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Wednesday, March 18, 2009

Por favor, respondam a pergunta do Jobim na foto abaixo:

Foto: O falsário de Constituição, também almirante, general
e brigadeiro Nelson "ximango" Jobim.













































Carta a um Jobim fora do tom
Luiz Cesário da Silveira Filho

Ministro Jobim,

Tomei conhecimento de sua entrevista, publicada no Jornal do Brasil em 15 de março de 2009, (v. AQUI ) na qual o Senhor responde à pergunta de como pretende administrar a insatisfação de alguns generais em relação a algumas diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa.

Por considerar no mínimo deselegante para comigo e para com os integrantes da Reserva das Forças Armadas a sua resposta de que "o general que declarou a insatisfação não tem nada a administrar porque é absolutamente indiferente, foi para a reserva, se liberou", é que resolvi considerar a possibilidade de consignar esta resposta.

Sei que o Senhor não leu as minhas palavras de despedida do Comando Militar do Leste. O Sr. estava fora do Brasil, em reunião do conselho da UNASUL, o pacto de Varsóvia de "sandálias de dedo", que o Sr. conseguiu criar, em peregrinação política, utilizando o prestígio do Exército Brasileiro como fonte estimuladora. Nesta criação, já começa a despertar a falta de percepção estratégica, agora confirmada na insidiosa Estratégia Nacional de Defesa (END), à qual me oponho, por convicção e conhecimento.

Indago-me: como pode alguém, que se considera estrategista, pensar em criar um Conselho Militar no continente americano, ignorando a maior potência mundial nele situado, nosso aliado histórico, os Estados Unidos da América, que conosco combateu na Segunda Grande Guerra?

Há que se salientar que o continente americano já possui fórum, historicamente eficaz, a OEA, semelhante ao que o Sr. criou e que pretende tenha relevância. A UNASUL, integrada, em sua maioria, por países de ínfimo poder nacional, fatalmente, será desviada de sua atividade original e transformada em palco para declarações tronituantes, emitidas por personalidades histriônicas, que, sem dúvida, agravarão as dificuldades que já impuseram ao processo da liberdade e da democracia na América do Sul. Mas este é um outro assunto...

Volto ao meu pronunciamento na Solenidade da Passagem do cargo de Comandante Militar do Leste. Nele, relembro as palavras do saudoso Ministro do Exército, General Orlando Geisel, que afirmou: "Os velhos soldados se despedem, mas não se vão".

Sou um general com 47 anos de serviço totalmente dedicados ao meu Exército e ao meu país. Conquistei todas as promoções por merecimento. Fiz jus à farda que vesti. Não andei fantasiado de General. Fui e continuarei a ser, pelo resto de minha vida, um respeitado chefe militar. Vivi intensamente todos os anos de minha vida militar. Fui, sempre, um profissional do meu tempo.

Amadurecido e alçado ao mais alto posto da hierarquia terrestre, acompanhei, por dever, atentamente, a evolução do pensamento político-estratégico brasileiro, reagindo com as perspectivas de futuro para a minha Instituição, na certeza de que a história do Brasil se confunde com a história do Exército.

Vivemos, atualmente, dias de inquietude e incerteza. Sei que só nós, os militares, por força da continuidade do nosso dever constitucional, temos por obrigação manter a memória viva e a trajetória imutável da liberdade no Brasil. É, por este motivo, que serei sempre uma voz a se levantar contra os objetivos inconfessáveis que se pode aduzir da leitura de sua Estratégia Nacional de Defesa.

Ela está eivada de medidas, algumas utópicas e outras inexeqüíveis, que ferem princípios, contrariam a Constituição Federal e tendem a afastar os chefes militares das decisões de alto nível. Tal fato trará consequências negativas para o futuro das Instituições Militares, comprometendo, assim, o cumprimento do prescrito no artigo 142, da Constituição Federal, que trata da competência das Forças Armadas.

"Competência para defender a Nação do estrangeiro e de si mesma".

Em época de grave crise econômica, como a que atinge o país, apesar das tentativas de acobertá-la por parte do governo ao qual o Sr. serve, os melhoramentos materiais sugeridos serão, obviamente, postergados. Mas, o cerne da estratégia e suas motivações políticas poderão ser facilmente implementados.

É clara, nela, a intenção de se atribuir maiores poderes ao seu cargo de Ministro da Defesa, dando-lhe total capacidade de interferir em todas as áreas das Forças Armadas, desde a indicação de seus Comandantes, até a reestruturação do Ensino e do preparo e emprego das Forças.

O Exército Brasileiro sempre foi um ator importante na vida brasileira, e, ao longo da história, teve o papel de interlocutor, indutor e protagonista.

Desconheço a importância dos Gabinetes Civis (Sinimbu, Ouro Preto e outros), apresentada pelo Sr., em um discurso sem fundamentação histórica, que muitas vezes ouvi, bem como a sua relevância para o Império e o Brasil. Talvez, o discurso tente justificar, por similitude, a importância que o Sr. quer atribuir a um civil para gerir os interesses das Forças Armadas.

Pela confiança que inspiramos, a sociedade brasileira nos concede, como o Sr. mesmo reconhece em sua entrevista, 84% de prestígio. Tal índice é atribuído a nós, integrantes das Forças Armadas, que estamos sempre junto ao povo, nos quatro cantos do país, nos momentos de alegria e de tristeza. É um índice só nosso, instituições integrantes do aparelho do Estado Brasileiro. Não pertence ao Ministério da Defesa, órgão administrativo do Governo Brasileiro. Confiança não se impõe, se adquire.

A Nação inteira sabe que nunca fomos um intruso na história do Brasil. Nunca quisemos o poder pelo poder. As nossas intervenções na vida institucional do país, sempre por solicitação da sociedade, foram para a correção dos desvios que a trajetória da liberdade democrática do Brasil tomava.

Vejo, atualmente, com preocupação, a subvalorização do Poder Militar. Desde a Independência do Brasil, sempre tivemos a presença de um cidadão fardado integrando a mesa onde se tomam as mais importantes decisões do país.

A concepção ressentida da esquerda, que se consolidou no poder político a partir de 1995, absorvendo as ideias exógenas do Estado Mínimo e da submissão total do Poder Militar, mantendo "a chave do cofre e a caneta" em mãos civis, a fim de conseguir a sua subserviência ao poder político civil, impôs a criação de um Ministério destinado a coordenar as três Forças Armadas. Isto não se fazia necessário, no estágio evolutivo em que se encontrava o processo político brasileiro. Em um governo, à época da criação do Ministério da Defesa, constituído por 18 ministérios, nos quais pelo menos cinco eram militares, foram substituídos, estes últimos, por um ministério que, por desconhecimento de seus ocupantes (até hoje, nenhum Ministro da Defesa prestou sequer o Serviço Militar Obrigatório, como soldado), tem apenas deslizado no campo da política. Quando resolve incursionar no campo da estratégia, desconhecendo a opinião dos profissionais militares, consegue, além das preocupantes motivações políticas embutidas em seu texto, estranhas concepções que podemos classificar, ao menos, como excêntricas. Listo algumas das conceituações contidas na END para sua apreciação:

- Parceria estratégica nas áreas cibernética, espacial e nuclear, particularmente com os países de Língua Portuguesa e outros do entorno estratégico nacional, ou seja, com países de grande carência tecnológica (como Bolívia, Paraguai, São Tomé e Príncipe, Angola...), o que se torna inviável devido à escassez de recursos humanos e financeiros desses países;

- Desenvolvimento de um sistema de satélites espaciais semelhante ao sistema GPS, coisa ainda não conseguida, nem suportada economicamente, em conjunto, pela Comunidade Europeia;

- Utilização de conceitos esdrúxulos de "operação unificada" e "todo o exército como vanguarda";

- Preconização de necessidade de acesso das classes trabalhadoras às escolas de formação militares, mostrando que os formuladores da END desconhecem a origem e o perfil dos jovens sargentos e oficiais que, em concurso público, sempre aberto a todos os brasileiros, sem cláusulas excludentes de classes sociais, ascendem por seus méritos individuais.

Para não ser enfadonho, limito a listagem exótica por aqui.

Estou convencido que afastar-nos da mais alta mesa de decisão do país foi uma estratégia política proposital, o que tem possibilitado, mais facilmente, o aparelhamento do Estado Brasileiro rumo à socialização, com a pulverização da alta administração do país, atualmente, em 37 ministérios e, apenas um, pretensamente, militar.

A expressão militar deve ser gerida com conhecimento profissional, pois ela é um componente indissolúvel do Poder Nacional. Sem a presença de militares no círculo das altas decisões nacionais, temos assistido a movimentos perturbadores da moral, da ética e da ordem pública intentarem contra a segurança do direito, aspecto basilar em um regime que se diz democrático. Tal fato traz, em seu bojo, condições potenciais de levar o país rapidamente a uma situação de anomia constitucional, o que poderá se configurar em risco de ruptura institucional.

Até onde chegaremos?

A sua END aprofunda o contexto de restrições à autonomia militar e sugere medidas que, se adotadas, trarão de volta antigos costumes de politização dos negócios internos das Forças Armadas. Talvez isso favoreça o modelo de democracia que querem nos impingir. Será isto o que o Sr. quer dizer quando fala em sua entrevista "que é o processo de consolidação da transição democrática"?

Finalizando, quero salientar que a desprezível conceituação de que "o general que declarou insatisfação não tem nada a administrar porque é absolutamente indiferente, foi para a reserva, se liberou", bem demonstra a consideração que o Sr. empresta aos integrantes da Reserva das Forças Armadas, segmento que o seu Ministério pretende representar. Isto mostra, também, o seu total desconhecimento da grandeza e da servidão da profissão militar, pois, como bem disse o Gen Otávio Costa, "a farda não é uma vestimenta que se despe, mas uma segunda pele que adere definitivamente à alma...".

Lembre-se que os militares da ativa sempre conferem prestígio, não somente aos chefes de hoje, como, também, aos de ontem. Não existem dois Exércitos. Há apenas um: o de Caxias, que congrega, irmanados, os militares da ativa e da reserva.

A certeza de que o espírito militar, que sempre me acompanhou nos meus 47 anos de vida dedicados totalmente ao Exército, o qual, oxigenado pela camaradagem, é formado por coragem, lealdade, ética, dignidade, espírito público e amor incondicional ao Brasil, é o que me faz voltar-me, permanentemente, contra a concepção contida na sua END.

