mais com a vida do que na universidade. Não posso reclamar da profissão que escolhi. O que eventualmente sei e fez a diferença aprendi por conta própria. Quero engenheiros para que as pontes não caiam sobre minha cabeça; quero médicos que saibam abrir o cocuruto (já abriram o meu) e depois fechar; quero dentistas que não me deixem banguela. E quero gente que saiba escrever em jornais, revistas, sites, blogs etc. E isso nenhuma universidade ensina. Mais do que isso: quero o aporte teórico dos historiadores, dos geógrafos, dos médicos, dos arquitetos, dos cientistas...
Imaginem vocês: para ser presidente da República, dispensa-se um diploma. Numa redação, no entanto, pretende-se que não se possa escrever “Vovô viu a uva” sem o carimbo de um cartório.
Reinaldo Azevedo é jornalista, guia cultural, assessor de imprensa e blogueiro. Foi editor-chefe da revista Primeira Leitura, colunista da revista Bravo! e também editor do jornal Folha de S. Paulo. Escreve freqüentemente sobre política nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, hoje é colunista da revista Veja. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e em Jornalismo pela Universidade Metodista, foi professor de literatura e redação dos colégios Quarup, Singular e do curso Anglo.
Publicado no "Blog Reinaldo Azevedo".
Quarta-feira, 15 de novembro de 2006, 16h06.
Veja só o humor fino e letal do Cláudio Abramo quando foi obrigado a apresentar "Curriculum", por exigência burocrática do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, quando convidado a lá ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação.
CURRICULUM VITAE
Cláudio Abramo
Começou no jornalismo trabalhando na propaganda aliada durante a Segunda Guerra Mundial (Interamericana, Serviço de Imprensa). Ao mesmo tempo, sucessivamente, na Agência Meridional, na Agência Press Parga e breve período no Diário da Noite. Demitido por fazer greve...
1948
Convidado por Paulo Duarte e Sérgio Milliet para trabalhar no O Estado de S. Paulo. Sucessivamente repórter, repórter econômico, redator da seção Internacional. Começa no Estado escrevendo uma enorme reportagem sobre a situação da pesca (que serviria de apoio para a criação do Instituto Oceanográfico), fruto de um mês e meio de viagem pelo litoral. Escreve uma série de denúncia contra a política externa durante a guerra; faz campanha contra o jogo no Guarujá. Viaja intensamente pelo Brasil.
1952
A convite do dr. Júlio de Mesquita Filho assume a secretaria do Estado e começa, com Luiz Vieira de Carvalho Mesquita, Ruy Mesquita, Juca Mesquita e Júlio de Mesquita Neto, a reforma do jornal (redução do tamanho da página, transferência de sede, adoção de práticas modernas de controle da publicidade, controle de fechamento da redação, controle da produção etc.). Data dessa época a abreviação do limite de fechamento da redação, que passou das três horas da manhã para a meia-noite.
Começa a cooptação de universitários para o jornalismo, mandando buscar alunos que se destacaram nos cursos de filosofia, ciências sociais, matemática, física. Um deles é Vlado Herzog.
A reforma se completa no início da década de 60. Nessa altura, alguns grandes nomes do jornalismo atual trabalhavam na Redação, como repórteres ou redatores.
1964
Passa quase o ano inteiro desempregado, por discriminação política. É convidado, nos últimos meses, para fazer análises da Folha de S. Paulo por Octávio Frias de Oliveira. No fim do ano, ou início de 1965, entra na Folha como chefe de produção.
1967
Assume a secretaria-geral da Folha.
1972
Nomeado diretor da Redação e afastado...
1975
Preso pelo Doi-Codi, com sua mulher, Radhá Abramo, por subversão. Em meados do ano, retoma o trabalho efetivo no jornal; cria-se a Página Três, com colaborações de intelectuais e jornalistas.
1976
Chamado de volta à direção efetiva da Redação, completa a grande reforma do jornal, iniciada discretamente em meados de 75, juntamente com Octávio Frias de Oliveira e Otavio Frias Filho.
1977
Afastado da direção da Redação por imposição do ministro do Exército, Sílvio Frota.
1979
Nomeado membro do Conselho Editorial da Folha.
Demite-se do jornal durante a greve dos jornalistas. Trabalha, como co-diretor, no Jornal da República, que vive cinco meses e falece.
1980
Chamado de novo por Octávio Frias de Oliveira, vai para Londres como correspondente da Folha; em 1983 muda-se para Paris, na mesma condição.
1984
Começa a escrever a coluna “São Paulo”, da Página Dois da Folha.
Viajou muitíssimo, escreveu muitíssimo, assinando o nome ou não assinando, ou assinando com pseudônimo.
Recebeu duas medalhas na vida: uma do governo italiano, pelo trabalho clandestino na resistência italiana durante a guerra; outra do governo da República Democrática Popular da Polônia, em reconhecimento ao apoio dado à luta antinazista dos poloneses¹.
Não é membro de academias ou clubes. Fez o curso primário e os cursos de madureza do ginásio e do colégio, estes depois de maduro. Não tem curso universitário. Fala corretamente cinco línguas. Escreve em português e inglês, corretamente.