Subscrevo-me.
Gen Ex Reserva Luiz Cesário da Silveira Filho


Luiz Cesário da Silveira Filho é General-de-Exército, nascido em 17 de janeiro de 1943, na Cidade de Jaguarão-RS, Incorporou as fileiras do Exército em 1º de março de 1962, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Foi declarado Aspirante-a-Oficial da arma de Cavalaria em 19 de dezembro de1964. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), o curso de Comunicação Social, no Centro de Estudos de Pessoal (CEP), a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), o curso de altos Estudos-Política e Estratégia Marítima, na Escola de Guerra Naval (EGN) e realizou o estágio de blindados, no Exército Argentino. Como Oficial General comandou a 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (1ª Bda C Mec), chefiou o Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX), Comandou a 1ª Região Militar (1ª RM), além de Comandante Militar do Oeste (CMO). O General-de-Exército Luiz Cesário da Silveira Filho esteve à frente do Comando Militar do Leste (CML), de dezembro de 2006 até 11 de março de 2009, data esta, em que também despediu-se do serviço ativo após 47 anos. Sua liderança militar foi pautada no respeito, na hierarquia, na disciplina, na honradez e nas leis castrenses, que fazem do Exército Brasileiro a instituição com os maiores índices de credibilidade nacional.


Fonte: Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX)








Ministro, e o Projeto FX-2? "FALA COM A MINHA MULHER SOBRE ISSO..." ?????


Foto: O "general" Jobim e a "generala", também Jobim, distribuindo "badulaques" para a curuminzada.


































Entrevista - Nelson Jobim
por Luiz Orlando Carneiro, Marcelo Ambrosio e Raphael Bruno.

BRASÍLIA - De volta ao Brasil após viagem ao Chile, onde defendeu, em reunião do Conselho Sul-Americano de Defesa, uma aproximação das posições dos países membros, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, revelou, nesta entrevista exclusiva concedida ao JB, detalhes da polêmica que envolveu o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e a liberação de voos adicionas no Aeroporto Santos Dumont. Jobim conta que tentou, em vão, convencer Cabral de que o aeroporto era subutilizado e que a decisão da Agência Nacional de Aviação Civil de ampliar o uso do Santos Dumont era “autônoma” e baseada na legislação. O ministro também adiantou que, até agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva toma uma decisão final sobre a concessão do Aeroporto do Galeão. Jobim deixa claro que, após a superação da crise aérea, resta resolver a questão da infraestrutura dos aeroportos brasileiros e a iniciativa privada tem papel importante a desempenhar na tarefa. O ministro rebateu críticas à nova Estratégia Nacional de Defesa, a classificando como “consolidação da transição democrática” e interpretando possíveis retaliações internacionais às aspirações nucleares brasileiras como “parte do jogo”, além de reiterar a posição do ministério contra a revisão da lei de anistia. “O que a gente tem que fazer é tentar aproximar o futuro do presente e não trazer o passado para o presente”, diz.

Como foi a reunião do Conselho-Sul Americano de Defesa?

Nós tínhamos faixas de interesse comum em relação à questão de defesa. Em relação às áreas marítima, tínhamos um problema comum, que é a linha externa da orla continental marítima. Os países podem ter, a partir da costa, as famosas 200 milhas. No entanto, a Convenção do Mar da ONU fixa a possibilidade de estender essas 200 milhas até o máximo de 350 milhas. Temos que ter uma linguagem comum sobre esse assunto. O Uruguai estava fazendo uma extensão menor do que a nossa na parte final da sua divisa. Não era possível que nós continuássemos nessa linha, ou seja, de irmos para um encontro internacional, o argentino conversar comigo na porta e depois não tem entendimento nenhum. Nós não seremos fortes desta forma.

A questão da definição da extensão da plataforma continental tem uma relação direta com as descobertas do Pré-Sal...

Pode ter tornado interessante. Mas a decisão de fazer o trabalho começou na época do governo Fernando Henrique. A Marinha e a Petrobras levaram oito anos fazendo pesquisas em todo o litoral. E aí apresentamos à ONU, a ONU respondeu, fez algumas observações, que nós temos agora que responder. E eu chamei a atenção para os outros países que existe esse problema e que nós tínhamos que fazer um entendimento comum. Você chega lá com bancada, não chega isolado.

O senhor assumiu o Ministério da Defesa tendo como meta prioritária, urgente, resolver o caos aéreo. Passada essa fase, quais são as prioridades?

O caos era decorrente da falta de coordenação. A Infraero tinha uma agenda, a agenda da Anac era outra, e cada diretor tinha a sua agenda, com conflitos. O que encontrei? Em determinados aeroportos tinha pistas, mas não tinha estacionamento. Em outros tinha pista, mas não tinha terminal. Outro tinha terminal mas não tinha estacionamento. Um horror. Então as coisas chegaram a tal forma que deu problema no Aeroporto de Congonhas. Por que? As pessoas começaram a viajar, começou a aparecer dinheiro na mão de pessoas que não usavam avião. Quando eu assumi, Congonhas estava muito acima da sua capacidade de pista e do conjunto do aeroporto. Nós reduzimos e começamos a reformar todo o sistema e demos um tempo para reformar a malha aérea. As empresas ofereciam a sua proposta de malha aérea para ser analisada num momento em que elas já tinham vendido passagens. A malha não estava aprovada e as passagens estavam vendidas. O sistema se normalizou porque você começou a fazer uma malha compatível à infraestrutura aeroportuária e com a própria capacidade das empresas. O trabalho que a gente desenvolveu com a Anac foi, primeiro, criar a SAC – Secretaria de Aviação Civil – para tentar trazer para dentro do ministério a organização do sistema. Agora, em relação à aviação civil, o que resta é o problema da melhoria da infraestrutura. Então abrimos a discussão da concessão dos aeroportos.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, esteve reunido com o senhor tentando evitar a liberação de mais voos no Aeroporto Santos Dumont. Como foi essa conversa? E qual a posição do ministério em relação às privatizações de aeroportos?

A Infraero é uma empresa que não tem patrimônio. A Infraero é uma gestora de aeroportos, só isso. Ou os aeroportos são da União – o Galeão, o Santos Dumont – ou são do Estado – Congonhas – ou em alguns casos são dos municípios. A Solange (Vieria, presidente da Anac) começou a insistir muito no problema de fazermos concessões de aeroportos para viabilizar concorrência dentro do setor. Houve uma reunião, e o presidente concordou que fossem feitos estudos para concessão do Galeão. Não se justifica que a gente pegue o dinheiro de investimento público, e invista num setor cujo número de pessoas que usufrui é muito reduzido em relação à população total do país. Porque não colocar o setor privado nisso? O setor privado faz aeroporto. Então, com isso, a Anac está fazendo a formatação dos editais de concessão dos aeroportos. Nós temos aí pressões futuras, Copa do Mundo, Olimpíadas. Com essa discussão quem trabalhou muito foi o Sérgio Cabral. Mas o Sérgio Cabral falava na entrega do aeroporto do Galeão para o estado do Rio de Janeiro administrar e eles fariam a concessão. E a decisão que o presidente tomou foi de que quem iria fazer a concessão é a União. E a União é quem tem que fazer porque ela é a dona do aeroporto. Num determinado momento, vetaram o uso do Santos Dumont e o mantiveram apenas para a ponte aérea, com a perspectiva de fazer com que as empresas usassem o Galeão. Só que tem um problema. No nosso sistema legal temos o sistema da liberdade de rota. Quem escolhe o aeroporto é a empresa. Agora, se nós vamos dar a ela ou não aquele lote depende da capacidade do aeroporto, do espaço aéreo, aquelas coisas todas. Então, nessa reunião, no Palácio, eu fui fazer uma exposição e mostrar ao Sérgio Cabral que era inevitável que nós abríssemos o Santos Dumont porque estava subutilizado e havia pretensões de utilizá-lo, porque é no centro do Rio de Janeiro. No mundo todo o voo executivo, o voo doméstico, busca o centro da cidade. Quem busca o fora do centro da cidade é o voo internacional. Mostrei a ele os números, mas ele e o secretário Júlio Lopes acham que isso vai destruir o Galeão, que não sei o que mais. Na nossa análise não tem sentido. Eu disse a eles: eu não posso fazer nada porque a Anac é uma agência autônoma. Eu só vim aqui tentar mostrar para vocês que isso ia acabar com uma decisão judicial. E acabou havendo uma decisão judicial em favor da Azul, que tinha ajuizado ação para voar no Santos Dumont. Não se justifica ter um ativo perdido daquele jeito. De outra parte, política de gestão de aeroporto é política da lei. A Anac tem a obrigação de cumprir a lei e não a política do governo. Nem do governo estadual.

E a concessão do Galeão?

A ideia é que possamos, até o fim de julho, concluir a formatação da concessão do aeroporto. Em agosto o presidente toma a decisão. Não é bem privatizar, é fazer a concessão dos aeroportos, que estabelece uma forma de avaliação dos serviços prestados pela Infraero.

E como anda a implantação da Estratégia Nacional de Defesa? Como o ministério pretende administrar a insatisfação que alguns generais demonstraram em relação a algumas diretrizes?

O general que declarou insatisfação não tem nada a administrar porque é absolutamente indiferente, foi para a reserva, se liberou. O negócio da estratégia foi o seguinte: Eu disse ao presidente que nós tínhamos um problema político, sério, e eu queria saber se ele queria enfrentar ou não. Quando houve a transição do governo militar para o governo civil, leia-se governo Sarney, nós começamos o processo de transição do regime militar. E o processo de transição do regime militar tem características como o afastamento progressivo de militares das decisões políticas, redução da participação dos militares na administração pública, desaparecer do poder de veto dos militares às decisões políticas. Em 1988, quando fizemos a Constituição, quem quisesse falar em Defesa era mal visto, porque estava no nosso imaginário, inclusive no meu, de que mexer com Defesa era mexer em perseguição política, repressão. O que aconteceu? Durante esse período, tudo que dizia respeito à questão de defesa ficou absolvido pelos militares, porque o espaço estava lá. E havia a necessidade de fazermos com que a defesa fosse tema civil e que nós, do governo democrático, assumíssemos a tarefa. É o processo de consolidação da transição democrática. O que significava uma redução da autonomia militar. Comecei fazendo alguns gestos para deixar claro que os civis começavam a ocupar os espaços que eles não tinham ocupado, que são espaços de civis, que é a formulação da política de defesa. A execução da política de defesa, e as probabilidades estratégicas das decisões do governo democrático, era função militar. Mas eles estavam fazendo a outra coisa também.

Jobim garante que Ministério não tem arquivos da repressão

No plano externo, existe uma preocupação com outro tema polêmico da estratégia, que é a questão de vetar qualquer acordo novo de não-proliferação nuclear? Existe algum receio de retaliação da comunidade internacional?

O Brasil assinou o tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, mas nós temos toda a tecnologia. E aí surgiu o seguinte problema: nós precisamos da energia nuclear para a Marinha, porque nós temos 4,5 milhões de quilômetros quadrados para tratar. O submarino convencional é um submarino que tem autonomia e velocidade muito menor, ao passo que a turbina do submarino nuclear é muito mais silenciosa e muito mais rápida. Então se decidiu a linha do submarino. Paralelamente, vem a nós o protocolo adicional. Aí já foi uma decisão presidencial. Houve uma discussão com o presidente no Palácio sobre isso. O Ministério das Relações Exteriores foi resistente em relação a isso e o Ministério da Defesa afirmando a necessidade de nós não admitirmos o protocolo adicional, porque inviabilizava o Brasil na pesquisa da tecnologia nuclear. E nós precisávamos da tecnologia nuclear. Para a defesa, que é o submarino, e para a produção de energia elétrica. Vamos ter, evidentemente, problemas. Mas isso faz parte do jogo. Agora quero lembrar o seguinte: a Índia não participou do Tratado de Não-Proliferação e teve tratamento diferenciado. E se desenvolveu. Israel também... Todos. Então, por isso, houve uma decisão política do presidente: não vamos assinar.

E como fica a questão financeira em meio à crise?

Aí que está o ponto, que era a grande distorção ou a forma de impedir que você acessasse o tema. Não adianta fazer nada porque não teremos dinheiro. Logo, não faz nada. Ou é uma ideia equivocada ou é uma forma de linguagem para evitar que se enfrente o assunto. Outra coisa: os equipamentos não são os equipamentos que antigamente se dizia que os militares queriam ter. São equipamentos que decorrem da necessidade do poder civil, das tarefas a serem desenvolvidas. Aí surgem os dois pontos da manifestação desses militares que estão indo embora, felizmente, que são a questão da Secretaria de Compras. O que encontrei aqui? Encontrei cada força com estruturas de compras muito competentes, mas a decisão da compra era deles. Isso não é decisão para militar, é decisão para civil.

A estratégia prevê um aumento razoável nos gastos de Defesa. Como fazer para convencer os governantes e a própria sociedade da importância destes custos?

Tornando a defesa alvo da agenda nacional. Se você observar a última pesquisa que foi feita, as Forças Armadas tem 84% de prestígio com a sociedade.

Existe uma pressão de alguns setores do governo, principalmente da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e de organismos internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, para que o Brasil siga o exemplo recente de outros países, como a Argentina e o Uruguai, no sentido de liberar os arquivos relacionados ao período da ditadura militar e parar de utilizar a lei de anistia como mecanismo que impeça a responsabilização legal de agentes da repressão que praticaram tortura. Por quê o Brasil não pode seguir o mesmo caminho?

Nós estamos abrindo o que temos. Os militares me informam que os registros desapareceram. O que estou tentando é recuperar alguns que foram entregues por algumas pessoas para o Ministério da Justiça. Estou trazendo o que o Ministério da Justiça recebeu, para dar autenticidade. Na parte de anistia, o que nós temos é uma lei que foi discutida à época. Que foi a negociação da transição militar sem conflitos. Houve uma decisão histórica em 1979, essa decisão teve a bilateralidade da anistia. Portanto não cabe o revisionismo pela via da interpretação, como se nós estivéssemos nos substituindo ao acordo político de 1979. Tem que sair dessa tentativa polarizante entre defensores de torturadores e não-defensores de torturadores. Não é o caso, não é isso que estamos discutindo. E o fato de você ter decisões internacionais é irrelevante, porque as decisões internacionais só podem ser internalizadas quando compatíveis com o direito interno. E no Brasil você tem uma característica diferente. Os tratados têm o mesmo poder da lei ordinária. Se tem que ser feito um tratado internacional e ele conflita com a Constituição e com o sistema legal, ele não vale no Brasil. Por que? Porque o tratado sempre foi um ajuste do Executivo, sem a participação do Legislativo. E aí começa o Poder Executivo a resolver os problemas via tratados.

O ministério não teria objeções, então, por exemplo, a novas expedições com o intuito de encontrar ossadas de guerrilheiros no Araguaia...

Problema nenhum. Aliás, já fizemos 18. Aqueles que ficaram na mata desaparecem, você não tem mais como localizar, pela mudança de características dos locais. Agora, uma coisa é certa: em relação à anistia, esse assunto está na mão do Supremo. O Supremo vai decidir se é possível ou não o revisionismo do acordo político de 1979, via uma reinterpretação da Constituição, mas nossa posição é de que não compete a nós fazer isso. Uma das tradições equivocadas nossa é achar que a gente vai construir o futuro retaliando o passado. A gente queima uma energia brutal na retaliação do passado e não constrói nada para o futuro. O que a gente tem que fazer é tentar aproximar o futuro do presente e não trazer o passado para o presente.

Existe a pretensão do ministério de ampliar a participação dos batalhões de engenharia do Exército em obras do PAC?

Quem está querendo é o presidente. Os batalhões de engenharia estão servindo como referência de mercado.

E em 2010? O senhor pensa em concorrer a algum cargo?

Fala com a minha mulher sobre isso...


Publicado no jornal "Jornal do Brasil".
Domingo, 15 de março de 2009.





"OS VELHOS SOLDADOS SE DESPEDEM, MAS NÃO SE VÃO"


O EXEMPLO DE HOMBRIDADE QUE FALTOU AO GEN HELENO





Monday, April 07, 2008

Ou este pulha tem o diabo no corpo, ou é o próprio!











































(Singelos) COMENTÁRIOS SOBRE A CARTA DA Dra MARISE VALÉRIA SANTOS
por Rui Garavelo

Recebi/li a Carta da Dra MARISE VALÉRIA SANTOS (copiada a seguir, em Cor Azul).

É madrugada de domingo (06/04/08); só eu estou acordado aqui em casa e, por isso, fico feliz: ninguém está presenciando meus olhos marejados de lágrimas.

Li e fiquei com um misto de alegria/orgulho e de tristeza/vergonha.

Inicialmente, tive vontade de abraçar e cumprimentar a Dra MARISE por sua honestidade/coragem/destemor de escrever e assinar até com o seu CRM (que obrigará ao Sr LULA perguntar do que se trata para um de seus Assessores que, obviamente, irá pesquisar junto a alguém alfabetizado - coisa rara entre eles).

Mas voltando ao que senti:

- alegria/orgulho de existirem pessoas com vergonha e sentimentos normais (nem direi nobres);

- tristeza/vergonha por saber que ela (Dra MARISE) está coberta de razões em dizer as verdades para o Boquirroto/Falastrão/Mal Alfabetizado.

Lembrei, por oportuno, dos anos de 1951 quando POR CONCURSO PÚBLICO E UNIVERSAL ingressei no EXÉRCITO BRASILEIRO.

Entre os jovens (éramos pouco mais do que meninos - de 15/16 anos). Aprovados/Chamados, alguns eram tão pobres/modestos que MUITOS FORAM TRABALHAR para "recolher uma certa quantia necessária para o tal Enxoval exigido)".

Lembro, em especial, de um que foi ser Faxineiro/Servente/Cavalariço no Jóquei Clube (limpando bosta dos animais) para juntar o necessário; sua mãe viúva tinha uma Pensão que mal dava para manter "miseravelmente a família "; mais tarde, quando já éramos Cadetes na AMAN e recebíamos um Vencimento SIMBÓLICO (talvez, não lembro, menos que o Salário Mínimo à época) ele "mandava dinheiro para casa" para ajudar.

Não era uma exceção; era MAIS UM CASO ENTRE OS VÁRIOS EXISTENTES.

Claro que, entre os Cadetes da (minha) Turma, alguns eram oriundos de Famílias mais bem aquinhoadas em matéria de dinheiro, entretanto, a esmagadora maioria, vinha de Famílias de Classe Média Baixa.

Isso é normal entre os Militares:

- poucos , pouquíssimos, têm famílias "remediadas/ricas".

Pensei nisso quando li a Carta da Dra MARISE e, ao concordar com ela, lembrei do Sr LULA:

- MENTIROSO/DEMAGOGO/FALASTRÃO/FALSO/NOJENTO.

Não uso outros adjetivos por não ter PROVAS, ainda que o seu aspecto físico, suas manifestações, atitudes, gestual e comportamento NOS LEVE A CONCLUIR QUE O JORNALISTA NORTE-AMERICANO NÃO ESTAVA FALTANDO COM A VERDADE QUANDO SE REFERIU AO HÁBITO DO EXCESSO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS.

Mas, isso tudo é muito importante, no entanto, NÃO É O MAIS IMPORTANTE:

- a Carta da Dra MARISE me fez lembrar, também, que os CHEFES MILITARES SÃO OMISSOS/AUSENTES/FALSOS DISCIPLINADOS E SUBMISSOS a um CHEFE SUPREMO QUE NÃO MERECE TAL FUNÇÃO e eles (Chefes) estão calados qual uns MUDOS .

A Carta da Dra MARISE - a quem cumprimento não só por ter dito o que sentia/pensava mas, principalmente, POR TER SUBSTITUÍDO, nesse caso, os que ganham e desempenham Cargos/Funções que exigem correção/honestidade no que fazem/atitudes firmes, justas/corretas/honestas e, ao contrário, se escondem numa FALSA disciplina e hierarquia para "engolir todos os sapos do mundo"!!!! Caríssima Dra MARISE VALÉRIA SANTOS, meus cumprimentos por sua Carta plena de VERDADES. A senhora, Dra MARISE, tem neste Velho Soldado - envergonhado e triste - um FÃ/ADMIRADOR e que, modestamente, tem escrito à exaustão coisas semelhantes - ainda que sem os méritos e talento demonstrados pela senhora .