Nunca publicou livros. Nunca fez poesias. Nunca escreveu ficção, nem a jornalística. Dirigiu, marginalmente, a Folha Socialista, jornal do Partido Socialista Brasileiro, do qual foi membro alguns anos; e deu o nome, como diretor-responsável, sem nele trabalhar, ao Portugal Democrático, da resistência antifascista portuguesa.
Nunca entrevistou atrizes de cinema, cantores, Jânio Quadros, o papa João Paulo II ou Winston Churchill...
Nunca ocupou cargos públicos².
Plantou muitas árvores. Tem três filhos e sete netos³.
CURRICULUM VITAE
Cláudio Abramo
Começou no jornalismo trabalhando na propaganda aliada durante a Segunda Guerra Mundial (Interamericana, Serviço de Imprensa). Ao mesmo tempo, sucessivamente, na Agência Meridional, na Agência Press Parga e breve período no Diário da Noite. Demitido por fazer greve...
1948
Convidado por Paulo Duarte e Sérgio Milliet para trabalhar no O Estado de S. Paulo. Sucessivamente repórter, repórter econômico, redator da seção Internacional. Começa no Estado escrevendo uma enorme reportagem sobre a situação da pesca (que serviria de apoio para a criação do Instituto Oceanográfico), fruto de um mês e meio de viagem pelo litoral. Escreve uma série de denúncia contra a política externa durante a guerra; faz campanha contra o jogo no Guarujá. Viaja intensamente pelo Brasil.
1952
A convite do dr. Júlio de Mesquita Filho assume a secretaria do Estado e começa, com Luiz Vieira de Carvalho Mesquita, Ruy Mesquita, Juca Mesquita e Júlio de Mesquita Neto, a reforma do jornal (redução do tamanho da página, transferência de sede, adoção de práticas modernas de controle da publicidade, controle de fechamento da redação, controle da produção etc.). Data dessa época a abreviação do limite de fechamento da redação, que passou das três horas da manhã para a meia-noite.
Começa a cooptação de universitários para o jornalismo, mandando buscar alunos que se destacaram nos cursos de filosofia, ciências sociais, matemática, física. Um deles é Vlado Herzog.
A reforma se completa no início da década de 60. Nessa altura, alguns grandes nomes do jornalismo atual trabalhavam na Redação, como repórteres ou redatores.
1964
Passa quase o ano inteiro desempregado, por discriminação política. É convidado, nos últimos meses, para fazer análises da Folha de S. Paulo por Octávio Frias de Oliveira. No fim do ano, ou início de 1965, entra na Folha como chefe de produção.
1967
Assume a secretaria-geral da Folha.
1972
Nomeado diretor da Redação e afastado...
1975
Preso pelo Doi-Codi, com sua mulher, Radhá Abramo, por subversão. Em meados do ano, retoma o trabalho efetivo no jornal; cria-se a Página Três, com colaborações de intelectuais e jornalistas.
1976
Chamado de volta à direção efetiva da Redação, completa a grande reforma do jornal, iniciada discretamente em meados de 75, juntamente com Octávio Frias de Oliveira e Otavio Frias Filho.
1977
Afastado da direção da Redação por imposição do ministro do Exército, Sílvio Frota.
1979
Nomeado membro do Conselho Editorial da Folha.
Demite-se do jornal durante a greve dos jornalistas. Trabalha, como co-diretor, no Jornal da República, que vive cinco meses e falece.
1980
Chamado de novo por Octávio Frias de Oliveira, vai para Londres como correspondente da Folha; em 1983 muda-se para Paris, na mesma condição.
1984
Começa a escrever a coluna “São Paulo”, da Página Dois da Folha.
Viajou muitíssimo, escreveu muitíssimo, assinando o nome ou não assinando, ou assinando com pseudônimo.
Recebeu duas medalhas na vida: uma do governo italiano, pelo trabalho clandestino na resistência italiana durante a guerra; outra do governo da República Democrática Popular da Polônia, em reconhecimento ao apoio dado à luta antinazista dos poloneses¹.
Não é membro de academias ou clubes. Fez o curso primário e os cursos de madureza do ginásio e do colégio, estes depois de maduro. Não tem curso universitário. Fala corretamente cinco línguas. Escreve em português e inglês, corretamente.
Nunca publicou livros. Nunca fez poesias. Nunca escreveu ficção, nem a jornalística. Dirigiu, marginalmente, a Folha Socialista, jornal do Partido Socialista Brasileiro, do qual foi membro alguns anos; e deu o nome, como diretor-responsável, sem nele trabalhar, ao Portugal Democrático, da resistência antifascista portuguesa.
Nunca entrevistou atrizes de cinema, cantores, Jânio Quadros, o papa João Paulo II ou Winston Churchill...
Nunca ocupou cargos públicos².
Plantou muitas árvores. Tem três filhos e sete netos³.
(1) Em 1986, Cláudio recebeu a medalha do Mérito do Trabalho. (2) Exceto breve período em que assessorou Carvalho Pinto no Ministério da Fazenda, no governo João Goulart. (3) E três bisnetos, nascidos após a sua morte.
Comentário postado por Álvaro Junqueira no Blog Reinaldo Azevedo.
Publicado originalmente no site Pensamentos Esparsos, de autoria de Cláudio Weber Abramo (1923-1987).
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1 comment:
A charge do Angeli está ótima! Genial!
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