Meus cumprimentos e aplausos !!!!!!

PS: a quem tiver o E-Mail da Dra MARISE:

- por favor, envie meus cumprimentos!!!!!!

Atenciosamente

Porto ALegre, RS,06 de abril de 2008.
RUI GARAVELO MACHADO - Amigos para sempre e um pouco mais.

Olhe só que médica, que postura!

Que essa carta seja lida por todos, independente de religião, política, cor e condição social... redigida apenas como desabafo de uma brasileira que como o Lula, saiu do nada, mas não perdeu a humildade e nem a dignidade.


Bom dia Luiz Inácio

Não lhe chamo de Dr. porque isso você não o é, muito menos de presidente porque não tenho obrigação nenhuma de chamar de algum título um boa-vida, cachaceiro, ignorante, amoral, ladrão e desmemoriado.

Sabe Luiz, tal como você também sou de origem humilde, minha mãe lavou muita roupa e fez muito crochê para me criar, depois minhas irmãs cresceram e foram ser tecelãs numa industria em Bauru...estudamos em escola pública, naquele tempo nem calçado tinha, ganhava roupas usadas e me sentia uma rainha.

Com muito custo estudamos Luiz Inácio, desde 5 anos eu já ajudava em casa para minhas irmãs trabalharem e minha mãe também. Com 12 anos comecei a trabalhar fora, doméstica, depois metalúrgica, até que terminei meu colégio e ingressei numa Universidade Pública.

Luiz Inácio, nunca fiz cursinho, nunca fui incentivada, levantava as 4 e ia dormir uma da manhã, tomava vários ônibus, caminhei muito, comia pouco, vivia para os estudos, e engraçado, nunca perdi um ano, nunca perdi uma aula e Graças a Deus, em 1983 me formei em Medicina.

Me especializei, me casei e junto com meu marido luto para dar o melhor para as minhas filhas.

Hoje sou preceptora em uma Universidade, ganho tão pouco que é uma vergonha ser médico nesse país... depois que você quis brincar de presidente, as coisas pioraram ainda mais... mas o que se há de fazer.

Agora, vem cá:

Você é pobre e não teve condição de estudar???

Não me engana com esse rosário... mas não mesmo...

Sua mãe era analfabeta?

Empatamos; a minha também, eu ensinei a ela conforme ia me alfabetizando até aparecer o Mobral - desculpinha esfarrapada essa sua heim???

Eu engoli você esses 4 anos, com suas gafes, seus roubos, (e como sei de coisas... conheço o Palocci)... e sempre fiquei na minha, quieta porque é um direito seu...

Mas hoje, ao ligar a televisão e ver você, hipocritamente chamar a todos brasileiros de burros e incompetentes, lamento, mas foi a gota d'água! ... não julgue os outros por você... não me compare a sua laia ...
Sou apolítica, mas sou brasileira e em momento algum o senhor fez por merecer todo carinho que essa gente lhe dá.

Luiz Inácio, falar que o POVO BRASILEIRO NÃO TEVE INTELIGÊNCIA SUFICIENTE PARA DECIDIR A ELEIÇÃO, creia, foi a pior frase que você poderia ter dito...

Posso até concordar que 48% não teve inteligência porque vive na ignorância, na mesma que você julga que o povo brasileiro tem.

Eu só espero que essa sua frase, dita num sorriso de quem já tinha bebido todas... ecoe de Norte ao Sul do Pais e acorde esse povo que como eu lutou muito para chegar onde está... que como eu não agüenta mais pagar impostos para o senhor e sua corja gastarem com sabe-se lá o que.

Foi mal Luiz Inácio...muito mal mesmo.

Uma brasileira.
DRA. MARISE VALÉRIA SANTOS (CRM 77.557)


Rui Garavelo Machado é Coronel do Exército Brasileiro.








Publicado no blog "A Continência".
Domingo, 06 de abril de 2008, 07h41.





PT usou estrutura do Estado para promover a chantagem – Aluízio Amorim

Wednesday, November 21, 2007

Para onde navegareis Brasil?

Foto: Navio-Escola "Brasil" (U-27).


































REPERCUTINDO

Abaixo uma segunda carta, cuja autoria também é atribuída ao 1° Ten da Marinha do Brasil, Marcio de Abreu Praça Cardoso, desta feita tecendo comentários sobre a repercussão causada pela carta anterior (click aqui para ler), como também esclarecendo dúvidas e corrigindo interpretações errôneas por parte de alguns dos leitores daquela.
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COMENTÁRIOS SOBRE MINHA CARTA

Prezados senhores,

Apenas uma semana após a divulgação da minha carta, já me sinto obrigado a fazer um comentário geral, vista sua repercussão. Sou parabenizado efusivamente mas também gravemente rechaçado por militares das três Forças, sejam Generais ou Soldados Fuzileiros. Também sou procurado por jornalistas que, somados os meios envolvidos, divulgariam o conteúdo da minha carta em mais de 40 jornais ou periódicos, de maior ou menor expressão. Muitas pessoas me escrevem querendo saber se sou lenda urbana, colocando simplesmente em seu e-mail: “só queria saber se você era real”. Sou taxado de aproveitador, herói nacional, embusteiro, o João Cândido da era digital. Alguns me mandam me calar, outros escrever um livro e me candidatar a deputado federal.

Resumindo, a tarefa de responder a toda essa gente começa a se tornar inviável, seja para agradecer pelas congratulações ou refutar os argumentos contrários. Por isso escrevi este comentário, que não é uma nova carta, mas, basicamente, uma explicação da primeira, de seus reais motivos, suas origens e de pontos obscuros do texto. Peço a todos que a receberem que repassem aos seus contatos para quem também enviaram a carta original. Este segundo texto será enviado a todos que me mandaram uma resposta por e-mail, tenha sido ela a favor ou contra.

Muitas dúvidas surgiram de interpretações erradas do que escrevi, talvez fruto de uma leitura rápida, superficial ou preconceituosa. Por isso, neste comentário, vou usar somente texto puro; abolirei metáforas, sarcasmos ou qualquer outra figura de linguagem que possa suscitar novas dúvidas. Se esquecer de explicar algum ponto da carta, me perdoem, mas faço votos de que, após a leitura deste texto, algumas passagens se tornem mais claras.

O primeiro comentário que faço é sobre sua divulgação inicial. Sem contar minha Turma de EN, que possui cerca de 180 oficiais, com os quais me correspondo freqüentemente pelo grupo de e-mail, esta minha carta foi enviada para cerca de 50 pessoas, incluindo aí praças e oficiais que me conhecem ou trabalharam comigo de forma direta. Também mandei nominalmente uma cópia em papel para alguns oficiais, em geral meus ex-comandantes, e também para alguns Almirantes que julgo serem as autoridades competentes para tomar as decisões que sugiro em meu texto. Mandei uma cópia em papel por achar mais polido e conveniente.

É claro que imaginava que ocorreria uma divulgação ampla, mas cria que seria mais lenta e que ficasse restrita à MB. Por isso, acho que mesmo aqueles que discordam de mim deveriam, com um mínimo de bom-senso, tentar descobrir porque – se escrevi somente despautérios e usei argumentos descabidos – minha carta foi acolhida com tanto entusiasmo pela tropa; isso denota, no mínimo, que parte das suas angústias encontra-se refletida no texto. Não acho que sua distribuição em massa tenha sido feita pelos que a repugnaram, mas pelos que acreditam conter ela um pouco de voz que clame pelo que considero hoje uma multidão de amordaçados.

Se nossas autoridades não concordam com o que escrevi, não há problema nisso, nós vivemos em um Estado Democrático e ninguém é obrigado a pensar de uma forma ou de outra. Mas isso nos leva a um dilema: como lidar com a grande parte das praças e da oficialidade que pensa como eu, em menor ou em maior escala? Se eu sou um problema que foi resolvido com meu desligamento da Força, o que fazer com os demais problemas que povoam nossas Praças d’Armas e cobertas dos navios?

Em segundo lugar, embora seja dito explicitamente no texto, minha carta não foi feita para manchar a imagem da Marinha, mas para melhorá-la. “Esta carta foi escrita como uma última tentativa de mudar o que não consegui em quase uma década”. Repito, considero as FFAA extremamente importantes, apenas fico triste porque não vi profissionalismo, lucidez e seriedade no trato com a coisa pública (nisto não falo de corrupção, mas de eficiência) e com segurança nacional. Foi isso que me motivou a escrever este texto. Por isso, não me escrevam me acusando de não amar o País e coisas do tipo, pois, se tudo o que eu passei na Marinha tivesse um propósito justo e necessário, teria suportado as intempéries e continuado na Força. “O homem pode suportar muitos como, desde que haja um porquê” (Nietzsche).

Perguntam-me se eu odeio a Marinha e se não passei nada de bom nela. Eu gosto da Marinha, sim, e ter escrito a carta, considerando que dê frutos positivos como a melhoria da qualidade de vida e motivação do pessoal, foi a maior contribuição que pude dar. O que adianta passar a vida inteira empurrando sujeira para debaixo do tapete? Mais cedo ou mais tarde alguém teria que tocar no tema. Passei muitos momentos bons na Marinha na companhia de meus amigos de Praça d’Armas e subordinados, mas eu escrevi essa carta para dizer os motivos que me levaram a sair, e não os que me levaram a ficar.

De modo algum sou contra as tradições sadias, que, como cito em meu texto, nos unem em laços comuns. Todas as marinhas do mundo possuem tradições, que estão presentes nos uniformes, no linguajar e no modo de enxergar o mundo. Porém, existem tradições negativas sim, que devem ser abolidas, ou, em muitos casos, apenas atenuadas. Outras, como a que cito explicitamente, que são as honras de portaló, deveriam ser deixadas para festividades e cerimônias. Caso contrário, continuaremos sacrificando um oficial em troca de um simples capricho, na minha opinião.

Por mais incrível que pareça, alguns também me escrevem dizendo que não entenderam qual é a crítica da minha carta. Basta olhar para os jornais: o êxodo de oficiais está aumentando mais e mais (isso é um fato), e a principal causa não é a financeira, acreditem. O principal problema é qualidade de vida. Está satisfeito, hoje, na Marinha, quem é apaixonado pelo que faz. Isso não é demérito, ao contrário, acredito que todos deveriam ser apaixonados pelo que fazem. Mas é a paixão deles que faz com que superem os graves entraves administrativos, as idiossincrasias, as ordens sem sentido e continuem satisfeitos, porque eles mesmos não se vêem fazendo outra coisa. Acontece que paixão não pode ser medida em um concurso de admissão, e não creio que esses amantes fervorosos respondam por mais do que 10% do nosso contingente. Os outros 90% podem gostar da Marinha, tentar dar o melhor de si no local onde servem, mas não são incansáveis; eles esperam que haja uma contra-prestação por parte dos seus superiores, e creio que estamos entrando no cerne do que seria a verdadeira liderança. Já ouvi de muitos praças que a primeira coisa a fazer caso entrássemos em guerra seria matar o comandante tal, ou o tal, pelo nosso próprio bem. Essa é a preocupante opinião da tropa, e só porque não chega aos ouvidos das nossas autoridades não significa que esteja tudo bem. Aos que discordam de mim, antes de esbravejarem e me xingarem, tentem, por favor, saber de seus subordinados se concordam ou não com o que disse. O difícil pode ser extrair sinceridade...

Não invoco sobre mim o título de líder; não estou iniciando nenhum movimento; não me considero um expoente da minha geração e nem possuo uma inteligência privilegiada. O que possuo, sem falsa modéstia, é bom-senso, e foi norteado basicamente por ele que ressaltei os pontos que considero deficitários no nosso dia-a-dia.

Muitos me acusam de ser generalista; chamo a todos de alcoólatras, ladrões e picaretas. Claro que isso não é verdade, e eu nunca escrevi isso. Se alguém diz “o governo Lula é corrupto”, quem é corrupto? Todos? O Presidente? Com que provas? Se alguém diz “a polícia do Rio é corrupta”, quem é corrupto? Os soldados? Os oficiais? Todos? Então estamos entrando em uma nova era de crimes de opinião. Se eu estivesse ofendendo toda a Marinha, porque minha caixa postal teria sido inundada de e-mails me dando parabéns e se solidarizando comigo? Tudo que cito, e olha que não foi tudo o que vi e vivi, se deu ao longo de uma carreira que foi curta, mas bem intensa, caso se possuam olhos críticos e capazes de uma análise mais profunda. Impossível que todos aqueles fatos se refiram a um só lugar ou a uma só pessoa, senão ela seria o anti-cristo. Citei histórias que vivi, ou que vi colegas passarem, ou mesmo práticas que são consagradas em nosso meio. Ou alguém vai ter a coragem de me dizer que não conhece a estória do Caldeirão Naval? Assim sendo, não se sintam ofendidos, porque não disse que todos são alcoólatras e pais ausentes (sei que essa foi minha afirmação mais polêmica). Eu não sou, a maioria dos que concordam comigo não são, grande parte dos que discordam também. Mas devem existir muitos para consumir os 10.000 litros de bebida comprados pela Marinha recentemente, segundo o repórter da BandNews Luiz Megale, compra esta que teria sido criticada pelo Vice-Almirante Armando Ferreira Vidigal. Vide clicando aqui.

Eu estou mentindo? Existe uma conspiração? O que quis dizer foi que realmente a cultura do álcool é muito forte na MB, como cito em vários pontos da carta. Durante minha curta carreira, por muitas vezes fui criticado por não beber, sendo impedido de ir embora depois do expediente para “pelo menos fazer companhia” aos oficiais que se confraternizavam em seu happy-hour. Já fui obrigado a beber cachaça para agradar a um superior; fui obrigado a render serviço fora da escala para permitir que o oficial rendido pudesse tomar cerveja, já que eu não era um bom amigo de copo; dentre os ensinamentos recebidos na EN, estava o que sugeria que “o oficial sempre deve estar com um copo na mão”; dentre brincadeiras de Praça d’Armas vi desafios de beber 450ml de whisky sem gelo. Se eu usei a palavra “alcoólatra” é porque não sabia outra.

Novamente, quando digo pais ausentes não digo que todos sejam, nem que seja de modo voluntário, mas muitos militares não conseguem acompanhar a família do modo que querem, por imposição das funções e pela natureza do trabalho, em certos casos desnecessariamente extenuante. Outros, simplesmente, não gostam de ir pra casa após o trabalho, e obrigam seus subordinados a compartilharem sua falta de zelo pela família. Resumindo, se usei de generalizações, foi em favor da argumentação mais simples, senão encharcaria o texto com ressalvas. Ninguém precisa se encaixar em todas as situações, caso não queira. Contudo, se mesmo assim alguns dos excelentes oficiais que conheço, dentre eles amigos pessoais que mantêm uma postura corretíssima, ficaram de algum modo ofendidos, aqui peço minhas desculpas publicamente e faço minha retratação aos demais oficiais e almirantes. Ao restante, mantenho firmes minhas palavras.

Me criticaram até porque decretei o fim da Marinha!!! “Entendam: esta Força, como hoje conhecemos, não vai subsistir, nem de um modo, nem de outro”. Estou escrevendo esses comentários porque parece que as pessoas leram minha carta sem ler. O que disse foi que a cultura reinante na MB, incluindo as atitudes criticadas por mim, não vai subsistir quando minha geração chegar ao comando. A Marinha vai continuar a existir sempre, isto é uma imposição constitucional.

Não centrei minha exposição no sucateamento dos meios, nem em outros fatores materiais porque muitos já falaram sobre isso e sei que essa não é a questão central. Porém, isso é uma boa notícia: o aumento de satisfação do pessoal na Marinha do Brasil não depende de dinheiro! Depende de boa-vontade e de bom-senso; de resto, só faltam algumas assinaturas.

Me chamam de oportunista, traidor. Dizem que não tive a coragem de divulgar a carta quando ainda estava na ativa. Primeiramente, eu não sou burro, e já cansei de dar murro em ponta de faca há muito tempo. O que pude reclamar e dizer dentro da Marinha eu o fiz a seu tempo, e, invariavelmente, recebia um sonoro NÃO como resposta. Agora eu nem imagino qual o estrago que ocorreria se eu estivesse dentro da Força e enviasse um texto como esse. Me desculpem, mas as FFAA nunca foram um ambiente propício ao debate, e não me digam que isso é necessário à hierarquia e disciplina, pois, na verdade, a dissonância entre a visão de mundo de nossos chefes militares e da nossa tropa está levando a caserna a uma crise de liderança silenciosa; todos estão suportando tudo, esperando ansiosamente o momento em que vão se desvencilhar: os mais antigos esperando cruzarem seus 30 anos, e os mais modernos fugindo através de concursos públicos, ou tentando fazer uma faculdade para cambar para a iniciativa privada. Tudo isso é real.

Outros reclamam que minha carta foi passional, que soou um pouco amarga. Tem razão. Se esta carta fosse escrita alguns meses depois de sair da Força, ela seria muito mais didática, analítica; enfim, iria parecer uma excelente tese de um intelectual que explica todos os problemas do mundo sem nunca tê-los vivido. Ao contrário, já com a idéia de fazer uma carta na cabeça, comecei a escrevê-la no exato dia em que fui proibido por um oficial superior (eu, um Primeiro-Tenente!) de fazer educação física, porque minha camisa era de manga, ao invés de ser uma camiseta regata. Na minha humilde opinião, deve haver algo mais importante com o que se preocupar na Marinha do Brasil. A carga de sentimentos com a qual impregnei minhas linhas serviu para que muitas pessoas se identificassem comigo. Inúmeras foram as pessoas que me escreveram dizendo que, ao lerem o texto, se sentiam exatamente como eu descrevia. Acho que, por isso também, acabei escrevendo pouca coisa, ou quase nada, do lado bom da MB.

Não quero que nossos chefes militares levem canhões à Brasília e tomem de assalto o Congresso para exigir verbas. Apenas não gostaria que o ônus do contingenciamento de recursos seja repassado à tropa, exigindo que nossas guarnições pintem sem tinta e que sejam responsabilizados pelo péssimo acabamento resultante, ou que tenham que dar brilho em um piso sem dispor de cera, como vi algumas vezes, condicionando o licenciamento ao seu surgimento milagroso apenas com a aplicação de um pano úmido.

Afirmam que minhas críticas são vagas e genéricas, outros dizem que fiz uma carta-denúncia. Ora, isto é um paradoxo. Se sou genérico, é exatamente porque não adotei uma postura denuncista: me abstive de anexar provas e de citar nomes, lugares e datas. Outros me acusam de prevaricação. Pode ser. Por duas vezes estive a ponto de prestar queixa junto ao Ministério Público, por Crime contra a Administração Pública e Crime Ambiental (derramamento sistemático de óleo em área de proteção ambiental – falta de profissionalismo). Se eu quisesse poderia tê-lo feito em casa, pela Internet, sem apresentar provas, apenas indícios, e nem precisaria me identificar. Confiram clicando aqui. Não o fiz exatamente porque um simples escândalo levaria ao desencadeamento de vários outros, maculando, aí sim, efetivamente a imagem da instituição, o que não desejava. Como falei em minha carta, alguns navios (evito assim a tão criticada “generalização”) não podem manter sua capacidade operativa e realizar sua manutenção sem recorrer ao malabarismo de notas fiscais, mudando a natureza da despesa efetuada, ou realizando outros artifícios para que não se ultrapasse o limite de licitação. Tudo isso, embora realizado para o aprestamento do navio, é feito com nossas assinaturas, e mesmo que não se considere imoral, efetivamente é ilegal. Por isso disse em minha carta que não se pode dizer a um magistrado que “o fez em prol do serviço”. Reconheço que tal manobra não se destina a auferir vantagens pessoais, mas sim de manter o meio operando. Nisto louvo a MB, realmente não testemunhei casos de corrupção visando enriquecimento ilícito, embora devam existir, como em qualquer outro lugar. Mesmo assim, é óbvio que a Marinha não deveria depender de meios ilícitos para se manter, nem obrigar seus militares a realizar tais atos. É sobre isso que falo.

Sobre a declaração “merecemos descanso depois desta atividade tão ingrata, que é se fazer ao mar”, relembro o sentido de ingrato trazido pelo Michaelis: “1.Que não mostra reconhecimento. 2. Que se esqueceu dos benefícios que recebeu. 3. Que não corresponde aos benefícios recebidos ou à afeição que se lhe dedica”. Realmente é uma atividade ingrata. Embora, particularmente, EU não goste, até mesmo os que sentem satisfação em se fazer ao mar estão longe de receber algum tipo de retorno que não seja a sua própria satisfação. Considero que todo militar embarcado deveria receber compensação orgânica, mas isto não está dentro do nosso poder de decisão. Mas o que está, não se faz: é ridículo dar ao militar um dia de folga para cada 30 que se afasta de casa e exigir que fique a bordo baldeando e pintando o navio sem antes poder ver a família. Qualquer tropa compreende quando é necessário realizar um esforço, e o bom militar o faz sem reclamar. Mas a extenuação da tropa, quando não há um motivo compreensível, leva a crises de liderança.

Teci esses comentários para dar um pano de fundo a quem recebeu minha carta na Internet de modo seco, sem saber de onde vinha e me desconhecendo como pessoa. Saibam que a fiz com a melhor das intenções, pois quero que a Marinha, assim como o Exército e a FAB, se tornem instituições mais fortes e sejam dignas de respeito, não pelo que aparentam ser, mas pelo que são. Existem coisas erradas a serem consertadas; um bate-papo franco com a tropa vai ajudar em muito; nessa negociação, OS DOIS LADOS vão ter que ceder.

Também sei que encontrarei dificuldades na minha próxima carreira assim como em qualquer outra instituição; não desisti do militarismo porque encontrei problemas, mas porque vislumbrava soluções óbvias que não eram adotadas por motivos que não considerava justificáveis. E relembro que não estou falando de problemas materiais. Os que da minha carta só extraíram indignação perderam uma boa oportunidade de entender como pensa parte de nosso contingente, achem isso certo ou errado.

Infelizmente, não estou mais conseguindo responder a todos os e-mails, como planejei desde o início, senão precisaria contratar auxiliares. Contudo, mesmo que demore um pouco, tentarei, ao seu tempo, agradecer a cada um pela resposta ou tentar contra-argumentar as questões levantadas pelos que de mim discordam.

MARCIO DE ABREU PRAÇA CARDOSO
Primeiro-Tenente (RM2)
Analista Administrativo TRE-RJ



Wednesday, November 14, 2007

Cisne Branco em águas turvas.

Obs.: O prefixo da embarcação abaixo, (4), devidamente sucatada e "canibalizada" é uma referência à
posição em que se encontram os comandantes das FFAA perante ao " desgoverno" comuno-petista.




































O DESABAFO

Abaixo uma carta postada no Portal Militar, admitida como de autoria de um 1° Ten da Marinha do Brasil, cuja veracidade só poderá ser confirmada pelo signatário ou pelas autoridades que receberam cópias da mesma, conforme informado pelo autor no seu preâmbulo. De qualquer maneira o conteúdo, com demasiado jargão militar pertinente à MB devido a carta em questão ser dirigida a seus "mestres", coloca em evidência a situação daquela "força", que como todos do "meio" estão fartos de saber também é a conjuntura atual no EB e na FAB.

O Brasil não possui mais Forças Armadas dignas deste nome, seus oficiais intermediários estão desistindo da carreira por completa falta de perspectiva profissional e pelo desmantelamento contínuo hà mais de 20 anos de seus equipamentos e meios de subsistência. E seus comandantes? Ah! Meus caros sobre estes nada mais a comentar, porém, "Que a terra lhes seja leve, com o Pão-de-Açúcar por cima".
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Prezado Comandante,

Envio em anexo a este e-mail uma carta de despedida que redigi nestes meus últimos dias na Marinha do Brasil, carta esta que contém algumas das razões pelas quais decidi abandonar esta Força. Esta carta será enviada a todos os Comandantes que trabalharam comigo de modo direto, sendo que, para alguns, enviei uma cópia em papel por razões específicas. Também estou enviando uma cópia para o nosso Almirante, para o Comandante da EN, DPMM, DGPM, CON e Comandante da Marinha. Que seja de alguma valia e que surta algum efeito positivo para aqueles que continuam a servir o País nesta instituição.

Respeitosamente,
1T Cardoso.

Prezado Comandante,

Esta carta foi escrita como uma última tentativa de mudar o que não consegui em quase uma década. Meu desânimo, que culminou na desistência da minha carreira, foi cultivado sistematicamente dia após dia, através da observação e vivência de atitudes que desprestigiavam meu bom-senso, capacidade crítica e intelecto, sobre os quais passarei a discorrer mais adiante.

Após ter sido aprovado, em 1998, num dos concursos mais concorridos daquela época, ingressei na Escola Naval, tendo preterido uma carreira de engenheiro eletrônico na UFRJ. Julgava que a carreira naval se mostrava mais promissora, com estabilidade, interstícios bem definidos e ainda um certo prestígio junto à sociedade. Esse foi o espírito com o qual fui admitido na Marinha do Brasil. Após cinco anos de formação, e apenas um de oficial, já havia tomado a decisão: não havia como permanecer nesta carreira, a não ser, literalmente, “com o sacrifício da própria vida”. Um sacrifício contínuo, que eu via se abater sobre todos os meus colegas de Praça d´Armas, fossem eles Segundos-Tenentes, Capitães-Tenentes ou até Capitães-de-Mar-e-Guerra. Não estou falando de um sacrifício honrado, merecido, daqueles que se vêem nos filmes e são inerentes aos heróis. Não, o sacrifício de que falo, nessa carreira que insistem em chamar de “sacerdócio”, era um sacrifício inócuo, quixotesco, cujos maiores feitos eram a contagem correta e ilibada – quase obsessiva - de vidros de mostarda no balanço de paiol e a maquiagem bem feita, a qual custou toda uma noite em claro, para o recebimento de uma autoridade que só se importava com a idade do whisky que iria ser servido.

Todos esses fatores me levaram a buscar uma carreira extra-Marinha, o que consegui, com a ajuda de meu Senhor Jesus, quando fui aprovado para o cargo de Analista Administrativo do TRE-RJ, o qual estou exercendo no momento. Mas o que me impressiona mesmo é que, a despeito da minha anterior posição, no início de uma brilhante carreira que se desfraldava para mim, nenhuma autoridade se interessou em descobrir por que eu havia decidido abandonar a Marinha. Eu não era um desempregado em busca de um trabalho tampouco um estudante recém-formado em direito, mas um Oficial de Carreira das Forças Armadas que resolveu, como já foi me dito, “trocar os botões dourados por uma salinha suja numa repartição”. No mínimo, é inquietante que a Diretoria de Pessoal esteja realizando pesquisas de satisfação cujo resultado seja que esse êxodo deve-se à “falta de cursos no exterior” e ao “sucateamento dos meios”. Esses não são, nem de longe, os reais motivos. E, pelo menos, quanto à oficialidade da Marinha, também não o é a remuneração. A prova disso é que pelo menos metade dos oficiais que estudam para concursos também busca carreiras de nível médio, cuja remuneração é menor, mas possuem maior qualidade de vida em relação ao regime semi-aberto que se tornou a carreira naval. Se nós formos buscar os reais motivos dessa insatisfação coletiva, porém velada, veremos que são causadas por problemas estruturais, e não conjunturais. Sua causa não está nos baixos salários, embora eles estejam realmente abaixo da média do funcionalismo público federal. Nem no reduzido orçamento, que de fato está sendo cortado ano após ano. E muito menos na redução da quantidade de meios operativos. O valor desta carta reside neste ponto: todos os problemas que serão abordados podem ser resolvidos dentro de casa, através de iniciativas internas, independentes de orçamento, e – o pior – em pouquíssimo tempo, por meio de decisões administrativas simples, que não são tomadas por má-vontade, orgulho, miopia administrativa ou apego demasiado a uma tradição caduca, que emperra e desagrega esta Força, ao invés de uni-la em laços comuns, na medida em que origina ações e ordens contraproducentes que contribuem sobremaneira para o mau andamento do serviço.

Compreendemos que as Forças Armadas, conceitualmente, exercem um papel primordial na manutenção da paz, na dissuasão de hostilidades estrangeiras e na consecução dos nossos objetivos estratégicos como nação – assim como consta nas tão festejadas apostilas da Escola de Guerra Naval. Ainda mais, acreditamos e gostaríamos que essas metas fossem alcançadas, com seriedade e profissionalismo. O problema é que também compreendemos quão diametralmente opostas desses objetivos estão as decisões e atitudes tomadas por nossas autoridades, que destinam porções generosas dos recursos para a pintura incessante de equipamentos que já não funcionam por falta de recursos. Que se apropriam das já parcas etapas de alimentação e as transformam compulsoriamente em “sobras lícitas”, de modo que possam comprar parafusos, tinta, cera e bancar coquetéis para almirantes que festejam a decadência da própria Força. Que investem milhões de reais do contribuinte na compra e manutenção de meios já defasados, que onerarão ainda mais o orçamento, já que os próprios países de origem não toleram seu custo-benefício, isto se considerando que são países ricos. E, o pior, cada atitude dessa vem travestida de honradez e pundonor. A pintura de piso, de sucata, de ferrugem (somente para o dia de uma visita), se reveste do caráter de limpeza e organização, de modo que não fira os olhos de uma autoridade que reluta em não ver a realidade. O saque da nossa mesa vira espírito de sacrifício, o que vem acompanhado de manipulação das notas fiscais para que a comprovação de gastos com solda seja transformada em aparelhos de TV para a tripulação. E a aquisição de “novos” meios deteriorados é motivo de orgulho das autoridades, que se gabam de fortalecer a instituição em tempos de dificuldades, ainda que tenham comprado o refugo de outros países. Esses meios NÃO irão contribuir para a soberania da nação – não andam, nem funcionam, e ainda exporão a vida da tripulação a um risco desnecessário, pois nossos navios não possuem mais portas estanques, nem sistemas de combate a incêndio eficientes, e suas instalações funcionam na base do “gatilho”, sendo isto um dos grandes geradores da sobrecarga de trabalho à qual nossas praças e oficiais de baixa patente estão submetidos.

A chave para se compreender o choque de gerações que ocorre em nossos tempos é a divulgação da informação. O movimento conhecido como Tenentismo, um conhecido de longa data, se manifesta atualmente enriquecido e ligeiramente modificado, uma vez que não se utiliza mais do embate das armas, e nem possui o fervor patriótico de outrora. Com a Internet, ficou muito difícil para o sistema de formação de oficiais privar os alunos e aspirantes da realidade reinante, como acontecia antigamente na chamada “bolha”. Hoje, é praticamente impossível realizar uma lavagem cerebral completa, que torne o militar subserviente o necessário, pois a visão de mundo que um jovem tem não o permite – e essa é a causa de tantos oficiais superiores reclamarem que “não se fazem mais tenentes como antes”. Eu e meus colegas enxergamos a Marinha como mais um órgão estatal, que tem suas funções específicas definidas em lei, e atualmente não está executando-as de forma adequada; não vamos tomá-la pelas armas, nem nos insurgirmos em revoltas. Não, nós não amamos a Marinha acima de nossas próprias vidas, pois isso sequer faz sentido. E entendemos que o mercado de trabalho também mudou, inclusive na iniciativa privada, onde ninguém mais tem um emprego para a vida toda; aplicamos isso em nossas vidas particulares e decidimos que podemos trabalhar onde melhor nos convier, seja por pagar melhor ou ter uma rotina de trabalho mais agradável, e isso sem o peso na consciência de largar o “sacerdócio”. É muita inocência achar que iremos abdicar, conhecendo nossa capacidade, competência, potencial e qualificação, de carreiras públicas que nos oferecem dignidade pessoal, respeito profissional, horário de trabalho justo e, de quebra, remuneração inicial de Contra-Almirante.

Para estudar para meu concurso, tive de fazê-lo em oculto, sob pena de ser execrado do convívio da Força ou perseguido. E fui punido por não ter comunicado minha inscrição, assim como preconiza a retrógrada legislação vigente. Porém, fica o aviso de que o número de oficiais descontentes que agora estudam escondidos é muito maior do que os mais de 30 tenentes que cancelaram seu Curso de Aperfeiçoamento nos últimos dois anos e do que a turma somente de Aspirantes que fechou uma sala exclusiva na Academia do Concurso Público.

Há de ser ressaltado que a geração de oficiais superiores e almirantes atualmente no comando foi formada durante o regime militar ou no pós-regime, uma época bem mais intensa nos valores e também nas arbitrariedades. O mundo mudou, as relações sociais, econômicas e empregatícias também, mas a Marinha insistiu em cristalizar-se novamente em suas tradições, e quanto mais o tempo passa mais esta instituição se afunda num anacronismo intenso. O mundo realmente pode ter mudado muito rápido para que algumas autoridades pudessem ter absorvido, mas é para tentar mudar um pouco essa mentalidade que passo a discorrer sobre algumas das principais causas de insatisfação na Marinha do Brasil:

SERVIÇO

As Forças Armadas possuem uma singularidade em relação a outros órgãos e empresas, sejam públicas ou privadas: submetem seus militares a mais de 24 horas de trabalho contínuas. Isso seria simplesmente imprescindível caso estivéssemos em tempo de guerra. Mas considerando-se que nossos maiores inimigos são a sujeira do piso e o amarelo por fazer, não há respaldo para essa prática. Após o serviço, o militar não deve cumprir o expediente normal, visto que foi privado da sua noite de sono, tempo de lazer e convívio com a família. Médicos e policiais cumprem seus plantões (e muitas vezes conseguem descansar neles), são rendidos pela manhã e vão para casa. A carga horária semanal não deveria, constitucionalmente, exceder as 44 horas semanais – embora batamos com orgulho no peito nos vangloriando de que não possuímos direito algum – mas, com apenas um serviço na semana essa carga sobe para 56 horas. Numa escala muito comum, 3 por 1, o militar pode chegar a cumprir 80 horas semanais, sem nenhum tipo de compensação. É comum que cabos e marinheiros concorram a escalas de 1 por 1, sendo liberados, como um favor, ao meio-dia do dia de sua rendição. Eles cumprem 108 horas semanais, 145% a mais do que permite nossa Constituição, que defendemos com o sacrifício da própria vida.

Durante o serviço nos fins-de-semana, é comum a prática de detalhar “faxinas” a serem realizadas no tempo vago – seja lá o que isso for. Durante o dia, o militar deve se desdobrar em 2 quartos de quatro horas, sendo um de madrugada, além de cumprir os adestramentos previstos. Nessas oito horas, ele permanece em geral em pé, no calor do sol e no frio da madrugada, e, para que não consiga se refazer entre um quarto e outro, é colocado para tratar conveses, limpar corredores ou soldar chapas no seu tempo vago. Será que perder o seu descanso semanal remunerado não é o suficiente, o militar tem que sentir dor o tempo todo? Nesta Força existe um conceito muito errado de que nossos militares são máquinas que devem produzir em tempo integral e de que qualquer tempo ocioso, incluído o de descanso, é desperdício.

Os oficiais são obrigados, em geral, a permanecer em pé no portaló durante seu serviço – desde 06:00h, para fiscalizar(?!) o quarto d´alva –, visando basicamente a realização de cerimonial para visitas de autoridades não-anunciadas e a manutenção do alerta vermelho máximo para a passagem de lanchas de almirantes. Considero isso um desrespeito à minha formação e capacidade intelectual, uma vez que sou relegado a um mero soldado de chumbo, enfeitando um portaló, enquanto sou subaproveitado nas minhas tarefas administrativas. Cabe às autoridades definirem: o que é mais importante, um cerimonial que pode vir a acontecer ou a realização das tarefas administrativas vitais do navio? Sempre achei que tivesse estudado demais para ter simplesmente a função de ficar em pé por mais de 10 horas seguidas. O oficial de serviço pode sim, muito bem, ficar volante no navio, e atender situações que realmente façam jus à sua presença. Quanto ao procedimento das visitas não-anunciadas, já está na hora das autoridades se conscientizarem de que a máquina estatal não pode ficar completamente mobilizada simplesmente aguardando seu repentino aparecimento, de modo a louvá-las e engrandecê-las.

É comum que se avalie a escala de serviço como “muito cochada”, se arbitre uma satisfatória e depois se inventem postos desnecessários para se justificar esse aumento, de modo que não fiquem militares à toa, “sobrando”, como se a folga da escala representasse mão-de-obra ociosa. Lembro também de quando estava na Escola Naval, onde o segundo-anista não poderia pegar menos serviço do que o terceiro-anista, e então criaram um “plantão do bar” para piorar a vida do segundo ano, e, comparativamente, melhorar a do terceiro (redistribuindo, assim, as cotas de infelicidade). Essa prática é muito comum também na Esquadra, matriz do “Caldeirão Naval”, onde a escala do oficial não pode ser maior do que 5 por 1 e já houve caso de mais de três oficiais estarem de serviço em um mesmo dia desnecessariamente. Sei que um oficial pode se qualificar para concorrer à escala em mais de um navio, assim como eu mesmo já fui qualificado, e sem muito esforço; durante o expediente, cada navio poderia ter seu próprio oficial de serviço para resolver problemas administrativos, e, após, somente um dos oficiais se responsabilizaria pelos navios durante o pernoite. Ou então, os oficiais de serviço poderiam simplesmente ficar de sobreaviso, com um celular. Como a manutenção do Grupo de CAv geralmente é citada como impeditivo para a diminuição da tabela como um todo, lanço a V.Sas. um desafio: arquitetar um plano de combate a incêndio efetivo que se utilize somente dos militares de serviço. Isso se mostra na prática inviável, pois combater um incêndio com doze ou oito militares dá no mesmo – teremos que disparar o Halon ou chamar a brigada de bombeiros e GSE. Ressalto que a quase totalidade dos incidentes decorre da presença de pessoal a bordo, ou seja, quanto mais gente houver na tabela de serviço, maior será a quantidade de pessoas necessária para cuidar da tabela de serviço. Só haverá incêndio na cozinha se ela for utilizada, incêndio na coberta se esta estiver habitada, rompimento de rede se estiver pressurizada. A manutenção de uma tabela de serviço que pernoite a bordo é a causa mater dos sinistros, e sua diminuição ou extinção alteraria sobremaneira o paradigma do CAv. E, afinal de contas, se CAv fosse tão importante, as tomadas de incêndio não deveriam estar entupidas com Kaol.

COMISSÕES

Sem esquecermos que, dentre as profissões do mar, só os pescadores são mais mal-remunerados do que nós, podemos fazer algumas considerações.. Se é fato que nossa compensação pecuniária é irrisória, então que haja compensação como há na Petrobrás: seja adotada a escala de 15 por 15, pelo menos (ou seja, um dia de licença para cada dia de comissão), sem se falar na escala de 14 por 21 adotada por aquela empresa, que é considerada de vanguarda até no âmbito internacional, e, logicamente, deve possuir uma capacidade administrativa de referência. Realmente somos homens de madeira em navios de ferro, e merecemos descanso depois desta atividade tão ingrata, que é se fazer ao mar, já que nem fazemos jus à compensação orgânica. Seria implausível abrir mão dos militares por tanto tempo? Creio que não, considerando que em cada dia de mar estamos 24h a serviço, período de tempo três vezes superior ao nosso expediente normal. Se a Marinha inventou tantos obstáculos administrativos de modo que uma tripulação operativa não possa se ausentar para ter descanso, que se transfiram essas responsabilidades para uma unidade administrativa, bastando uma alteração em DGPMs, SGMs, ou qualquer outro pedaço de papel. Afinal, alguém deve dar suporte aos nossos militares, ou não?

Sendo o mar um ambiente inóspito por natureza, os tripulantes ainda são obrigados a cumprir expediente entre o enjôo e o serviço, embora o navio esteja em um período dedicado à vida operativa. Um mínimo de descanso e conforto é necessário ao marinheiro para que realize suas tarefas a contento e ajude a diminuir o stress que naturalmente surge em condições de afastamento e confinamento.

Por último, o que considero mais desrespeitoso: obrigar a tripulação a baldear e pintar o navio no dia do regresso de uma comissão, sem ao menos terem tido a chance de verificar como estão seus familiares. A pintura não pode ser - ou transparecer que é - mais importante do que nossas famílias.

ROTINA E ADMINISTRAÇÃO

Consideramos como nossas prioridades administrativas a desburocratização, a impessoalidade (nisto também subentendida a extinção do queromarinst, a mais arbitrária, arcaica e amadora forma de gerência existente), a definição de objetivos claros que devam ser alcançados e de prazos razoáveis a serem cumpridos – todas as nossas tarefas costumam ser “pra ontem”, revelando o descompasso do nosso planejamento organizacional, e o uso racional do dinheiro público. Por isso, não aceitamos pintar o piso para a visita de uma autoridade, ou pintar o navio antes mesmo de atracar, após três meses de comissão, como se retornasse da Terra-do-Nunca: isso é desperdício. Não aceitamos que se sirvam banquetes para autoridades, e depois compensem com semanas servindo macarrão com salsicha para a tripulação: isso é desrespeito. Inclusive, se há a coragem moral nesta Força de que tanto se ouve falar nas Praças d´Armas, então que se sirva para as autoridades extra-MB que visitarem nossas OMs o mesmo rancho que comemos diariamente. Esta é a melhor maneira de protestar pelo corte de nossos recursos. E, que, finalmente, a Marinha entenda que manutenção de limpeza e arrumação não é nossa função constitucional. Enquanto houver Capitães-de-Fragata passando os dedos com luva em cima de armários não poderemos nos concentrar nas tarefas que realmente importam.

Assim como eu chego sem atrasos todo dia, em um horário definido, gostaria que a licença fosse cumprida desta mesma forma. O licenciamento não é um favor, muito menos concessão do comando: é uma obrigação com o militar que já cumpriu seu expediente diário. Não há como solucionar todos os problemas da MB em um único dia (e cabe ressaltar que a maior parte dos nossos problemas são explicitamente gerados pelas idiossincrasias de nossos oficiais superiores e almirantes, que desejam governar este órgão como melhor lhes parecer, satisfazendo suas prioridades pessoais e relevando as da organização). E se for necessário ficar após o horário, que haja compensação noutro dia. Além disso, a maior humilhação à qual me sujeitei durante estes mais de quatro anos de oficial foi suplicar, diariamente, para poder ir embora após cumprir meu expediente. Nós simplesmente não temos que nos despedir, como um ato de educação, mas ficamos atrelados a uma AUTORIZAÇÃO para irmos embora, o que gera um mal-estar horrível após ser repetido duas centenas de vezes, e ainda nos atrasa, em pelo menos, quarenta minutos por dia, tempo médio para vencer as filas dos nossos superiores nas mais diversas instâncias.

Num passe de mágica, algumas autoridades pensam que podem apagar, através de confraternizações, o dia-a-dia estressante que impõem aos oficiais subalternos e intermediários, tornando todos “uma família” imediatamente. Essas confraternizações são marcadas, em geral, fora do horário de expediente, e são compulsórias, tornando-se um prolongamento (realmente longo) deste. Minha geração não troca o convívio de suas famílias por amigos de copo, e amizade verdadeira não exige comparecimento contrariado. Se todos estivessem satisfeitos, o congraçamento seria conseqüência natural. Quando o coquetel é realizado durante o dia, mostra-se mais um revés interessante: passam-se três horas ou mais de expediente no evento, e julga-se que isso não é errado – esse tempo desperdiçado exige, invariavelmente, uma dedicação suplementar para resolver as tarefas negligenciadas. Mas quando é necessário a um oficial sair mais cedo para resolver um problema, ele fica sendo mal visto. Isso é um exemplo clássico da nossa cultura: pode-se matar o expediente para beber, mas não para tratar de nossa vida pessoal.

Como resultado de alguma carência afetiva, certas autoridades ficam nervosas se não receberem o bom dia, ou o boa noite. Esta é uma frivolidade que deve ser encarada da seguinte forma: as pessoas têm coisas mais importantes para fazer do que dar boa noite compulsoriamente umas às outras. Esse evento ocorre naturalmente ao haver um encontro fortuito entre duas pessoas educadas, e não deve ser objeto de recomendações intimidadoras ou ordens de parada.

Por se falar em parada, esta consiste em uma das melhores formas de desperdiçar mão-de-obra. Como se ninguém soubesse sua função na OM, reúnem-se os oficiais para se despacharem ordens geralmente de caráter individual, ou se fazem verdadeiros grupos de discussão sobre assuntos aleatórios e fantásticos, enquanto todas as praças aguardam em formatura. Em suma, a OM fica parada por quase uma hora e depois se estende o expediente após o horário. Definitivamente, isso não é GQT. A parada pode ser feita por e-mail e os assuntos individuais, tratados individualmente...

Assunto grave e delicado: caixa de economias. Se, hoje mesmo, o governo dobrasse nossa etapa de alimentação, melhoraríamos o padrão do nosso rancho ou dobraríamos nossa receita? Se é difícil trabalhar na escassez do orçamento, que se apliquem pelo menos os recursos corretamente na sua previsão legal. Não existem “sobras lícitas”, pois na realidade não há sobras. Esta sobra artificial é criada quando se estipulam metas financeiras a serem atingidas em detrimento da qualidade de vida de nossas tripulações; como, então, exigir comprometimento? Como ser leal com quem nos retira o bife para comprar parafusos, tinta e souvenires para autoridades? Se não há previsão orçamentária para nossas despesas correntes e manutenção dos meios, então que nossos almirantes parem de ter medo de apertar quem se deve, nosso governo (se bem que apertar a própria Força é mais fácil e não arrisca a nomeação para cargos na ONU), e EXIJAM que sejam repassados os recursos necessários. Mas o que vi todos esses anos é que é mais cômodo exigir a excelência dos mais modernos, exaltando a “criatividade”, como ouvi em tantas Ordens do Dia, quando na verdade não existem ferramentas adequadas, computadores em condições de uso ou nem sequer pano para limpeza, que deve ser reaproveitado até depois de rasgado. Esse é o exemplo de coragem e abnegação a ser seguido no Bicentenário de Tamandaré?

Finalmente, o mais grave, por se tratar de crime: química. É inadmissível que se exija dos subordinados que se mascarem notas fiscais a fim de burlar o controle orçamentário que a própria Marinha idealizou e exportou para a Administração Pública com tanto orgulho. É desnecessário me aprofundar neste tema, mas eu alerto a todos que julgam que “os fins justificam os meios” que a grande quantidade de oficiais descontentes que foram aprovados como Analistas do TCU e na Polícia Federal recentemente pode vir a mudar o destino de quem tem grande prazer em resolver os problemas de bordo a qualquer custo, se achando acima da lei, ou que pensa que pode se explicar a um magistrado dizendo que o fez “em prol do serviço”. Oficiais que desejam fazer o que julgam correto são mal vistos e retirados de suas funções para não atrapalharem o “bom” andamento do serviço. E isso também se aplica à venda ilegal de óleo combustível.

Embora não haja espaço nesta carta para citar todos os nossos vícios, como, por exemplo, a forma amadora de condução do reparo de um navio, esses são, no meu ponto de vista, alguns dos principais problemas geradores da desmotivação que se alastra pelos Oficiais Subalternos e Intermediários na Marinha, e são a causa do êxodo que vem ocorrendo. Eles são mutáveis, pois são concernentes à postura das nossas autoridades. A pena que as FFAA e, em especial, a Marinha, pagará, se não corrigir este problema postural, será ter uma lacuna irreparável em seus postos a médio e longo prazo. Se nossos almirantes decidirem descer dos pedestais e encararem a situação como homens valorosos que são, entenderão que este é um momento de guerra e medidas difíceis devem ser tomadas. Entendam: esta Força, como hoje conhecemos, não vai subsistir, nem de um modo, nem de outro. Se essas mudanças não forem feitas agora, as baixas em massa serão cada vez mais freqüentes e mais fortes, e, quando o remanescente da minha geração chegar ao comando, as fará. Se forem tomadas agora, a Marinha se tornará um lugar agradável de se trabalhar e muitos corações que hoje estão inclinados a sair podem retroceder. Não se enganem, existem Aspirantes do 2º ano estudando para concursos, e também Capitães-Tenentes em postos-chave, sendo que a média de espera para aprovação em um concurso é dois anos. É uma decisão a ser tomada rápido, antes que haja um colapso administrativo, e não existe como prender as pessoas com ameaças de indenização de cursos – o que, aliás, é inconstitucional.

É hora de rever as políticas de motivação e de aposentar o “Manual de Liderança da Marinha”: parar de movimentar militares contrariados quando houver voluntários; respeitar a programação de férias que o militar fez com sua família com seis meses de antecedência; não tocar regresso geral fim-de-semana para comparecer a uma regata (teoricamente, isso é lazer); não exigir de todos nós que demos um “jeitinho” quando não houver previsão orçamentária (o famoso “fazer no amor”); não colocar como prioridade do nosso serviço o apito para lanchas de autoridades, sob o risco de receber uma mensagem exigindo apuração do fato; parar de achar que nossa oficialidade vai ter como sonho de vida tão somente esperar talvez ser Almirante dentro de trinta anos. Estas medidas surtirão muito mais efeito na qualidade do nosso trabalho do que qualquer “Programa Netuno”, recém-divulgado, que já nasce com uma incongruência típica: enquanto toda a Administração Pública Federal terá oito anos para sua implementação, a Marinha implementará seu “pacote de qualidade” em um ano, com a famosa fórmula “embrulha e manda”, se valendo do mascaramento de índices e avaliações.

Quanto a mim, sei que vou servir melhor ao meu País no TRE do que na Marinha, porque cansei de servir com amadores. Cansei de jogar dinheiro pelo ralo e de ver boas idéias se perdendo num labirinto de vaidades, priorizando-se limpeza e arrumação ao invés de segurança nacional. Cansei de pertencer a um celeiro de alcoólatras e pais ausentes; terei efetivamente tempo para me dedicar à minha família e viver dignamente, como não faço desde 19 de janeiro de 1998. E se alguém que ler esta carta se propuser a refutar meus argumentos, estarei à disposição, pois nunca fui de me fechar ao debate por uma simples questão hierárquica.

MARCIO DE ABREU PRAÇA CARDOSO
Primeiro-Tenente (RM2)
Analista Administrativo TRE-RJ
E-mail: tenente_cardoso@hotmail.com




 
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